(ENEM PPL - 2017)
A madrasta retalhava um tomate em fatias, assim finas, capaz de envenenar a todos. Era possível entrever o arroz branco do outro lado do tomate, tamanha a sua transparência. Com a saudade evaporando pelos olhos, eu insistia em justificar a economia que administrava seus gestos. Afiando a faca no cimento frio da pia, ela cortava o tomate vermelho, sanguíneo, maduro, como se degolasse cada um de nós. Seis. O pai, amparado pela prateleira da cozinha, com o suor desinfetando o ar, tamanho o cheiro do álcool, reparava na fome dos filhos. Enxergava o manejo da faca desafiando o tomate e, por certo, nos pensava devorados pelo vento ou tempestade, segundo decretava a nova mulher. Todos os dias — cotidianamente — havia tomate para o almoço. Eles germinavam em todas as estações. Jabuticaba, manga, laranja, floresciam cada uma em seu tempo. Tomate, não. Ele frutificava, continuamente, sem demandar adubo além do ciúme. Eu desconhecia se era mais importante o tomate ou o ritual de cortá-lo. As fatias delgadas escreviam um ódio e só aqueles que se sentem intrusos ao amor podem tragar.
QUEIRÓS, B. C. Vermelho amargo. São Paulo: Cosac & Naify, 2011.
Ao recuperar a memória da infância, o narrador destaca a importância do tomate nos almoços da família e a ação da madrasta ao prepará-lo. A insistência nessa imagem é um procedimento estético que evidencia a
saudade do menino em relação à sua mãe.
insegurança do pai diante da fome dos filhos.
raiva da madrasta pela indiferença do marido.
resistência das crianças quanto ao carinho da madrasta.
convivência conflituosa entre o menino e a esposa do pai.
Gabarito:
convivência conflituosa entre o menino e a esposa do pai.
A) INCORRETA: não há elementos dentro do texto que exemplificam que o menino sente saudade da sua mãe, mas a relação que é externada é somente a do menino e da madastra.
B) INCORRETA: o texto não fala sobre a insegurança do pai, mas sim apenas a observação que ele tem diante da atitude da madastra de cortar os tomates e preparar o alimento para a família.
C) INCORRETA: após ser citada a presença do marido no recinto, não é observada reação alguma da madastra ao fato de que ele apenas acompanha visualmente o ato dela de preparar a comida. Após falar da atitude do marido, o texto somente disserta as frutas e legumes e a ação da mulher de prepará-las.
D) INCORRETA: quando é descrita a ação da madastra de preparar a comida, não é dito em momento algum que as crianças rejeitaram essa ação ou viram com um olhar negativo. Eles aceitam o carinho da madastra, mesmo que ela não seja a mãe biológica deles.
E) CORRETA: é possível perceber que, mesmo que o gesto da madastra tenha sido carinhoso, o menino possui uma perspectiva não tão receptiva quanto à imagem da parceira de seu pai. Isso é visível quando é dito "as fatias delgadas escreviam um ódio e só aqueles que se sentem intrusos ao amor podem tragar". As referências das palavras sublinhadas nos indicam que o sentimento do menino em relação à madastra não é de unidade agradável com ela, uma vez que ele a observa como uma intrusa daquela relação familiar.
(Enem PPL 2014) Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou com a quantidade de erros existentes nas placas das casas comerciais e que, diante disso, resolveu instituir um prêmio em dinheiro para o comerciante que tivesse o nome de seu estabelecimento grafado corretamente. Dias depois, Rui Barbosa saiu à procura do vencedor. Satisfeito, encontrou a placa vencedora: “Alfaiataria Águia de Ouro”. No momento da entrega do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa foi interrompido pelo alfaiate premiado, que disse: – Sr. Rui, não é “águia de ouro”; é “aguia de ouro”!
O caráter político do ensino de língua portuguesa no Brasil. Disponível em: http://rosabe.sites.uol.com.br. Acesso em: 2 ago. 2012.
A variação linguística afeta o processo de produção dos sentidos no texto. No relato envolvendo Rui Barbosa, o emprego das marcas de variação objetiva
(ENEM PPL - 2010)
Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral dos nordestinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino fala igual; contudo as variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes do que se imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo mundo ri, porque parece impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo de Quixeramobim. O pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais em al ou el – carnavau, Raqueu... Já os paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.
Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998 (fragmento adaptado).
Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de pessoas de diferentes regiões. As características regionais exploradas no texto manifestam-se
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(ENEM PPL - 2010)
AMARAL, Tarsila do. O mamoeiro. 1925, óleo sobre tela, 65x70, IEB/USP.
O modernismo brasileiro teve forte influência das vanguardas europeias. A partir da Semana de Arte Moderna, esses conceitos passaram a fazer parte da arte brasileira definitivamente. Tomando como referência o quadro O mamoeiro, identifica-se que nas artes plásticas, a
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