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Esaú e Jacó
Bárbara entrou, enquanto o pai pegou da viola e passou ao patamar de pedra, à porta da esquerda. Era uma criaturinha leve e breve, saia bordada, chinelinha no pé. Não se lhe podia negar um corpo airoso. Os cabelos, apanhados no alto da cabeça por um pedaço de fita enxovalhada, faziam-lhe um solidéu natural, cuja borla era suprida por um raminho de arruda. Já vai nisto um pouco de sacerdotisa. O mistério estava nos olhos. Estes eram opacos, não sempre nem tanto que não fossem também lúcidos e agudos, e neste último estado eram igualmente compridos; tão compridos e tão agudos que entravam pela gente abaixo, revolviam o coração e tornavam cá fora, prontos para nova entrada e outro revolvimento. Não te minto dizendo que as duas sentiram tal ou qual fascinação. Bárbara interrogou-as; Natividade disse ao que vinha e entregou-lhe os retratos dos filhos e os cabelos cortados, por lhe haverem dito que bastava.
– Basta, confirmou Bárbara. Os meninos são seus filhos?
– São.
ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
No relato da visita de duas mulheres ricas a uma vidente no Morro do Castelo, a ironia — um dos traços mais representativos da narrativa machadiana — consiste no
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A senhora manifestava-se por atos, por gestos, e sobretudo por um certo silêncio, que amargava, que esfolava. Porém desmoralizar escancaradamente o marido, não era com ela.[…]
As negras receberam ordem para meter no serviço a gente do tal compadre Silveira: as cunhadas, ao fuso; os cunhados, ao campo, tratar do gado com os vaqueiros; a mulher e as irmãs, que se ocupassem da ninhada. Margarida não tivera filhos, e como os desejasse com a força de suas vontades, tratava sempre bem aos pequenitos e às mães que os estavam criando. Não era isso uma sentimentalidade cristã, uma ternura, era o egoísta e cru instinto da maternidade, obrando por mera simpatia carnal. Quanto ao pai do lote (referia-se ao Antônio), esse que fosse ajudar ao vaqueiro das bestas.
Ordens dadas, o Quinquim referendava. Cada um moralizava o outro, para moralizar-se.
PAIVA, M. O. Dona Guidinha do Poço. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d
No trecho do romance naturalista, a forma como o narrador julga comportamentos e emoções das personagens femininas revela influência do pensamento
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Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos — esqueletos redivivos, com o aspecto terroso e o fedor das covas podres.
Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas.
Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam. Expulsos de seu paraíso por espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrastão dos maus
fados.
Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forçado nomadismo.
Adelgaçados na magreira cômica, cresciam, como se o vento os levantasse. E os braços afinados desciam-lhes aos joelhos, de mãos abanando.
Vinham escoteiros. Menos os hidrópicos — de ascite consecutiva à alimentação tóxica — com os fardos das barrigas alarmantes.
Não tinham sexo, nem idade, nem condição nenhuma. Eram os retirantes. Nada mais.
ALMEIDA, J. A. A bagaceira. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978.
Os recursos composicionais que inserem a obra no chamado “Romance de 30” da literatura brasileira manifestam-se aqui no(a)
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Disponível em: https://tab.uol.com.br/. Acesso em: 25 ago. 2017 (adaptado).
O texto sobre os chamados nativos digitais traz informações com a função de
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Notas
Soluços, lágrimas, casa armada, veludo preto nos portais, um homem que veio vestir o cadáver, outro que tomou a medida do caixão, caixão, essa, tocheiros, convites, convidados que entravam, lentamente, a passo surdo, e apertavam a mão à família, alguns tristes, todos sérios e calados, padre e sacristão, rezas, aspersões d’água benta, o fechar do caixão a prego e martelo, seis pessoas que o tomam da essa, e o levantam, e o descem a custo pela escada, não obstante os gritos, soluços e novas lágrimas da família, e vão até o coche fúnebre, e o colocam em cima e traspassam e apertam as corrêas, o rodar do coche, o rodar dos carros, um a um… Isto que parece um simples inventário, eram notas que eu havia tomado para um capítulo triste e vulgar que não escrevo.
ASSIS, M. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Disponível em: www.domíniopúblico.gov.br. Acesso em: 25 jul, 2022.
O recurso linguístico que permite o Machado de Assis considerar o capítulo de Memórias Póstumas de Brás Cubas como inventário é a:
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Criado há cerca de 20 anos na Califórnia, o mountainboard é um esporte de aventura que utiliza uma espécie de skate off-road para realizar manobras similares às das modalidades de snowboard, surf e do próprio skate. A atividade chegou ao Brasil em 1997 e hoje possui centenas de praticantes, um circuito nacional respeitável e mais de uma dezena de pistas espalhadas pelo país. Segundo consta na história oficial, o mountainboard foi criado por praticantes de snowboard que sentiam falta de praticar o esporte nos períodos sem neve. Para isso, eles desenvolveram um equipamento bem simples: uma prancha semelhante ao modelo utilizado na neve (menor e um pouco menos flexível), com dois eixos bem resistentes, alças para encaixar os pés e quatro pneus com câmaras de ar para regular a velocidade que pode ser alcançada em diferentes condições. Com essa configuração, o esporte se mostrou possível em diversos tipos de terreno: grama, terra, pedras, asfalto e areia. Além desses pisos, também é possível procurar pelas próprias trilhas para treinar as manobras.
Disponível em: www.webventure.com.br. Acesso em: 19 jun. 2019.
A história da prática do mountainboard representa uma das principais marcas das atividades de aventura, caracterizada pela
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Ser cronista
Sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente no assunto.
Crônica é um relato? É uma conversa? É um resumo de um estado de espírito? Não sei, pois antes de começar a escrever para o Jornal do Brasil, eu só tinha escrito romances e contos.
E também sem perceber, à medida que escrevia para aqui, ia me tornando pessoal demais, correndo o risco de em breve publicar minha vida passada e presente, o que não pretendo. Outra coisa notei: basta eu saber que estou escrevendo para jornal, isto é, para algo aberto facilmente por todo o mundo, e não para um livro, que só é aberto por quem realmente quer, para que, sem mesmo sentir, o modo de escrever se transforme. Não é que me desagrade mudar, pelo contrário. Mas queria que fossem mudanças mais profundas e interiores que não viessem a se refletir no escrever. Mas mudar só porque isso é uma coluna ou uma crônica? Ser mais leve só porque o leitor assim o quer? Divertir? Fazer passar uns minutos de leitura? E outra coisa: nos meus livros quero profundamente a comunicação profunda comigo e com o leitor. Aqui no Jornal apenas falo com o leitor e agrada-me que ele fique agradado. Vou dizer a verdade: não estou contente.
LISPECTOR, C. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
No texto, ao refletir sobre a atividade de cronista, a autora questiona características do gênero crônica, como
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Projeto na Câmara de BH quer a vacinação gratuita de cães contra a leishmaniose
A doença é grave e vem causando preocupação na região metropolitana da capital mineira
Ela é uma doença grave, transmitida pela picada do mosquito-palha, e afeta tanto os seres humanos quanto os cachorros: a leishmaniose. Por ser um problema de saúde pública, a doença pode ganhar uma ação preventiva importante, caso um projeto de lei seja aprovado na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH). Diante do alto número de casos da doença na Grande BH, a Comissão de Saúde e Saneamento da CMBH aprovou a proposta de realização de campanhas públicas de vacinação gratuita de cães contra a leishmaniose, tema do PL 404/17, apreciado pelo colegiado em reunião ordinária, no dia 6 de dezembro.
Disponível em: https://www.revistaencontro.com.br/. Acesso em: 11 dez. 2017.
Essa notícia, além de cumprir sua função informativa, assume o papel de
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“Vida perfeita” em redes sociais pode afetar a saúde mental
Nas várias redes sociais que povoam a internet, os chamados digital influencers estão sempre felizes e pregam a felicidade como um estilo de vida. Essas pessoas espalham conteúdo para milhares de seguidores, ditando tendências e mostrando um estilo de vida sonhando por muitos, como o corpo esbelto, viagens incríveis, casas deslumbrantes, carros novos e alegria em tempo integral, algo bem improvável de ocorrer o tempo todo, aponta Carla Furtado, mestre em psicologia e fundadora do Instituto Feliciência.
A problemática pode surgir com a busca incessante por essa felicidade, que gera efeitos colaterais em quem consome diariamente a “vida perfeita” de outros. Daí vem o conceito de positividade tóxica: a expressão tem sido usada para abordar uma espécie de pressão pela adoção de um discurso positivo, aliada a uma vida editada para as redes sociais. Para manter a saúde mental e evitar ser atingido pela positividade tóxica, o uso racional das redes sociais é o mais indicado, aconselha a médica psiquiatra Renata Nayara Figueiredo, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr).
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso em: 21 nov. 2021 (adaptado).
Associada ao ideário de uma “vida perfeita”, a positividade tóxica mencionada no texto é um fenômeno social recente, que se constitui com base em
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EL GRECO. Laocoonte. Óleo sobre tela, 1,37cm x 1,72cm.
National Gallery of Art, Washington, Estados Unidos, circa 1610-1614. Disponível em: https://images.nga.gov. Acesso em: 28 jun 2019 (adaptado).
Essa impressionante obra apresenta o sacerdote Laocoonte sendo punido pelos deuses por tentar alertar os troianos da ameaça do Cavalo de Troia, que escondia um grupo de soldados gregos. Enviadas pelos deuses, serpentes marinhas são vistas matando Laocoonte e seus dois filhos como forma de punição.
KAY, A. In: FARTHING, S. (Org.). Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011 (adaptado).
Produzida no início do século XVII, a obra maneirista distingue-se pela
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