Questão 73571

(AFA - 2023)

 

TEXTO VI

 

O que faz o brasil, Brasil?

A questão da identidade

 

  Devo começar explicando o meu enigmático título.
  É que será preciso estabelecer uma distinção radical entre
  um “brasil” escrito com letra minúscula, nome de um tipo
  de madeira de lei ou de uma feitoria interessada em
explorar uma terra como outra qualquer, e o Brasil que
  designa um povo, uma nação, um conjunto de valores,
  escolhas e ideias de vida. O “brasil” com o b minúsculo é
  apenas um objeto sem vida, autoconsciência ou pulsação
  interior, pedaço de coisa que morre e não tem a menor
10  condição de se reproduzir como sistema; /.../ Mas o Brasil
  com B maiúsculo é algo muito mais complexo. É país,
  cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos
  internacionalmente, e, também casa, pedaço de chão
  calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e
15  consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação
  especial, única, totalmente sagrada. /.../ Sociedade onde
  pessoas seguem certos valores e julgam as ações
  humanas dentro de um padrão somente seu. Não se trata
  mais de algo inerte, mas de uma entidade viva, cheia de
20  autorreflexão e consciência: algo que se soma e se alarga
  para o futuro e para o passado, num movimento próprio
  que se chama História. Aqui, o Brasil é um ser parte
  conhecido e parte misterioso, como um grande e poderoso
  espírito. Como um Deus que está em todos os lugares e
25 em nenhum, mas que também precisa dos homens para
  que possa se saber superior e onipotente. Onde quer que
  haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil e, no
  entanto – tal como acontece com as divindades –, será
  preciso produzir e provocar a sua manifestação para que
30  se possa sentir sua concretude e seu poder. Caso
  contrário, sua presença é tão inefável como a do ar que
  se respira, e dela não se teria consciência a não ser pela
  comparação, pelo contraste e pela percepção de algumas
  de suas manifestações mais contundentes.

(DaMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986, p. 11-13)

 

 

As oposições entre brasil e Brasil presentes no texto VI podem ser expressas, respectivamente, pelos seguintes pares de termos/expressões, EXCETO:

A

feitoria / nação

B

entidade histórica / entidade divina

C

apatia / autorreflexão

D

fragmento morto / entidade viva

Gabarito:

entidade histórica / entidade divina



Resolução:

a) Alternativa correta. No texto, é possível ler: "[...] um 'brasil' escrito com letra minúscula, nome de um tipo de madeira de lei ou de uma feitoria interessada em explorar uma terra como outra qualquer, e o Brasil que designa um povo, uma nação [...]"

b) Alternativa incorreta. O texto não contrapõe o brasil e o Brasil enquanto entidade histórica e entidade divina.

c) Alternativa correta. No texto, é possível ler: "O “brasil” com o b minúsculo é apenas um objeto sem vida, autoconsciência ou pulsação interior [...]"; "Não se trata mais de algo inerte, mas de uma entidade viva, cheia de autorreflexão e consciência [...]".

d) Alternativa correta​​​​​​​. No texto, é possível ler "O “brasil” com o b minúsculo é apenas um objeto sem vida [...]"; "Não se trata mais de algo inerte, mas de uma entidade viva [...]".



Questão 2230

(Epcar (Afa) 2015) Assinale a alternativa que analisa de maneira adequada a figura de linguagem utilizada.

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Questão 2245

(AFA - 2016)

TEXTO II
FAVELÁRIO NACIONAL

 Carlos Drummond de Andrade

Quem sou eu para te cantar, favela,
Que cantas em mim e para ninguém
a noite inteira de sexta-feira
e a noite inteira de sábado
E nos desconheces, como igualmente não te
conhecemos?
Sei apenas do teu mau cheiro:
Baixou em mim na viração,
direto, rápido, telegrama nasal
anunciando morte... melhor, tua vida.
...
Aqui só vive gente, bicho nenhum
tem essa coragem.
...
Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,
Medo só de te sentir, encravada
Favela, erisipela, mal-do-monte
Na coxa flava do Rio de Janeiro.

Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver
nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.
Custa ser irmão,
custa abandonar nossos privilégios
e traçar a planta
da justa igualdade.
Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
mui bem comportados.
Mas, favela, ciao,
que este nosso papo
está ficando tão desagradável.
vês que perdi o tom e a empáfia do começo?
...

(ANDRADE, Carlos Drummond de, Corpo. Rio de Janeiro: Record, 1984)

Nos versos abaixo, percebe-se que foram utilizadas figuras de linguagem, enfatizando o sentimento do eu-lírico. Porém, há uma opção em que não se verifica esse fato. Assinale-a.

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Questão 2250

(AFA - 2015)

MULHER BOAZINHA

(Martha Medeiros)

     Qual o elogio que uma mulher adora receber1?
     2Bom, se você está com tempo, pode-se listar aqui uns setecentos: mulher adora que verbalizem seus atributos, sejam eles físicos ou morais.
     Diga que ela é uma mulher inteligente3 , 4e ela irá com a sua cara.
     Diga que ela tem um ótimo caráter e um corpo que é uma provocação, e ela decorará o seu número.
     Fale do seu olhar, da sua pele, do seu sorriso, da sua presença de espírito, da sua aura de mistério, de como ela tem classe: ela achará você muito observador e lhe dará uma cópia da chave de casa.
     5Mas não pense que o jogo está ganho6: manter o cargo vai depender da sua perspicácia para encontrar novas qualidades nessa mulher poderosa, absoluta.
     7Diga que ela cozinha melhor que a sua mãe, que ela tem uma voz que faz você pensar obscenidades, que 8ela é um avião no mundo dos negócios.
      Fale sobre sua competência, seu senso de oportunidade, seu bom gosto musical.
     Agora 9quer ver o mundo cair 10?
     Diga que ela é muito boazinha.
     Descreva aí uma mulher boazinha.
     Voz fina, roupas pastel, calçados rente ao chão.
     Aceita encomendas de doces, contribui para a igreja, cuida dos sobrinhos nos finais de semana.
     Disponível, serena, previsível, nunca foi vista negando um favor.
     11Nunca teve um chilique.
      12Nunca colocou os pés num show de rock.
     É queridinha.
     Pequeninha.
     Educadinha.
     13Enfim, uma mulher boazinha.
     Fomos boazinhas por séculos.
     Engolíamos tudo e fingíamos não ver nada, ceguinhas.
     Vivíamos no nosso mundinho, 14rodeadas de panelinhas e nenezinhos.
     A vida feminina era esse frege: bordados, paredes brancas, crucifixo em cima da cama, tudo certinho.
     Passamos um tempão assim, comportadinhas, enquanto íamos alimentando um desejo incontrolável de virar a mesa.
     15Quietinhas, mas inquietas.
     16Até que chegou o dia em que deixamos de ser as coitadinhas.
     Ninguém mais fala em namoradinhas do Brasil: somos atrizes, estrelas, profissionais.
     Adolescentes não são mais brotinhos: são garotas da geração teen.
     Ser chamada de patricinha é ofensa mortal.
      Pitchulinha é coisa de retardada.
     Quem gosta de diminutivos, definha.
     Ser boazinha não tem nada a ver com ser generosa.
     17Ser boa é bom, ser boazinha é péssimo.
     As boazinhas não têm defeitos.
     Não têm atitude.
     Conformam-se com a coadjuvância.
     PH neutro.
     Ser chamada de boazinha, mesmo com a melhor das intenções, é o pior dos desaforos.
     Mulheres bacanas, complicadas, batalhadoras, persistentes, ciumentas, apressadas, é 18isso que somos hoje.
     Merecemos adjetivos velozes, produtivos, enigmáticos.
     As “inhas” não moram mais aqui.
     Foram para o espaço, sozinhas.

(Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/NTc1ODIy/ acesso em 28/03/14)

 

Leia os fragmentos abaixo:

Quietinhas, mas inquietas. (ref.15)
Ser boa é bom, ser boazinha é péssimo. (ref.17)

I. O grau superlativo absoluto sintético foi utilizado para estabelecer a diferença entre as mulheres boas e as boazinhas.

II. O paradoxo foi utilizado no primeiro fragmento para ressaltar a complexidade do comportamento feminino por meio da coexistência de aspectos opostos.

III. Ambos os fragmentos apresentam como recursos expressivos o jogo com palavras cognatas e o uso da adversidade.

Estão corretas as alternativas:

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Questão 2251

(Epcar (Afa) 2015) Assinale a alternativa que analisa de maneira adequada a figura de linguagem utilizada. 

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