Questão 73526

(AFA - 2023)

TEXTO I

Carta

 

  Nela [terra], até agora, não pudemos saber que haja
  ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem
  lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim
  frios e temperados, como os de Entre Douro e Minho,
5 porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.
  As águas são muitas; infindas. E em tal maneira é
  graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo,
  por bem das águas que tem.
  Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me
10 parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a
  principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.
  E que aí não houvesse mais que ter aqui esta
  pousada para esta navegação de Calecute, bastaria.
  Quando mais disposição para se nela cumprir e fazer o que
15 Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa fé.

 

(CAMINHA, Pero Vaz de. “Carta”. In: PEREIRA, Paulo Roberto Dias. (Org.) Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Lacerda Ed., 1999, p. 58.)

 

TEXTO II

Canção do exílio

 

(Gonçalves Dias)

  Minha terra tem palmeiras
  Onde canta o Sabiá;
  As aves, que aqui gorjeiam,
4 Não gorjeiam como lá.
   
  Nosso céu tem mais estrelas,
  Nossas várzeas têm mais flores,
  Nossos bosques têm mais vida
8 Nossa vida mais amores.
   
  Em cismar, sozinho, à noite,
  Mais prazer encontro eu lá;
  Minha terra tem palmeiras
12 Onde canta o Sabiá.
   
  Minha terra tem primores,
  Que tais não encontro eu cá;
  Em cismar – sozinho, à noite –
  Mais prazer encontro eu lá;
  Minha terra tem palmeiras,
18 Onde canta o Sabiá.
   
  Não permita Deus que eu morra
  Sem que eu volte para lá;
  Sem que desfrute os primores
  Que não encontro por cá;
  Sem qu’inda aviste as palmeiras,
24 Onde canta o Sabiá.

 

Coimbra, julho de 1843

(BARBOSA, Frederico (Org.). Clássicos da poesia brasileira – antologia da poesia brasileira anterior ao Modernismo. São Paulo: O Estado de São Paulo/Klick Editora, 1997, p. 66-67.)

 

TEXTO III

A Pátria

 

 

  Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
  Criança! não verás nenhum país como este!
  Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
  A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
5 É um seio de mãe a transbordar carinhos.
  Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
  Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
  Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
10 Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
 

 

  Boa terra! jamais negou a quem trabalha
  o pão que mata a fome, o teto que agasalha...
 

 

  Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
  Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
 

 

15 Criança! não verás país nenhum como este:
  Imita na grandeza a terra em que nasceste!

(BILAC, Olavo. Poesias infantis. Rio de Janeiro, Minas, São Paulo: Francisco Alves & Cia,1904, p. 114-115.)

 

TEXTO IV

Canção do expedicionário

(Guilherme de Almeida)

  Você sabe de onde eu venho?
  Venho do morro, do Engenho,
  Das selvas, dos cafezais,
  Da boa terra do coco,
5 Da choupana onde um é pouco
  Dois é bom, três é demais,
  Venho das praias sedosas,
  Das montanhas alterosas,
  Dos pampas, do seringal,
10 Das margens crespas dos rios,
  Dos verdes mares bravios
  Da minha terra natal.
   
  Por mais terras que eu percorra,
  Não permita Deus que eu morra
15 Sem que volte para lá;
  Sem que leve por divisa
  Esse “V” que simboliza
  A vitória que virá:
  Nossa vitória final,
20 Que é a mira do meu fuzil,
  A ração do meu bornal,
  A água do meu cantil,
  As asas do meu ideal,
  A glória do meu Brasil.
   
25 Você sabe de onde eu venho? 
  É de uma Pátria que eu tenho
  No bojo do meu violão;
  Que de viver em meu peito
  Foi até tomando jeito
30 De um enorme coração. 
  Deixei lá atrás meu terreiro,
  Meu limão, meu limoeiro,
  Meu pé de jacarandá,
  Minha casa pequenina
35 Lá no alto da colina
  Onde canta o sabiá.
   /.../

 

(POLÍCIA MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Departamento de Educação e Cultura. Disponível em https://dec.pm.df.gov.br/images/pdf/Hinos_e_Cancoes_Militares _-_reduzido.pdf. Acesso em 24/03/2022.)

 

 

Analise a definição do substantivo “exílio”, extraída do dicionário Novo Aurélio Século XXI:

 

exílio (z). [Do lat. exiliu.] S. m. 1. Expatriação, forçada ou voluntária; degredo, desterro. 2. O lugar onde reside o exilado. 3. Fig. Lugar afastado, solitário, ou desagradável de habitar.

 

Sobre a possibilidade de interpretação desses sentidos nos textos I, II, III e IV desta prova, assinale a alternativa INCORRETA.

A

No texto I, Pero Vaz de Caminha, na descrição da terra em que se encontra, caracteriza-a como “Lugar afastado, solitário, ou desagradável de habitar”.

B

No texto II, o “lugar onde reside o exilado” está marcado pelo advérbio “cá”.

C

No texto III, não são encontradas evidências de que o eu lírico esteja passando por uma situação de exílio conforme definida pelo Dicionário.

D

Considerando os substantivos “fuzil”, “mira”, “bornal” e “cantil”, pode-se inferir que o exílio do eu lírico do texto IV é um lugar “desagradável de habitar”.

Gabarito:

No texto I, Pero Vaz de Caminha, na descrição da terra em que se encontra, caracteriza-a como “Lugar afastado, solitário, ou desagradável de habitar”.



Resolução:

a) Alternativa incorreta. Caminha descreve a terra em que está dizendo, por exemplo, "E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.

b) Alternativa correta​​​​​​​. O  seria onde o exílio acontece, Coimbra (Portugal), enquanto o  seria a terra natal, o Brasil.

c) Alternativa correta​​​​​​​. Seria possível interpretar que o eu lírico fala com tanta valorização de sua terra natal que parece estar em exílio, olhando para trás e saudando o lugar de onde veio.

d) Alternativa correta​​​​​​​. Os substantivos citados remetem à violência, então seria plausível dizer que trata-se de um lugar desagradável de habitar.



Questão 2230

(Epcar (Afa) 2015) Assinale a alternativa que analisa de maneira adequada a figura de linguagem utilizada.

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Questão 2245

(AFA - 2016)

TEXTO II
FAVELÁRIO NACIONAL

 Carlos Drummond de Andrade

Quem sou eu para te cantar, favela,
Que cantas em mim e para ninguém
a noite inteira de sexta-feira
e a noite inteira de sábado
E nos desconheces, como igualmente não te
conhecemos?
Sei apenas do teu mau cheiro:
Baixou em mim na viração,
direto, rápido, telegrama nasal
anunciando morte... melhor, tua vida.
...
Aqui só vive gente, bicho nenhum
tem essa coragem.
...
Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,
Medo só de te sentir, encravada
Favela, erisipela, mal-do-monte
Na coxa flava do Rio de Janeiro.

Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver
nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.
Custa ser irmão,
custa abandonar nossos privilégios
e traçar a planta
da justa igualdade.
Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
mui bem comportados.
Mas, favela, ciao,
que este nosso papo
está ficando tão desagradável.
vês que perdi o tom e a empáfia do começo?
...

(ANDRADE, Carlos Drummond de, Corpo. Rio de Janeiro: Record, 1984)

Nos versos abaixo, percebe-se que foram utilizadas figuras de linguagem, enfatizando o sentimento do eu-lírico. Porém, há uma opção em que não se verifica esse fato. Assinale-a.

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Questão 2250

(AFA - 2015)

MULHER BOAZINHA

(Martha Medeiros)

     Qual o elogio que uma mulher adora receber1?
     2Bom, se você está com tempo, pode-se listar aqui uns setecentos: mulher adora que verbalizem seus atributos, sejam eles físicos ou morais.
     Diga que ela é uma mulher inteligente3 , 4e ela irá com a sua cara.
     Diga que ela tem um ótimo caráter e um corpo que é uma provocação, e ela decorará o seu número.
     Fale do seu olhar, da sua pele, do seu sorriso, da sua presença de espírito, da sua aura de mistério, de como ela tem classe: ela achará você muito observador e lhe dará uma cópia da chave de casa.
     5Mas não pense que o jogo está ganho6: manter o cargo vai depender da sua perspicácia para encontrar novas qualidades nessa mulher poderosa, absoluta.
     7Diga que ela cozinha melhor que a sua mãe, que ela tem uma voz que faz você pensar obscenidades, que 8ela é um avião no mundo dos negócios.
      Fale sobre sua competência, seu senso de oportunidade, seu bom gosto musical.
     Agora 9quer ver o mundo cair 10?
     Diga que ela é muito boazinha.
     Descreva aí uma mulher boazinha.
     Voz fina, roupas pastel, calçados rente ao chão.
     Aceita encomendas de doces, contribui para a igreja, cuida dos sobrinhos nos finais de semana.
     Disponível, serena, previsível, nunca foi vista negando um favor.
     11Nunca teve um chilique.
      12Nunca colocou os pés num show de rock.
     É queridinha.
     Pequeninha.
     Educadinha.
     13Enfim, uma mulher boazinha.
     Fomos boazinhas por séculos.
     Engolíamos tudo e fingíamos não ver nada, ceguinhas.
     Vivíamos no nosso mundinho, 14rodeadas de panelinhas e nenezinhos.
     A vida feminina era esse frege: bordados, paredes brancas, crucifixo em cima da cama, tudo certinho.
     Passamos um tempão assim, comportadinhas, enquanto íamos alimentando um desejo incontrolável de virar a mesa.
     15Quietinhas, mas inquietas.
     16Até que chegou o dia em que deixamos de ser as coitadinhas.
     Ninguém mais fala em namoradinhas do Brasil: somos atrizes, estrelas, profissionais.
     Adolescentes não são mais brotinhos: são garotas da geração teen.
     Ser chamada de patricinha é ofensa mortal.
      Pitchulinha é coisa de retardada.
     Quem gosta de diminutivos, definha.
     Ser boazinha não tem nada a ver com ser generosa.
     17Ser boa é bom, ser boazinha é péssimo.
     As boazinhas não têm defeitos.
     Não têm atitude.
     Conformam-se com a coadjuvância.
     PH neutro.
     Ser chamada de boazinha, mesmo com a melhor das intenções, é o pior dos desaforos.
     Mulheres bacanas, complicadas, batalhadoras, persistentes, ciumentas, apressadas, é 18isso que somos hoje.
     Merecemos adjetivos velozes, produtivos, enigmáticos.
     As “inhas” não moram mais aqui.
     Foram para o espaço, sozinhas.

(Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/NTc1ODIy/ acesso em 28/03/14)

 

Leia os fragmentos abaixo:

Quietinhas, mas inquietas. (ref.15)
Ser boa é bom, ser boazinha é péssimo. (ref.17)

I. O grau superlativo absoluto sintético foi utilizado para estabelecer a diferença entre as mulheres boas e as boazinhas.

II. O paradoxo foi utilizado no primeiro fragmento para ressaltar a complexidade do comportamento feminino por meio da coexistência de aspectos opostos.

III. Ambos os fragmentos apresentam como recursos expressivos o jogo com palavras cognatas e o uso da adversidade.

Estão corretas as alternativas:

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Questão 2251

(Epcar (Afa) 2015) Assinale a alternativa que analisa de maneira adequada a figura de linguagem utilizada. 

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