Questão 52882

(UFU - 2019 - 2ª FASE)

O poder desperta irresistível vocação para a poesia. Não são raros os exemplos depresidentes que se aventuraram nesse campo. Os ex-presidentes José Sarney e Barack Obama cometeram poesia. Assim como são poetas publicados o americano Jimmy Carter, o turcomeno Saparmurat Niyazov e o ex-primeiro ministro francês Dominique de Villepin. Em geral, são melhores políticos do que poetas.


Houve bons poetas que foram bons políticos. O primeiro-ministro inglês Winston Churchill recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Mario Vargas Llosa também, mas foi derrotado na disputa presidencial de que participou. O sul-africano Mongane Serote é exímio lirista e cultuado ativista antiapartheid. O Brasil teve grandes poetas que puderam escrever graças a empregos que mantinham no Estado.

Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira trabalharam no Ministério da Educação. Vinicius de Moraes e João Cabral de Melo Neto, no Ministério das Relações Exteriores. Talvez sejam os quatro maiores poetas brasileiros, mas nenhum deles quis ser presidente, talvez para o azar da República.


Quem mais se aproximou dos palácios foi Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), ghostwriter do presidente Juscelino Kubitschek. Schmidt era poeta fino. Num verso, alertou que é preciso contentar a necessidade da poesia. Graças a ele, frases soberbas são ainda hoje atribuídas a JK, a mais famosa dita ao enfrentar a ruidosa crise política: "Deus poupou-me do sentimento do  medo".


Talvez o símbolo maior de bom poeta e bom político, espécime rara, seja Vádav Havel (1936- 2011). Poeta, ensaísta e político tcheco, tornou-se o último presidente da Tchecoslováquia e o primeiro presidente da República Tcheca. Foi dissidente do movimento comunista e autor de peso contra o totalitarismo.


Reuniu as invulgares qualidades de pensador e estrategista. Instado a traçar diretrizes políticas, foi mais poeta que político. "Só posso recomendar perspectiva e distanciamento. Atenção aos perigos maiores da vaidade e da presunção, nos outros e em nós mesmos. Uma boa mente. Uma certeza modesta sobre o significado das coisas. Gratidão pela dádiva da vida e a coragem de assumir a responsabilidade por ela. Vigilância de espírito", definiu Havel exemplarmente.


Época, no 1065, 26 de novembro de 2018, p. 6. (Adaptado)


A) Redija um parágrafo, explicitando a posição do autor em relação a políticos poetas.


B) Reescreva o último parágrafo, transformando o discurso direto em discurso indireto.

Gabarito:

Resolução:



Questão 2399

(UFU/MG)

Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado [...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
− Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.

Em relação aos versos citados do poema “Poética” e à obra Libertinagem, de Manuel Bandeira, marque a assertiva INCORRETA.

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Questão 2545

 (UFU-2006) Leia o trecho seguinte, de Triste fim de Policarpo Quaresma, que reproduz um diálogo de Ricardo Coração dos Outros com Quaresma e D. Adelaide.

“Oh! Não tenho nada novo, uma composição minha. O Bilac conhecem? (...)quis fazer-me uma modinha, eu não aceitei; você não entende de violão, Seu Bilac.

A questão não está em escrever uns versos certos que digam coisas bonitas; o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja. (...)

(...) vou cantar a Promessa, conhecem? Não disseram os dois irmãos. (...)h! Anda por aí como as ‘Pombas’ do Raimundo.”

 

Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma.

 

Parta do trecho lido para marcar a alternativa INCORRETA.

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Questão 3019

(Ufu 2016)  O jardim já vai se desmanchando na escuridão, mas Cristina ainda vê uma gravata (cinzenta?) saindo do bolso vermelho. Quer gritar de novo, mas a gravata cala a boca do grito, e já não adianta o pé querer se fincar no chão nem a mão querer fugir: o Homem domina Cristina e a mão dele vai puxando, o joelho vai empurrando, o pé vai castigando, o corpo todinho dele vai pressionando Cristina pra mata. Derruba ela no chão. Monta nela. O escuro toma conta de tudo.

O Homem aperta a gravata na mão feito uma rédea. Com a outra mão vai arrancando, vai rasgando, se livrando de tudo que é pano no caminho.

Agora o Homem é todo músculo. Crescendo.

Só afrouxa a rédea depois do gozo.

Cristina mal consegue tomar fôlego: já sente a gravata solavancando pro pescoço e se enroscando num nó. Que aperta. Aperta mais. Mais.

 

BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014. p. 82

 

 

Instantes derradeiros de O abraço, a passagem narra encontro de Cristina com o ‘Homem’. Levando-se em conta o enredo da obra até seu desenrolar nesses momentos finais, Cristina

 

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Questão 3021

(UFU - 2016 - 1ª FASE)

 

DIONISOS DENDRITES

Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas

Ramos nascem de seu peito

Pés percutem a pedra enegrecida

Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.

 

Acorre o vento ao círculo demente

O vinho espuma nas taças incendiadas.

Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços

Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas

E o vaticínio do tumulto à Noite –

Chegada do inverno aos lares

Fim de guerra em campos estrangeiros.

 

As bocas mordem colos e flancos desnudados:

À sombra mergulham faces convulsivas

Corpos se avizinham à vida fria dos valados

Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.

Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos

Mergulham no vórtice da festa consagrada.

 

E quando o Sol o ingênuo olhar acende

Um secreto murmúrio ata num só feixe

O louro trigo nascido das encostas.

 

SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.

 

Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse resgate do mito do deus Dionisos, o verso  

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