Questão 40569

(UFU - 2006)

Analise a seguinte afirmação de Maquiavel.

“Eu sei que cada qual reconhecerá que seria muito de louvar que um príncipe possuísse, entre todas as qualidades referidas, as que são tidas como boas; mas a condição humana é tal, que não consente a posse completa de todas elas, nem ao menos a sua prática consistente; é necessário que o príncipe seja tão prudente que saiba evitar os defeitos que lhe arrebatariam o governo e praticar qualidades próprias para lhe assegurar a posse deste, se lhe é possível; mas, não podendo, com menor preocupação, pode-se deixar que as coisas sigam seu curso natural.”

MAQUIAVEL, N. O príncipe. Trad. de Lívio Xavier. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 64.

Assinale a alternativa correta.

A

O príncipe é um homem de virtú, que deve voltar o seu ânimo para a direção que a fortuna o impelir, pois a conquista e a conservação do Estado podem implicar ações más.

B

O príncipe é um estadista sem princípios, cujas ações são destituídas de qualquer valor de conduta, dando vazão às suas paixões sem levar em conta o bem-estar do povo.

C

O príncipe pode fazer aquilo que bem entender, pois a maior virtude do governante é a capacidade de provocar o ódio dos súditos, que são violentamente reprimidos pela força das armas.

D

O príncipe não precisa praticar a piedade, a fidelidade, a humanidade, pode até desprezar a devoção religiosa, não precisando nem mesmo aparentá-las em suas ações.

Gabarito:

O príncipe é um homem de virtú, que deve voltar o seu ânimo para a direção que a fortuna o impelir, pois a conquista e a conservação do Estado podem implicar ações más.



Resolução:

a) Correta. O príncipe é um homem de virtú, que deve voltar o seu ânimo para a direção que a fortuna o impelir, pois a conquista e a conservação do Estado podem implicar ações más.
O conceito de virtú não está ligado ao seu sentido tradicional, ligado à moral, à ética e ao bem, mas ao conceito de técnica, habilidade; nesse sentido, virtú é melhor entendida como uma determinada capacidade, uma habilidade que o princípe deve ter. E esse capacidade é a de dominar a fortuna. Fortuna, aqui, pode ser entendida como o acaso, o que é meramente contingencial. Isto é, a virtude é a capacidade do princípe em controlar o acaso. Maquiavel, como um pensador pragmatista, adequa a sua filosofia à realidade como ela se apresenta, sem idealidades. Nesse sentido, a virtude é a habilidade do princípe em se adequar às circunstâncias como estas se apresentam, sem apresentar idealidades éticas, morais ou de poder, a fim de estabelecer o seu poder a partir das circunstâncias.
 

b) Incorreta. O príncipe é um estadista sem princípios, cujas ações são destituídas de qualquer valor de conduta, dando vazão às suas paixões sem levar em conta o bem-estar do povo.
O príncipe não deve ser um estadista sem princípios, pois o exercício da política deve ser orientado pelas circunstâncias. Ao contrário, esse tipo de postura pode favorecer a rebelião, a qual pode trazer muitos problemas para a manutenção do poder do príncipe.

c) Incorreta. O príncipe pode fazer aquilo que bem entender, pois a maior virtude do governante é a capacidade de provocar o ódio dos súditos, que são violentamente reprimidos pela força das armas.
virtú não é o exercício desmedido da força e da brutalidade do poder político sobre o povo, mas o domínio da fortuna, a adequação às circunstâncias, por um tipo de pragmatismo.

d) Incorreta. O príncipe não precisa praticar a piedade, a fidelidade, a humanidade, pode até desprezar a devoção religiosa, não precisando nem mesmo aparentá-las em suas ações.
Não existe uma necessidade intrínseca no poder político que implique na relação com a ética, mas também não desemboca no desprezo à moral.



Questão 2399

(UFU/MG)

Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado [...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
− Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.

Em relação aos versos citados do poema “Poética” e à obra Libertinagem, de Manuel Bandeira, marque a assertiva INCORRETA.

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Questão 2545

 (UFU-2006) Leia o trecho seguinte, de Triste fim de Policarpo Quaresma, que reproduz um diálogo de Ricardo Coração dos Outros com Quaresma e D. Adelaide.

“Oh! Não tenho nada novo, uma composição minha. O Bilac conhecem? (...)quis fazer-me uma modinha, eu não aceitei; você não entende de violão, Seu Bilac.

A questão não está em escrever uns versos certos que digam coisas bonitas; o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja. (...)

(...) vou cantar a Promessa, conhecem? Não disseram os dois irmãos. (...)h! Anda por aí como as ‘Pombas’ do Raimundo.”

 

Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma.

 

Parta do trecho lido para marcar a alternativa INCORRETA.

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Questão 3019

(Ufu 2016)  O jardim já vai se desmanchando na escuridão, mas Cristina ainda vê uma gravata (cinzenta?) saindo do bolso vermelho. Quer gritar de novo, mas a gravata cala a boca do grito, e já não adianta o pé querer se fincar no chão nem a mão querer fugir: o Homem domina Cristina e a mão dele vai puxando, o joelho vai empurrando, o pé vai castigando, o corpo todinho dele vai pressionando Cristina pra mata. Derruba ela no chão. Monta nela. O escuro toma conta de tudo.

O Homem aperta a gravata na mão feito uma rédea. Com a outra mão vai arrancando, vai rasgando, se livrando de tudo que é pano no caminho.

Agora o Homem é todo músculo. Crescendo.

Só afrouxa a rédea depois do gozo.

Cristina mal consegue tomar fôlego: já sente a gravata solavancando pro pescoço e se enroscando num nó. Que aperta. Aperta mais. Mais.

 

BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014. p. 82

 

 

Instantes derradeiros de O abraço, a passagem narra encontro de Cristina com o ‘Homem’. Levando-se em conta o enredo da obra até seu desenrolar nesses momentos finais, Cristina

 

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Questão 3021

(UFU - 2016 - 1ª FASE)

 

DIONISOS DENDRITES

Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas

Ramos nascem de seu peito

Pés percutem a pedra enegrecida

Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.

 

Acorre o vento ao círculo demente

O vinho espuma nas taças incendiadas.

Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços

Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas

E o vaticínio do tumulto à Noite –

Chegada do inverno aos lares

Fim de guerra em campos estrangeiros.

 

As bocas mordem colos e flancos desnudados:

À sombra mergulham faces convulsivas

Corpos se avizinham à vida fria dos valados

Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.

Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos

Mergulham no vórtice da festa consagrada.

 

E quando o Sol o ingênuo olhar acende

Um secreto murmúrio ata num só feixe

O louro trigo nascido das encostas.

 

SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.

 

Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse resgate do mito do deus Dionisos, o verso  

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