(UFU - 2021 - MEDICINA) Abaixo, encontram-se dois textos poéticos inscritos no Modernismo brasileiro, o primeiro contém um trecho de “Acalanto do seringueiro”, de Mário de Andrade; e o segundo traz um trecho do poema em que Carlos Drummond homenageia Mário de Andrade, por ocasião da morte deste.
ACALANTO DO SERINGUEIRO
Seringueiro brasileiro,
Na escureza da floresta
Seringueiro, dorme.
Ponteando o amor eu forcejo
Pra cantar uma cantiga
Que faça você dormir.
Que dificuldade enorme!
Quero cantar e não posso,
Quero sentir e não sinto
A palavra brasileira
Que faça você dormir... S
eringueiro, dorme...
[....]
Seringueiro, eu não sei nada!
E no entanto estou rodeado
Dum despotismo de livros,
Estes mumbavas* que vivem. *mumbavas: parasitas
'Chupitando vagarentos
O meu dinheiro o meu sangue
E não dão gosto de amor...
Me sinto bem solitário
No mutirão de sabença
Da minha casa, amolado
Por tantos livros geniais, "sagrados", como se diz...
E não sinto os meus patrícios!
E não sinto os meus gaúchos!
Seringueiro dorme...
E não sinto os seringueiros
Que amo de amor infeliz...
[...] ANDRADE, Mário de. O clã do jabuti. São Paulo: Poeteiro Editor Digital, 2016, p. 36-8.
MÁRIO DE ANDRADE DESCE AOS INFERNOS
[...]
III
O meu amigo era tão
de tal modo extraordinário,
cabia numa só carta,
esperava-me na esquina,
e já um poste depois
ia descendo o Amazonas,
tinha coletes de música,
entre cantares de amigo
pairava na renda fina
dos Sete Saltos,
na serrania mineira,
no mangue, no seringal,
nos mais diversos brasis,
e para além dos brasis,
nas regiões inventadas,
países a que aspiramos,
fantásticos,
mas certos, inelutáveis,
terra de João invencível,
a rosa do povo aberta…
[...]
ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 154-5.
Sobre a relação entre os dois textos poéticos e o modo pelo qual eles exemplificam a relação que se estabeleceu entre a poética de Drummond e a poética de Mário de Andrade, assinale a alternativa INCORRETA.
Mário pertenceu à primeira geração modernista que, a partir da Semana de 1922, foi responsável pela transformação formal que se deu na poesia brasileira. Nesse aspecto, sua geração serviu de guia para a segunda geração, a de Drummond; como pode se observar, comparando-se as soluções formais dos poemas em análise, em que predominam versos brancos e livres, estrofes irregulares e linguagem que une coloquialidade à riqueza figurativa.
Em Acalanto do seringueiro, observa-se o dilema de Mário de Andrade que, sendo parte de uma pequena elite intelectual, almejava conhecer e assim poder falar ao homem do povo brasileiro. Em seu poema elegíaco, Drummond exalta a busca de Mário pelos “diversos brasis” e aponta como essa busca o inspirou, ao associá-la à imagem de “rosa do povo”, metáfora em que Drummond expõe seu próprio anseio por construir uma poesia que falasse ao povo.
Ambos os poemas expressam a inquietação dos seus autores quanto à constituição de uma poesia perpassada por uma brasilidade, que fosse além do clichê nacionalista de um Brasil paradisíaco e do academicismo literário, que ignorava a cultura popular. Esse (re)descobrimento do Brasil pela literatura foi um dos maiores legados do movimento modernista, no qual Mário e Drummond se destacaram como autores fundamentais.
A imagem do seringueiro, em Acalanto do seringueiro, é apropriada por Drummond ao mencionar o termo “seringal”, em seu poema-homenagem. Ao se criar um vínculo entre os poemas, Drummond revela como a coragem do amigo, ao abordar os aspectos dolorosos da sociedade brasileira (por isso Mário “desce aos infernos”), o inspirou a também abraçar uma poesia engajada, levando-o a se posicionar combativamente diante da nossa realidade social.
Gabarito:
A imagem do seringueiro, em Acalanto do seringueiro, é apropriada por Drummond ao mencionar o termo “seringal”, em seu poema-homenagem. Ao se criar um vínculo entre os poemas, Drummond revela como a coragem do amigo, ao abordar os aspectos dolorosos da sociedade brasileira (por isso Mário “desce aos infernos”), o inspirou a também abraçar uma poesia engajada, levando-o a se posicionar combativamente diante da nossa realidade social.
(UFU/MG)
Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado [...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
− Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.
Em relação aos versos citados do poema “Poética” e à obra Libertinagem, de Manuel Bandeira, marque a assertiva INCORRETA.
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(UFU-2006) Leia o trecho seguinte, de Triste fim de Policarpo Quaresma, que reproduz um diálogo de Ricardo Coração dos Outros com Quaresma e D. Adelaide.
“Oh! Não tenho nada novo, uma composição minha. O Bilac conhecem? (...)quis fazer-me uma modinha, eu não aceitei; você não entende de violão, Seu Bilac.
A questão não está em escrever uns versos certos que digam coisas bonitas; o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja. (...)
(...) vou cantar a Promessa, conhecem? Não disseram os dois irmãos. (...)h! Anda por aí como as ‘Pombas’ do Raimundo.”
Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma.
Parta do trecho lido para marcar a alternativa INCORRETA.
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(Ufu 2016) O jardim já vai se desmanchando na escuridão, mas Cristina ainda vê uma gravata (cinzenta?) saindo do bolso vermelho. Quer gritar de novo, mas a gravata cala a boca do grito, e já não adianta o pé querer se fincar no chão nem a mão querer fugir: o Homem domina Cristina e a mão dele vai puxando, o joelho vai empurrando, o pé vai castigando, o corpo todinho dele vai pressionando Cristina pra mata. Derruba ela no chão. Monta nela. O escuro toma conta de tudo.
O Homem aperta a gravata na mão feito uma rédea. Com a outra mão vai arrancando, vai rasgando, se livrando de tudo que é pano no caminho.
Agora o Homem é todo músculo. Crescendo.
Só afrouxa a rédea depois do gozo.
Cristina mal consegue tomar fôlego: já sente a gravata solavancando pro pescoço e se enroscando num nó. Que aperta. Aperta mais. Mais.
BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014. p. 82
Instantes derradeiros de O abraço, a passagem narra encontro de Cristina com o ‘Homem’. Levando-se em conta o enredo da obra até seu desenrolar nesses momentos finais, Cristina
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(UFU - 2016 - 1ª FASE)
DIONISOS DENDRITES
Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas
Ramos nascem de seu peito
Pés percutem a pedra enegrecida
Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.
Acorre o vento ao círculo demente
O vinho espuma nas taças incendiadas.
Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços
Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas
E o vaticínio do tumulto à Noite –
Chegada do inverno aos lares
Fim de guerra em campos estrangeiros.
As bocas mordem colos e flancos desnudados:
À sombra mergulham faces convulsivas
Corpos se avizinham à vida fria dos valados
Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.
Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos
Mergulham no vórtice da festa consagrada.
E quando o Sol o ingênuo olhar acende
Um secreto murmúrio ata num só feixe
O louro trigo nascido das encostas.
SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.
Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse resgate do mito do deus Dionisos, o verso
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