Questão 29230

Leia atentamente o texto abaixo para responder à(s) questão(ões).

 

Ao vencedor, as batatas

 

O repórter para assuntos de ciências Marcelo Leite, numa de suas colunas de jornal, publicou matéria sob o título de “Ao vencedor, as batatas”. Essa frase sintética adquiriu fama a partir do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, onde a certa altura se lê: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas” – com isso lembrando o romancista a seus leitores que, na vida, é implacável a batalha humana pelas “batatas” (ou seja: pela sobrevivência física, pelo dinheiro, pelo sucesso, pela promoção etc.). Já em seu texto, o jornalista toma as “batatas” em sentido literal, e tem informações interessantes:

“Ao vencedor as batatas... e tomates, milho, chocolate, mandiocas, abacaxis, morangos, mamões, abacates etc. A chegada dos 1conquistadores europeus às Américas, no século 15, deu início ao que cinco séculos depois se 2chamaria globalização. Os 3portugueses, com 4seus hortos e jardins de aclimação, deram a largada num 5intercâmbio vegetal que continua até hoje. 6Já se acreditou que as 7batatas fossem naturais da 8Irlanda9: esses 10tubérculos eram tão cruciais para a segurança alimentar daquele 11país no século 19 que a doença causada pelo fungo 12Phytophthora infestans arrasou plantações das quais dependiam dois quintos da população. 13A tragédia de 1845 ficou conhecida como Grande Fome... Mas por mais importante que fosse para a Irlanda e a Europa em geral, a batata não se originou por lá. A batata, ou a 14Solanum tuberosum, foi 15domesticada nos Andes, milênios antes do conquistador Francisco Pizarro.”

Durante as agruras da Segunda Guerra, muita gente 16sobreviveu em meio à fome 17valendo-se das batatas do quintal, tesouro enterrado capaz de nutrir e de salvar vidas. 18Essa importância 19transportou a batata da condição de tubérculo fundamental para símbolo das magnas recompensas. A frase de Machado de Assis 20merece ser entendida em suas várias acepções simbólicas. Para Júlio César, Napoleão Bonaparte e Hitler, as batatas seriam o poder absoluto; para os físicos Galileu, Newton e Einstein, seriam o conhecimento dos princípios que regem o universo; para os líderes revolucionários, franceses ou russos, a entrada numa nova ordem política e social; para a Revolução Industrial, a mecanização potenciada do trabalho; para Darwin, a teoria da evolução das espécies com base em sua adaptabilidade ao meio.

21Também não há artista que não tenha suas batatas no horizonte. 22Ao que tudo indica, as inscrições rupestres nas cavernas da Pré-história eram também lições para o sucesso na caça de alimentos; o mármore grego, trabalhado pelos escultores, ia atrás do equilíbrio, da simetria, das formas perfeitas, 23princípios a serem retomados e revalorizados no Renascimento e no Iluminismo. 24Os românticos tomavam o extremo de suas paixões como motivo para um viver e um morrer com os sentimentos mais exacerbados. No século XX, o cinema tomou para si a tarefa de documentar os lances da vida real ou das aventuras imaginárias como narrativas por meio de imagens. 25Também nesse mesmo século, e alcançando o nosso, 26a tecnologia e as ciências aplicadas desenvolveram-se numa progressão jamais vista: os nascidos de hoje têm como batatas o último game, a digitalização organizando uma nova concepção de tempo, 27a conectividade a distância promovendo a proximidade − às vezes, intimidade − virtual. 28Não sabemos que batatas se anunciam no horizonte imediatamente próximo.

Mas a frase de Machado de Assis 29tinha mais coisas a dizer: não falava apenas dos vitoriosos, 30que ganham e desfrutam as batatas; falava também dos vencidos, que sucumbiam na luta por elas. 31Lá estão os escravos egípcios, gregos, romanos e de todas as épocas levantando 32os grandes templos, os suntuosos monumentos, os edifícios altíssimos; o trabalho anônimo, com seu sofrimento, foi sempre a escora invisível das grandes riquezas, do luxo, do conforto. Lá foram os soldados para todas as guerras defender com a vida grandes interesses econômicos e políticos ameaçados. Vendo as multidões apressadas das metrópoles modernas, as trágicas migrações coletivas, os exilados das guerras e da fome, tem-se a certeza de que não há batatas para todos – 33ao menos enquanto houver aqueles que as querem todas para si. A infelicidade dos vencidos tem sido, ao longo da história, o 34tributo prestado a quem se farta com as batatas. Menos mal que haja ainda os que fazem crer, com seu empenho nas artes, nas ciências, no 35ativismo político afirmativo, na possibilidade de que acima de vencedores e vencidos surja a oportunidade histórica de que o homem seja capaz de moderar seus anseios para que os bens da vida humana alcancem a melhor distribuição possível.

 

Péricles Eugênio Tavares, inédito.


 

1. (Puccamp 2017)  Marcelo Leite, citado no texto de Péricles Eugênio Tavares, diz que a batata foi domesticada nos Andes, milênios antes do conquistador Francisco Pizarro.

Entre as populações andinas havia uma antiga instituição, posteriormente aproveitada pelo colonizador espanhol: a mita, que

A

era o tipo de exploração do trabalho servil no comércio de ouro e prata dos astecas.

B

foi criada pelos maias para controlar a economia de base na produção agrícola do milho.

C

era a obrigação de prestar trabalho aos chefes, aos deuses locais e aos incas.

D

foi criada pelos incas para controlar as reserva de água potável e proteger a área de minas.

E

era a forma de trabalho na produção mineral adotada pelos chefes locais dos olmecas.

Gabarito:

era a obrigação de prestar trabalho aos chefes, aos deuses locais e aos incas.



Resolução:



Questão 1817

(PUC-SP-2001)

A QUESTÃO É COMEÇAR

Coçar e comer é só começar. Conversar e escrever também. Na fala, antes de iniciar, mesmo numa livre conversação, é necessário quebrar o gelo. Em nossa civilização apressada, o “bom dia”, o “boa tarde, como vai?” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol.

No escrever também poderia ser assim, e deveria haver para a escrita algo como conversa vadia, com que se divaga até encontrar assunto para um discurso encadeado. Mas, à diferença da conversa falada, nos ensinaram a escrever e na lamentável forma mecânica que supunha texto prévio, mensagem já elaborada. Escrevia-se o que antes se pensara. Agora entendo o contrário: escrever para pensar, uma outra forma de conversar. Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a certos rituais.

Fomos induzidos a, desde o início, escrever bonito e certo. Era preciso ter um começo, um desenvolvimento e um fim predeterminados. Isso estragava, porque bitolava, o começo e todo o resto. Tentaremos agora (quem? eu e você, leitor) conversando entender como necessitamos nos reeducar para fazer do escrever um ato inaugural; não apenas transcrição do que tínhamos em mente, do que já foi pensado ou dito, mas inauguração do próprio pensar. “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve antes, o leitor lê depois.” “Não!”, lhe respondo, “Não consigo escrever sem pensar em você por perto, espiando o que escrevo.

Não me deixe falando sozinho.” Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com interlocutores invisíveis, imprevisíveis, virtuais apenas, sequer imaginados de carne e ossos, mas sempre ativamente presentes. Depois é espichar conversas e novos interlocutores surgem, entram na roda, puxam assuntos. Termina-se sabe Deus onde.

 

(MARQUES, M.O. Escrever é Preciso, Ijuí, Ed. UNIJUÍ, 1997, p. 13).

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Observe a seguinte afirmação feita pelo autor:

“Em nossa civilização apressada, o “bom dia”, o “boa tarde” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol.”

Ela faz referência à função da linguagem cuja meta é “quebrar o gelo”.

Indique a alternativa que explicita essa função.

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Questão 1833

(Pucpr 2004)

"Aula de Português"

 

A linguagem na ponta da língua,

tão fácil de falar e de entender.

A linguagem na superfície estrelada das estrelas,

sabe lá o que ela quer dizer?

 

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boitempo. In: "Poesia e Prosa". Rio: Nova Aguilar,1988.) 

 

 

Em relação às duas estrofes do poema "Aula de Português", de Carlos Drummond de Andrade, assinale a alternativa INCORRETA: 

 

 

 

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Questão 1838

(Puccamp 2016) Comenta-se corretamente sobre o que se tem no trecho.

 

A questão a seguir refere-se ao trecho do capítulo 2 da obra Ginástica doce e yoga para crianças: método La Douce.

 

CAPÍTULO 2 (O CORPO)

Conhecer bem o corpo para fazê-lo trabalhar melhor

Cinco extremidades: a cabeça, as mãos, os pés

Para comunicar-se com tudo que a cerca, a criança usa a cabeça, as duas mãos e os dois pés. A cabeça permite-lhe ter acesso a todas as informações disponíveis. Sede do cérebro, ela fornece os recursos necessários para bem compreender seu ambiente. É igualmente através desta parte do corpo que penetram duas fontes de energia: o ar e o alimento. A cabeça se articula através do pescoço. Corredor estreito entre o cérebro e a parte inferior do corpo, o pescoço deve ser flexível para facilitar a qualidade das trocas. As mãos e os pés são verdadeiras antenas. Sua riqueza em terminações nervosas e vasos sanguíneos, assim como a possibilidade das inúmeras articulações, fazem deles instrumentos de extraordinária precisão.

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Questão 1868

(Puccamp 2016)

Editorial

Na rotina de mãe de quatro filhos, a escritora israelense Ayelet Waldman começou a detectar em si mesma e em outras mães que conhecia uma ansiedade persistente, disparada pela frustração de não corresponder às próprias expectativas em relação à maternidade. Para piorar seu tormento, 1aonde quer que fosse, encontrava mulheres sempre prontas a apontar o dedo para seus defeitos, numa espécie de polícia materna, onipresente e onisciente. Em uma conversa deliciosa com a Revista em Dia, Ayelet discorre sobre as agruras das mães ruins, categoria na qual hoje se encaixa, e com orgulho. 2E ajuda a dissipar, com humor, o minhocário que não raro habita a cabeça das mães. Minhocário que, aliás, se não for bem administrado, pode levar a problemas muito mais sérios. 3É o que você verá na reportagem da página 14, que traz o foco para a depressão durante a gravidez. Poucos sabem, mas a doença pode ser deflagrada nessa fase e é bom que tanto as gestantes como outras pessoas ao redor fiquem atentas para que as mulheres nessa situação possam receber o apoio necessário. A revista também traz temas para quem a maternidade já é assunto menos relevante 4nesse momento da vida. Se você é daquelas que entraram ou consideram entrar na onda da corrida, terá boas dicas na página 18. 5Caso já esteja reduzindo o ritmo, quem sabe encontre inspiração para espantar a monotonia na crônica da página 8. Esperamos, com um grãozinho aqui, outro ali, poder contribuir um pouco para as várias facetas que compõem uma mulher saudável e de bem consigo mesma.

Comenta-se com correção:

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