(UFU - 2019 - 2ª FASE)
O vínculo entre o espaço da cidade e suas instituições aparece ainda muito claramente em Platão e Aristóteles. [...] É este centro que é agora valorizado; a salvação da polis repousa sobre os que se chamam hoi mesoi, (o centro) porque, estando à igual distância dos extremos, constituem um ponto fixo para equilibrar a cidade. Com relação a este centro, os indivíduos e os grupos ocupam todos posições simétricas. A ágora, que realiza sobre o terreno essa ordenação espacial, forma o centro de um espaço público comum. Todos os que nele penetram se definem, por isso mesmo, como iguais, como isoi.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Trad. Isís Borges B. da Fonseca. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990, p. 90. (Adaptado)
A) Explique qual é a relação entre o surgimento da polis e o da Filosofia.
B) Explique qual é a relação entre a filosofia de Sócrates e a ágora.
Gabarito:
Resolução:
a) Jean-Pierre Vernant associa a origem da filosofia com o surgimento da pólis por um viés histórico e social, não tomando a filosofia nem como um milagre grego, tampouco como um desenvolvimento dos mitos, mas a partir do surgimento da pólis e da democracia na Grécia Antiga. A pólis grega suscita um novo tipo de pensamento fundamentado na racionalidade, a partir da percepção da insuficiência dos mitos para explicação da realidade do mundo, o que indica uma reflexão baseada no logos, e não no mito. Na pólis, com os espaços de discussão públicos nos quais o cidadão participa e discute os rumos da cidade, a filosofia encontra assim um contexto adequado para a sua origem.
b) Os discursos que ocorriam na ágora, em Atenas, no auge da democracia, eram palco para Sócrates e os seus opositores, os sofistas. Quanto aos sofistas, estes dominavam a oratória e, a partir disso, ensinavam pessoas interessadas em ganhar discussões na ágora, não importasse a veracidade de tais argumentos, enquanto cobravam pelo ensino. O foco de seus ensinamentos era prático e direcionado a estratégias de argumentação e oratória, para que seus estudantes atingissem a excelência em suas atividades. Por isso, foram duramente criticados por Sócrates: não ensinavam filosofia por amor ao conhecimento e pelo valor da razão. Ao questionar, Sócrates buscava, no diálogo, que o interlocutor pensasse por si mesmo e desse luz à ideias, as quais, por meio do questionamento, provar-se-iam falsas ou verdadeiras. Era o método da maiêutica.
O método socrático constrói-se a partir de perguntas e respostas (dialética) que levam o interlocutor, que não possua conhecimento e coerência sobre o que está falando, a contradizer-se e acabar por revelar sua ignorância (este primeiro momento é a ironia). A partir disso, inicia-se outra construção, que conduz o interlocutor a descobrir a verdade de forma gradativa e coerente. Tal método, que busca a construção da verdade por meio da contraposição de argumentos, é a maiêutica, o segundo momento da dialética socrática.
A dialética é formada pela ironia e a maiêutica; a ironia é a parte de desconstrução do pensamento, que deixa o indivíduo apto a novas ideias, e a maiêutica é justamente o "parto" de novas ideias, a origem de novos pensamentos, a síntese/conclusão de uma ideia mais elaborada através da contraposição de argumentos.
(UFU/MG)
Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado [...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
− Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.
Em relação aos versos citados do poema “Poética” e à obra Libertinagem, de Manuel Bandeira, marque a assertiva INCORRETA.
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(UFU-2006) Leia o trecho seguinte, de Triste fim de Policarpo Quaresma, que reproduz um diálogo de Ricardo Coração dos Outros com Quaresma e D. Adelaide.
“Oh! Não tenho nada novo, uma composição minha. O Bilac conhecem? (...)quis fazer-me uma modinha, eu não aceitei; você não entende de violão, Seu Bilac.
A questão não está em escrever uns versos certos que digam coisas bonitas; o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja. (...)
(...) vou cantar a Promessa, conhecem? Não disseram os dois irmãos. (...)h! Anda por aí como as ‘Pombas’ do Raimundo.”
Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma.
Parta do trecho lido para marcar a alternativa INCORRETA.
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(Ufu 2016) O jardim já vai se desmanchando na escuridão, mas Cristina ainda vê uma gravata (cinzenta?) saindo do bolso vermelho. Quer gritar de novo, mas a gravata cala a boca do grito, e já não adianta o pé querer se fincar no chão nem a mão querer fugir: o Homem domina Cristina e a mão dele vai puxando, o joelho vai empurrando, o pé vai castigando, o corpo todinho dele vai pressionando Cristina pra mata. Derruba ela no chão. Monta nela. O escuro toma conta de tudo.
O Homem aperta a gravata na mão feito uma rédea. Com a outra mão vai arrancando, vai rasgando, se livrando de tudo que é pano no caminho.
Agora o Homem é todo músculo. Crescendo.
Só afrouxa a rédea depois do gozo.
Cristina mal consegue tomar fôlego: já sente a gravata solavancando pro pescoço e se enroscando num nó. Que aperta. Aperta mais. Mais.
BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014. p. 82
Instantes derradeiros de O abraço, a passagem narra encontro de Cristina com o ‘Homem’. Levando-se em conta o enredo da obra até seu desenrolar nesses momentos finais, Cristina
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(UFU - 2016 - 1ª FASE)
DIONISOS DENDRITES
Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas
Ramos nascem de seu peito
Pés percutem a pedra enegrecida
Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.
Acorre o vento ao círculo demente
O vinho espuma nas taças incendiadas.
Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços
Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas
E o vaticínio do tumulto à Noite –
Chegada do inverno aos lares
Fim de guerra em campos estrangeiros.
As bocas mordem colos e flancos desnudados:
À sombra mergulham faces convulsivas
Corpos se avizinham à vida fria dos valados
Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.
Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos
Mergulham no vórtice da festa consagrada.
E quando o Sol o ingênuo olhar acende
Um secreto murmúrio ata num só feixe
O louro trigo nascido das encostas.
SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.
Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse resgate do mito do deus Dionisos, o verso
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