Questão 56814

(IFPE 2012) 

A presidente Dilma ou a presidenta Dilma?

Laércio Lutibergue

Essa é a pergunta que mais temos recebido nos últimos dias por e-mail, pelas redes sociais (Twitter e Facebook) e mesmo pessoalmente. Há uma explicação para isso(I): a eleição da primeira mulher à Presidência da República, Dilma Rousseff.

Já falamos deste assunto aqui(II), mas diante do acontecimento do domingo 31 de outubro e da avalanche de perguntas somos obrigados a retomá-lo. Gramaticalmente as duas formas estão corretas. Ou seja, pode ser “a presidente Dilma” e “a presidenta Dilma”. Neste momento, com base nas ocorrências na imprensa, inclusive no Jornal do Commercio, sem dúvida “a presidente” é a mais comum.

E, se olharmos para o passado da língua, é a mais lógica. Palavras que vieram do particípio presente do latim, normalmente terminadas em -ante, -ente e -inte, são invariáveis. O que identifica o gênero delas é o artigo ou outro determinante: o/a amante, o/a gerente, meu/minha presidente.

A língua, contudo, nem sempre é lógica. Muitas vezes ela foge do controle e revela uma face inventiva indiferente às regras. Isso ocorreu, por exemplo, com “comediante”, que ganhou o feminino “comedianta”; com “infante”, que ganhou “infanta”; com “parente”, que ganhou “parenta”; e com “presidente”, que ganhou “presidenta”. Certamente o extralinguístico atuou na formação desses femininos. A versão feminina de um nome de cargo destaca com mais força a presença da mulher na sociedade.

Os mais velhos devem se lembrar do que ocorreu com a indiana Indira Gandhi. Começaram chamando-a de “o primeiro-ministro Indira Gandhi”; depois, passaram para “a primeiro-ministro”; e terminaram em “a primeira-ministra”. E hoje alguém tem dúvida de que uma mulher é “primeira-ministra”?

A favor de “presidenta” existe também o aspecto legal. A Lei Federal nº 2.749/56 diz que o emprego oficial de nome designativo de cargo público deve, quanto ao gênero, se ajustar ao sexo do funcionário. Ou seja, segundo a lei, os cargos, “se forem genericamente variáveis”, devem assumir “feição masculina ou feminina”.

Por tudo isso(III), defendemos a adoção do feminino “a presidenta”. Apesar de neste momento a maioria, pelo que mostra a imprensa, preferir “a presidente”. Intuímos, porém, que ocorrerá no Brasil o mesmo(IV) que sucedeu com dois vizinhos nossos. Na Argentina, Cristina Kirchner começou sendo chamada de “la presidente” e hoje é “la presidenta”. O mesmo ocorreu com Michelle Bachelet, no Chile, que(V) terminou o mandato como “la presidenta”. O tempo dirá se nossa intuição estava certa.

(Texto publicado na coluna "Com todas as letras", Jornal do Commercio do Recife, em 10/11/2010)

Quanto aos tipos de argumentos utilizados pelo autor, analise as proposições abaixo.

I. O argumento de exemplificação em todo o texto corrobora com a defesa do termo “presidenta”.

II. O dispositivo legal e a gramática constituem, nesse contexto, argumentos de autoridade.

III. A indicação de que outros países usam a forma “presidenta” é um argumento do senso comum.

IV. O principal argumento que explica o uso de “presidenta” é o fator extralinguístico.

V. A referência ao fato de a imprensa não usar o termo “presidenta” é um argumento por prova concreta.

Estão corretas, apenas:

A

I, II e V.

B

I, III e IV.

C

II e III.

D

II, IV e V.

E

I e IV.

Gabarito:

II, IV e V.



Resolução:

[D]

É incorreta a afirmação I, pois o autor apresenta posicionamentos divergentes, como o da imprensa atual que prefere o termo "presidente" ("nas ocorrências na imprensa, inclusive no Jornal do Commercio, sem dúvida, 'a presidente' é a mais comum"). Também a III é improcedente, já que o exemplo de outros países que empregam a palavra presidenta, como a Argentina e o Chile, não é usado pelo autor como argumento natural e, por isso, tomado a priori como válido, sem questionamento, mas serve apenas para justificar a intuição de que o mesmo pode vir a ocorrer no Brasil.



Questão 2950

(G1 - IFPE 2016)

Acauã
Luiz Gonzaga

Acauã, acauã vive cantando

Durante o tempo do verão

No silêncio das tardes agourando

Chamando a seca pro sertão

Chamando a seca pro sertão

Acauã,

Acauã,

Teu canto é penoso e faz medo

Te cala acauã,

Que é pra chuva voltar cedo

Que é pra chuva voltar cedo

Toda noite no sertão

Canta o João Corta-pau

A coruja, mãe da lua

A peitica e o bacurau

Na alegria do inverno

Canta sapo, gia e rã

Mas na tristeza da seca

Só se ouve acauã

Só se ouve acauã

Acauã,

Acauã...


Julgue as proposições, a seguir, quanto às relações sintático-semânticas estabelecidas tanto dentro de um mesmo período quanto entre os períodos constantes no texto.

I. No trecho ―Te cala acauã (nono verso) ―, deveria ser acrescentada uma vírgula antes de ―acauã, uma vez que essa palavra desempenha o papel de vocativo.

II. No verso ― A coruja, mãe da lua ―, a vírgula foi utilizada, justamente, para isolar o aposto ―mãe da lua.

III. Por se tratar de sujeito posposto, seria provocado um erro de concordância se, em ― Canta o João Corta-pau / A coruja, mãe da lua / A peitica e o bacurau ―, fosse pluralizado verbo.

IV. Em ― Na alegria do inverno / Canta sapo, gia e rã ―, deveria ser acrescentada uma vírgula depois de ― inverno  ― para isolar um adjunto adverbial.

V. No verso ―Mas na tristeza da seca ―, a conjunção foi utilizada para estabelecer uma relação de concessão com os dois versos anteriores.

São verdadeiras as afirmativas: 

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Questão 2951

(G1/IFPE - 2016) 

Uma revisão de dados recentes sobre a morte de línguas

Linguistas preveem que metade das mais de 6 mil línguas faladas no mundo desaparecerá em um século — uma taxa de extinção que supera as estimativas mais pessimistas quanto à extinção de espécies biológicas. (...)

Segundo a Unesco, 96% da população mundial falam só 4% das línguas existentes. E apenas 4% da humanidade partilha o restante dos idiomas, metade dos quais se encontra em perigo de extinção. Entre 20 e 30 idiomas desaparecem por ano — uma média de uma língua a cada duas semanas. (...)

A perda de línguas raras é lamentável por várias razões. Em primeiro lugar, pelo interesse científico que despertam: algumas questões básicas da linguística estão longe de estar inteiramente resolvidas. E essas línguas ajudam a saber quais elementos da gramática e do vocabulário são realmente universais, isto é, resultantes das características do próprio cérebro humano.

A ciência também tenta reconstruir o percurso de antigas migrações, fazendo um levantamento de palavras emprestadas, que ocorrem em línguas sem qualquer parentesco. Afinal, se línguas não aparentadas partilham palavras, então seus povos estiveram em contato em algum momento.

Um comunicado do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) diz que "o desaparecimento de uma língua e de seu contexto cultural equivale a queimar um livro único sobre a natureza". Afinal, cada povo tem um modo único de ver a vida. Por exemplo, a palavra russa mir significa igualmente "aldeia", "mundo" e "paz".

É que, como os aldeões russos da Idade Média tinham de fugir para a floresta em tempos de guerra, a aldeia era para eles o próprio mundo, ao menos enquanto houvesse paz.

Disponível em: <http://revistalingua.com.br/textos/116/a-morte-anunciada-355517-1.asp> acesso em 28 set. 2015.

Considere as análises relacionadas à sintaxe de concordância e conjugação verbal dos excertos do texto e marque a única alternativa correta. 

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Questão 27506

(IFPE - 2018)

O FIM DO LIVRO DE PAPEL

Só 122 livros. Era o que a Universidade de Cambridge tinha em 1427. Eram manuscritos lindos, que valiam cada um o preço de uma casa. Isso foi 3 décadas antes de a Bíblia de Gutenberg chegar às ruas. Depois dela, os livros deixaram de ser obras artesanais exclusivas de milionários e viraram o que viraram. Graças a uma novidade: a prensa de tipos móveis, que era capaz de fazer milhares de cópias no tempo que um monge levava para terminar um manuscrito.

Foi uma revolução sem igual na história e blá, blá, blá. Só que uma revolução que já acabou. Há 10 anos, pelo menos. Quando a internet começou a crescer para valer, ficou claro que ela passaria uma borracha na história do papel impresso e começaria outra.

Mas aconteceu justamente o que ninguém esperava: nada. A internet nunca arranhou o prestígio nem as vendas dos livros. Muito pelo contrário. O 2o negócio online que mais deu certo (depois do Google) é uma livraria, a Amazon. Se um extraterrestre pousasse na Terra hoje, acharia que nada disso faz sentido. Por que o livro não morreu? Como uma plataforma que, se comparada à internet, é tão arcaica quanto folhas de pergaminho ou tábuas de argila continua firme?

Você sabe por quê. Ler um livro inteiro no computador é insuportável. A melhor tecnologia para uma leitura profunda e demorada continua sendo tinta preta em papel branco. Tudo embalado num pacote portátil e fácil de manusear. Igual à Bíblia de Gutenberg. Isso sem falar em outro ingrediente: quem gosta de ler sente um afeto físico pelos livros. Curte tocar neles, sentir o fluxo das páginas, exibir a estante cheia. Uma relação de fetiche. Amor até.

Mas esse amor só dura porque ainda não apareceu nada melhor que um livro para a atividade de ler um livro. Se aparecer… Se aparecer, não: quando aparecer. Depois do CD, que já morreu, e do DVD, que está respirando com a ajuda de aparelhos, o livro impresso é o próximo da lista.

 

VERSIGNASSI, Alexandre. O fim do livro de papel. Disponível em: <https://super.abril.com.br/tecnologia/o-fim-do-livro-de-papel/>. Acesso em: 06 out. 2017.

 

 Para estabelecer unidade de sentido, os textos são construídos com recursos que permitem articulação entre suas partes. Quanto à ligação entre os parágrafos do texto, analise as afirmativas abaixo.

I. A relação entre o segundo e o primeiro parágrafos se estabelece por meio da elipse, pois o verbo “ser” em “Foi uma revolução sem igual na história” retoma a criação da prensa de tipos móveis descrita no primeiro parágrafo.

II. O terceiro parágrafo é iniciado pela conjunção “mas”, que introduz uma ideia oposta à construída no parágrafo anterior: a superação do papel impresso pelo crescimento da internet, sendo assim, há uma quebra de expectativa.

III. Com a afirmação “Você sabe por quê”, que inicia o quarto parágrafo, o autor mantém a continuidade textual por meio da resposta às questões retóricas que finalizaram o terceiro parágrafo.

IV. Em “Mas esse amor só dura porque”, a conjunção grifada adiciona uma informação sobre o amor que as pessoas em geral têm pelo livro de papel, introduzindo uma relação temporal entre o quarto e o quinto parágrafo.

V. A coesão entre os parágrafos do texto constituiu-se por meio de conjunções adversativas e temporais, estabelecendo relações de oposição, de causa e consequência e de tempo.

 

Estão CORRETAS, apenas, as afirmativas  

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Questão 28650

(IFPE - 2017)

MACUNAÍMA

Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho. Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d'água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d'água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, a água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas. Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:

— Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.

Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifara toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas.

ANDRADE, Mário de. Macunaíma. 22. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986.

 

Macunaíma é uma obra da primeira geração modernista, cujo autor, Mário de Andrade, foi um dos mentores da Semana de Arte Moderna, de 1922. A respeito da primeira fase do Modernismo, podemos afirmar que  

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