(ENEM PPL - 2016)
Apuram o passo, por entre campinas ricas, onde pastam ou ruminam outros mil e mais bois. Mas os vaqueiros não esmorecem nos eias e cantigas, porque a boiada ainda tem passagens inquietantes: alarga-se e recomprime-se, sem motivo, e mesmo dentro da multidão movediça há giros estranhos, que não os deslocamentos normais do gado em marcha — quando sempre alguns disputam a colocação na vanguarda, outros procuram o centro, e muitos se deixam levar, empurrados, sobrenadando quase, com os mais fracos rolando para os lados e os mais pesados tardando para trás, no coice da procissão.
– Eh, boi lá!... Eh-ê-ê-eh, boi!... Tou! Tou! Tou...
As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos e guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão...
"Um boi preto, um boi pintado,
cada um tem sua cor.
Cada coração um jeito
de mostrar seu amor".
Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando... Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito...
Vai, vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando...
ROSA J. G. O burrinho pedrês. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968.
Próximo do homem e do sertão mineiros, Guimarães Rosa criou um estilo que ressignifica esses elementos. O fragmento expressa a peculiaridade desse estilo narrativo, pois
demonstra a preocupação do narrador com a verossimilhança.
revela aspectos de confluência entre as vozes e os sons da natureza.
recorre à personificação dos animais como principal recurso estilístico.
produz um efeito de legitimidade atrelada à reprodução da linguagem regional.
expressa o fluir do rebanho e dos peões por meio de recursos sonoros e lexicais.
Gabarito:
expressa o fluir do rebanho e dos peões por meio de recursos sonoros e lexicais.
A) INCORRETA: o fator de singularidade de Guimarães Rosa não é somente a verossimilhança. É possível perceber que ao longo dos séculos, muitos autores e poetas buscaram compor em suas obras a verossimilhança por diversas razões. Há de fato uma preocupação do autor em relação a ela, mas, acima disso tudo, ele busca incorporar elementos do imaginário e da cultura mineira da década de 30 à sua obra, para refletir a sociedade daquele tempo de modo mais preciso.
B) INCORRETA: No excerto, as "vozes" são as vozes dos vaqueiros, que, segundo o narrador "não esmorecem nos eias e cantigas". O que expressa, então, as vozes do "homem do sertão" são, apenas, as passagens "– Eh, boi lá!... Eh-ê-ê-eh, boi!... Tou! Tou! Tou..." e a cantiga "Um boi preto, um boi pintado,/cada um tem sua cor. (...)". Aqui, não percebemos um jogo sonoro que necessariamente aproxime os falares a sons da natureza, são, na verdade, formas bem "humanas" de tocar uma boiada e passar o tempo nessa situação.
C) INCORRETA: não é a personificação dos animais que dá o teor dessa narrativa singularizante, mas o modo que são descritos os sentimentos e ações, por meio de alternativas fonéticas que tenham traços de um rebanho é, de fato, a mais importante técnica empregada.
D) INCORRETA: O contexto produz um efeito de legitimidade atrelada à reprodução de um modo de vida regional, como o exemplificado nesse trecho: "e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão..." E não de linguagem, pois, mesmo que se faça o uso de onomatopeias como "Tou! Tou! Tou!", não há variantes regionais, além de que o recurso à variedade linguística não é uma técnica de singularização da obra rosiana, diferente do teor poético e sonoro que esta apresenta.
E) CORRETA: O fragmento do conto “O burrinho pedrês” exemplifica uma das características do estilo inovador de Guimarães Rosa ao abolir as fronteiras entre prosa e poesia. O texto narrativo em prosa apresenta inúmeras características que se costumam considerar próprias da poesia, como o uso da pontuação para marcar ritmo, das assonâncias e aliterações, entre outras. A partir do segundo parágrafo, o narrador descreve o início da marcha do gado através de frases que, separadas por vírgulas, apresentam cinco sílabas métricas, para depois imprimir velocidade ao movimento através de frases com três: “as-an-cas- ba-lan(çam/ eas-va-gas-eos-dor(sos)/ das-va-cas-e-tou(ros)/ ba-ten-do-cõas- cau(das)” e “boi- bem- bra(vo)/ba-te- bai(xô)/ bo-ta- ba(ba)/boi- be-rran(do)”. Também as assonâncias (“As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas) e aliterações em b, d e v estão presentes na descrição: Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando... Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito... Vai, vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando...). Assim, é correta a opção [E].
(Enem PPL 2014) Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou com a quantidade de erros existentes nas placas das casas comerciais e que, diante disso, resolveu instituir um prêmio em dinheiro para o comerciante que tivesse o nome de seu estabelecimento grafado corretamente. Dias depois, Rui Barbosa saiu à procura do vencedor. Satisfeito, encontrou a placa vencedora: “Alfaiataria Águia de Ouro”. No momento da entrega do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa foi interrompido pelo alfaiate premiado, que disse: – Sr. Rui, não é “águia de ouro”; é “aguia de ouro”!
O caráter político do ensino de língua portuguesa no Brasil. Disponível em: http://rosabe.sites.uol.com.br. Acesso em: 2 ago. 2012.
A variação linguística afeta o processo de produção dos sentidos no texto. No relato envolvendo Rui Barbosa, o emprego das marcas de variação objetiva
(ENEM PPL - 2010)
Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral dos nordestinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino fala igual; contudo as variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes do que se imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo mundo ri, porque parece impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo de Quixeramobim. O pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais em al ou el – carnavau, Raqueu... Já os paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.
Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998 (fragmento adaptado).
Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de pessoas de diferentes regiões. As características regionais exploradas no texto manifestam-se
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(ENEM PPL - 2010)
AMARAL, Tarsila do. O mamoeiro. 1925, óleo sobre tela, 65x70, IEB/USP.
O modernismo brasileiro teve forte influência das vanguardas europeias. A partir da Semana de Arte Moderna, esses conceitos passaram a fazer parte da arte brasileira definitivamente. Tomando como referência o quadro O mamoeiro, identifica-se que nas artes plásticas, a
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