(ENEM PPL - 2011)
Mudança
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio. As manchas dos juazeiros tornaram a aparecer, Fabiano aligeirou o passo, esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos. Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira, chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra.
RAMOS, G. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2008 (fragmento).
Valendo-se de uma narrativa que mantém o distanciamento na abordagem da realidade social em questão, o texto expõe a condição de extrema carência dos personagens acuados pela miséria.
O recurso utilizado na construção dessa passagem, o qual comprova a postura distanciada do narrador, é
caracterização pitoresca da paisagem natural.
descrição equilibrada entre os referentes físicos e psicológicos dos personagens.
narração marcada pela sobriedade lexical e sequência temporal linear.
caricatura dos personagens, compatível com o aspecto degradado que apresentam.
metaforização do espaço sertanejo, alinhada com o projeto de crítica social.
Gabarito:
narração marcada pela sobriedade lexical e sequência temporal linear.
A) INCORRETA: a caracterização pitoresca de uma natureza não é característica que determina a distância do narrador diante da realidade que se encontra, porque essa descrição pode ser realizada tanto de modo impessoal (distante), quanto de modo pessoal (próximo).
B) INCORRETA: a descrição, seja ela equilibrada ou não, não é fator que marca distanciamento. Isso porque num ponto de vista pessoal também é possível ver esse tipo de descrição, mas que teria alguns juízos de valor juntado a ela.
C) CORRETA: quando o narrador faz uma narração em que a escolha dos seus vocábulos demonstra objetividade do texto, uma sequência linear e a não marcação de juízos de valor, pode-se perceber que ele fez essa escolha justamente para demarcar sua distância com aquilo que está sendo dito.
D) INCORRETA: assim como a descrição, a caricatura de um personagem é um fator que pode ser realizado tanto por um narrador em terceira pessoa (impessoal), quanto por um narrador em primeira pessoa (pessoal), este último podendo colocar juízos de valor na sua descrição.
E) INCORRETA: o processo de metaforização e a construção de uma crítica são mais voltados para uma narrativa mais próxima do texto do que a marcação de um distanciamento.
(Enem PPL 2014) Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou com a quantidade de erros existentes nas placas das casas comerciais e que, diante disso, resolveu instituir um prêmio em dinheiro para o comerciante que tivesse o nome de seu estabelecimento grafado corretamente. Dias depois, Rui Barbosa saiu à procura do vencedor. Satisfeito, encontrou a placa vencedora: “Alfaiataria Águia de Ouro”. No momento da entrega do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa foi interrompido pelo alfaiate premiado, que disse: – Sr. Rui, não é “águia de ouro”; é “aguia de ouro”!
O caráter político do ensino de língua portuguesa no Brasil. Disponível em: http://rosabe.sites.uol.com.br. Acesso em: 2 ago. 2012.
A variação linguística afeta o processo de produção dos sentidos no texto. No relato envolvendo Rui Barbosa, o emprego das marcas de variação objetiva
(ENEM PPL - 2010)
Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral dos nordestinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino fala igual; contudo as variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes do que se imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo mundo ri, porque parece impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo de Quixeramobim. O pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais em al ou el – carnavau, Raqueu... Já os paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.
Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998 (fragmento adaptado).
Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de pessoas de diferentes regiões. As características regionais exploradas no texto manifestam-se
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(ENEM PPL - 2010)
AMARAL, Tarsila do. O mamoeiro. 1925, óleo sobre tela, 65x70, IEB/USP.
O modernismo brasileiro teve forte influência das vanguardas europeias. A partir da Semana de Arte Moderna, esses conceitos passaram a fazer parte da arte brasileira definitivamente. Tomando como referência o quadro O mamoeiro, identifica-se que nas artes plásticas, a
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