UNB 2010
Entramos no quarto. Encurvada em semicírculo sobre o leito, outra criatura que não a minha avó, uma espécie de animal que se tivesse disfarçado com os seus cabelos e deitado sob os seus lençóis, arquejava, gemia, sacudia as cobertas com as suas convulsões. As pálpebras estavam fechadas, e era porque fechavam mal, antes que porque se abrissem, que deixavam ver um canto da pupila, velado, remeloso, refletindo a obscuridade de uma visão orgânica e de um sofrimento interno.
Quando meus lábios a tocaram, as mãos de minha avó agitaram-se, ela foi percorrida inteira por um longo frêmito, ou reflexo, ou porque certas afeições possuam a sua hiperestesia, que reconhece, através do véu da inconsciência, aquilo que elas quase não têm necessidade dos sentidos para querer. Súbito, minha avó ergueu-se a meio, fez um esforço violento, como alguém que defende a própria vida. Françoise não pôde resistir, ao vê-lo, e rompeu em soluços. Lembrando-me do que o médico havia dito, quis fazê-la sair do quarto. Nesse momento, minha avó abriu os olhos. Precipitei-me sobre Françoise para lhe ocultar o pranto, enquanto meus pais falassem à enferma. O ruído do oxigênio calara-se, o médico afastou-se do leito. Minha avó estava morta.
A vida, retirando-se, acabava de carregar as desilusões da vida. Um sorriso parecia pousado nos lábios de minha avó. Sobre aquele leito fúnebre, a morte, como o escultor da Idade Média, tinha-a deitado sob a aparência de menina e moça.
Marcel Proust. Em busca do tempo perdido: o caminho de Guermantes. vol. 3, 3ª ed. rev. Trad. Mario Quintana. São Paulo: Globo, 2006, p. 376-7 (com adaptações).
Para Sartre, os seres dividem-se em seres-em-si e seres-para-si. Os seres-em-si não possuem, segundo esse filósofo, consciência, ao passo que os seres-para-si são dotados de uma consciência que lhes possibilita constituírem-se sempre como projeto, pelo qual dirigem seu presente a partir de sua liberdade. Com base na divisão sartreana entre seres-em-si e seres-para-si e suas relações com a temporalidade, a vida e a morte, verifica-se, na passagem do texto de Proust apresentada, que
a personagem acamada, a despeito de ser, quando ainda viva, Biologicamente um ser humano, não é mais um ser-para-si na situação narrada.
a transição do ser-para-si ao ser-em-si só ocorre, efetivamente, com a morte biológica da personagem acamada, uma vez que a temporalidade do ser-em-si é a de um eterno presente.
a noção de vida e a de morte que perpassam a descrição do estado da personagem acamada ocupam, respectivamente, os lugares semânticos de ser-para-si e ser-em-si.
a proposição de Sartre de que “o ser humano não pode não ser livre” estabelece uma relação de subordinação entre sua concepção do que é um ser humano e a concepção biológica desse conceito.
Gabarito:
a personagem acamada, a despeito de ser, quando ainda viva, Biologicamente um ser humano, não é mais um ser-para-si na situação narrada.
A) Correta. A personagem acamada já havia deixado de ser um ser-para-si, uma vez que ela encontrava-se em seus últimos momentos de vida, praticamente reagindo a estímulos agonizantes, logo, não detinha mais uma essência que refletia-se num projeto de si, mas sim, pura existência.
B) Incorreta. A transição do ser-para-si para um ser-em-si pode ocorrer no momento em que um indivíduo deixar de entender-se como um projeto de existência, autodeterminada e consciente de si, e não somente com a morte biológica.
C) Incorreta. A personagem acamada no excerto da questão, mesmo biologicamente viva, já não podia mais ser considerada um ser-para-si, uma vez que ela apenas reagia a estímulos agonizantes, não exercendo mais controle de si mesma.
D) Incorreta. A proposição filosófica de Sartre não atravessa a definição biológica do conceito de ser humano.
(Unb 1998) Às 9 h 25 min de 2 de novembro de 1997, foi feito o lançamento do foguete brasileiro VLS-1 (veículo lançador de satélites). Devido a falha na ignição de um dos seus motores, 65 s após o lançamento, o VLS-1 teve de ser destruído, momento em que se encontrava à altura de 3.230 m do solo e desenvolvia uma velocidade de 720 km/h, com inclinação de 25° em relação à horizontal. Até os 25 s de voo, o sistema de controle do foguete conseguiu compensar as 7 toneladas de combustível não-ejetadas que permaneciam intactas no motor inativo, desequilibrando o foguete. A compensação foi feita, movimentando-se as tubeiras - cones que ficam abaixo dos motores dirigindo suas descargas -, ou seja, alterando-se a direção da força exercida pelos motores do foguete. Globo Ciência, fevereiro de 1998, p. 40-3 (com adaptação).
Em relação à situação descrita no texto e referindo-se à figura adiante, todas as afirmativas estão corretas, exceto:
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(UNB 2012) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
O circuito elétrico ilustrado acima permite modelar a descarga elétrica produzida por um peixe elétrico. Esse circuito é formado por uma fem ε, um capacitor de capacitância C e uma resistência interna r. A parte externa é representada pelo capacitor ligado a um resistor de resistência R, o qual representa um objeto que eventualmente sofre uma descarga do peixe elétrico. Quando a chave A é fechada, o capacitor carrega-se, se estiver descarregado. Nesse caso, a carga q armazenada no capacitor em função do tempo é dada por
O capacitor, quando está completamente carregado, com a chave A aberta e a chave B fechada, descarrega-se. Nesse caso, a carga q armazenada no capacitor, em função do tempo, é expressa por
Considere que a fem do circuito em questão seja dada pela função V = V(t) = α sen βt + γ, 0 ≤ t ≤ 8, cujo gráfico é ilustrado acima. Nesse caso, o valor de α × β × γ é igual a
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Os anti-inflamatórios não esteroides (AINE) constituem um grupo de fármacos com capacidade de controlar a inflamação, promover analgesia e combater a hipertermia. Essa classe heterogênea de fármacos inclui, entre outros, o ácido acetilsalicílico (aspirina, ou AAS), antiinflamatório não esteroide mais antigo e mais utilizado na prática médica.
Os efeitos do AAS e de outros AINE devem-se à sua ação inibidora da atividade da enzima ciclogenase, COX, bloqueando, assim, a conversão do ácido araquidônico em precursores de prostaglandinas, Pgs e tromboxano.
A enzima ciclogenase apresenta duas isoformas, COX-1 e COX-2. A COX-1 é expressa continuamente na maioria dos tecidos normais, agindo como protetora da mucosa gastrintestinal. A COX-2 é expressa em níveis muito baixos ou em situações de lesão tecidual.
Dois estudos mostraram que o uso regular do AAS resultou na redução de 40% dos cânceres de estômago em indivíduos infectados com a bactéria Helicobacter pylory no estômago; cânceres de estômago em indivíduos não infectados não foram reduzidos pelo uso do AAS. O consumo de AAS por longos períodos pode induzir, em alguns indivíduos, distúrbios gastrintestinais e complicações cardiovasculares fatais.
(Unb 2012) Considerando o texto, as figuras e o esquema básico de inibição de prostaglandinas, julgue os itens a seguir e assinale as assertivas verdadeiras.
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(UnB-DF)
Na seqüência de reações:
Na2O + H2O → 2 NaOH
H3PO4 + 3 NaOH → Na3PO4 + 3 H2O
Se partirmos de 10 mols de Na2O, obteremos:
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