(UFC 2001)
1 Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balançavam, as sombras vacilavam no chão. Um pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber.
2 Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranquila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos.
3 Ao mesmo tempo que imaginário - era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega - era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante.
4 As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.
5 Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo.
(LISPECTOR, Clarice. Laços de Família. Rio de Janeiro: Sabiá, 1973, p.24-25)
No texto, sinaliza-se oposição entre a vida e a morte. Assinale abaixo a passagem em que isto se evidencia.
"E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber." (par.1)
"Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos." (par.2)
"Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra." (par.4)
"Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do inferno." (par.4)
"Era quase noite agora e tudo parecia cheio, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-se com delícia". (par.5)
Gabarito:
"Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos." (par.2)
(UFC - 2002)
Sobre o trecho “As próprias plantas venenosas são úteis: a ciência faz do veneno mais violento um meio destruidor de moléstias, regenerador da saúde, conservador da vida.”, é correto afirmar que:
I. O período é composto por duas orações.
II. Há somente três palavras formadas por sufixação.
III. A acentuação gráfica das palavras grifadas se justifica pela mesma regra.
Assinale a alternativa cujo significado do vocábulo destacado na frase mantém-se igual ao significado do mesmo vocábulo no poema.
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(Ufc 2009)
Acerca dos elementos constitutivos do verso "E o vulnerável, mestre, apanhas com mão fria" (verso 48), analise as assertivas a seguir e coloque V ou F, conforme sejam verdadeiras ou falsas.
( ) "mestre" exerce função de vocativo, assim como "Joaquim Maria" (verso 29).
( ) "apanhas" tem como sujeito "tu", que remete a "Joaquim Maria" (verso 29).
( ) "E" exerce a mesma função que em "o desconforto, / o descontentamento e a frustração / da nossa humana condição" (versos 53-55).
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA
(Ufc 2009)
O eu lírico do poema refere-se a Machado de Assis como "morto vivo". Assinale a alternativa na qual está presente o excerto do poema que explica o porquê dessa alcunha.
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