(UFSCar - 2007)
Monsenhor Caldas interrompeu a narração do desconhecido:
- Dá licença? é só um instante.
Levantou-se, foi ao interior da casa, chamou o preto velho que o servia, e disse-lhe em voz baixa:
- João, vai ali à estação de urbanos, fala da minha parte ao comandante, e pede-lhe que venha cá com um ou dois homens, para livrar-me de um sujeito doido. Anda, vai depressa.
E, voltando à sala:
- Pronto, disse ele; podemos continuar.
- Como ia dizendo a Vossa Reverendíssima, morri no dia vinte de março de 1860, às cinco horas e quarenta e três minutos da manhã. Tinha então sessenta e oito anos de idade. Minha alma voou pelo espaço, até perder a terra de vista, deixando muito abaixo a lua, as estrelas e o Sol; penetrou finalmente num espaço em que não havia mais nada, e era clareado tão-somente por uma luz difusa. Continuei a subir, e comecei a ver um pontinho mais luminoso ao longe, muito longe. O ponto cresceu, fez-se sol. Fui por ali dentro, sem arder, porque as almas são incombustíveis. A sua pegou fogo alguma vez?
- Não, senhor.
- São incombustíveis. Fui subindo, subindo; na distância de quarenta mil léguas, ouvi uma deliciosa música, e logo que cheguei a cinco mil léguas, desceu um enxame de almas, que me levaram num palanquim feito de éter e plumas.
(Machado de Assis, A segunda vida. Obras Completas, vol. II, p. 440-441.)
A frase "desceu um enxame de almas", no último parágrafo, tem o sujeito posposto. Assinale a alternativa em que o sujeito também aparece posposto.
De um atentado, um soldado consegue salvar seu companheiro.
Segunda-feira faltou, de novo, um pouco de tinta de impressão.
No salão de Paris, há um Audi com motor de 4,2 litros.
Ler biografia de homens célebres é bastante útil.
O mercado financeiro recebeu bem a inclusão das ações do Bradesco.
Gabarito:
Segunda-feira faltou, de novo, um pouco de tinta de impressão.
Sujeito posposto é aquele que está na ordem inversa, ou seja, fica depois do verbo. Dessa maneira, vamos analisar cada sentença e ver qual possui essa ordem sintática:
a) Alternativa incorreta. Nessa alternativa, o sujeito é ativo (um soldado) e está antes do verbo, em sua posição comum, não se qualificando como posposto.
b) Alternativa correta. O sujeito do verbo faltou é um pouco de tinta de impressão. Na ordem direta essa relação fica mais clara: "Um pouco de tinta de impressão faltou de novo na segunda-feira". Perceba que um pouco de tinta de impressão é o sujeito e que na forma original ele está colocado depois do verbo faltou: Segunda-feira faltou, de novo, um pouco de tinta de impressão.
c) Alternativa incorreta. O verbo haver no sentido de existir é impessoal e, portanto, não possui sujeito em nenhuma posição.
d) Alternativa incorreta. O trecho ler biografia de homens célebres é o sujeito do verbo ser e está em sua posição regular.
(UFSCar - 2000)
Tu amarás outras mulheres
E tu me esquecerás!
É tão cruel, mas é a vida. E no entretanto
Alguma coisa em ti pertence-me!
Em mim alguma coisa és tu.
O lado espiritual do nosso amor
Nos marcou para sempre.
Oh, vem em pensamento nos meus braços!
Que eu te afeiçoe e acaricie...
(Manuel Bandeira: A Vigília de Hero. In: O ritmo dissoluto. Poesia completa e prosa.
2ª ed. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967, p. 224.)
Manuel Bandeira usa, no poema, os pronomes pessoais com muitas variações. O pronome pessoal de primeira pessoa do singular, por exemplo, está empregado na sua forma reta e nas formas oblíquas (eu, me, mim). O mesmo acontece com o pronome pessoal de
Ver questão
(Ufscar 2003)
A questão adiante baseiam-se no poema épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do qual se reproduzem, a seguir, três estrofes.
Mas um velho, de aspeito venerando, [= aspecto) Que ficava nas praias, entre a gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós no mar ouvimos claramente, C'um saber só de experiências feito, Tais palavras tirou do experto peito:
"Ó glória de mandar, ó vã cobiça Desta vaidade a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C'uma aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas!
Dura inquietação d'alma e da vida Fonte de desamparos e adultérios, Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios! Chamam-te ilustre, chamam-te subida, Sendo digna de infames vitupérios; Chamam-te Fama e Glória soberana, Nomes com quem se o povo néscio engana."
Entre os versos "Chamam-te ilustre, chamam-te subida, / Sendo digna de infames vitupérios", a relação que se estabelece é de:
(Ufscar 2003)
A questão adiante baseiam-se no poema épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do qual se reproduzem, a seguir, três estrofes.
Mas um velho, de aspeito venerando, [= aspecto) Que ficava nas praias, entre a gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós no mar ouvimos claramente, C'um saber só de experiências feito, Tais palavras tirou do experto peito:
"Ó glória de mandar, ó vã cobiça Desta vaidade a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C'uma aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas!
Dura inquietação d'alma e da vida Fonte de desamparos e adultérios, Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios! Chamam-te ilustre, chamam-te subida, Sendo digna de infames vitupérios; Chamam-te Fama e Glória soberana, Nomes com quem se o povo néscio engana."
Os versos de Camões foram retirados da passagem conhecida como "O Velho do Restelo". Nela, o velho
Ver questão
(UFSCAR - 2004)
O pregar há-de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja.
Ordenado, mas como as estrelas. (...) Todas as estrelas estão por sua ordem; mas é ordem que faz influência, não é ordem que faça lavor. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras.
Se de uma parte há-de estar branco, da outra há-de estar negro; se de uma parte está dia, da outra há-de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão-de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão-de dizer subiu.
Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão-de estar sempre em fronteira com o seu contrário? Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras.
(Vieira, Sermão da Sexagésima.)
No texto, Vieira critica um certo estilo de fazer sermão, que era comum na arte de pregar dos padres dominicanos da época. O uso da palavra "xadrez" tem o objetivo de
Ver questão