(UFU - 2021 - MEDICINA) O brasileiro Lima Barreto e a norte-americana Alice Walker fizeram de suas narrativas literárias um espaço de questionamento e de ressignificação dos estereótipos raciais, atribuídos a brancos e a negros pela literatura ocidental.
Abaixo, o Excerto 1 é uma fala de Sinhô a Celie, em A cor púrpura, de Walker; já o Excerto 2 é o final do conto “Pecado”, de Lima Barreto, em que São Pedro e seu guarda-livros discutem sobre o destino de uma alma recém-chegada à portaria do céu.
Excerto 1:
Quem você pensa que é? ele falou. Você num pode amaldiçoar ninguém. Olhe pra você. Você é preta, é pobre, é feia. Você é mulher. Vá pro diabo, ele falou, você num é nada.
WALKER, Alice. A cor púrpura. 10 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, p. 230.
Excerto 2:
Acompanhado de dolorosos rangidos da mesa, o guarda-livros foi folheando o enorme Registro, até encontrar a página própria, onde com certo esforço achou a linha adequada e com o dedo afinal apontou o assentamento e leu alto:
– P. L. C., filho de..., neto de..., bisneto de... – Carregador. Quarenta e oito anos. Casado. Honesto. Caridoso. Leal. Pobre de espírito. Ignaro. Bom como São Francisco de Assis. Virtuoso como São Bernardo e meigo como o próprio Cristo. É um justo.
Levando o dedo pela pauta horizontal e nas “Observações”, deparou qualquer coisa que o fez dizer de súbito:
– Esquecia-me... Houve engano. É! Foi bom você falar. Essa alma é a de um negro. Vai para o purgatório.
BARRETO, Lima. O homem que sabia javanês e outros contos. Curitiba: Polo Editorial do Paraná, 1997, p. 45-46. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000153.pdf. Acesso em: 15 jun. 2021.
Sobre a representação do racismo presente nos excertos, assinale a alternativa que estabelece uma comparação.
Alice Walker busca compreender o autodesprezo racial dos negros, presente na fala de Sinhô; já Lima Barreto usa de ironia para mostrar como a inferiorização dos negros é estabelecida pelo catolicismo tradicional, ao fazer do branco a cor da pureza.
Alice Walker foca sua crítica mais no preconceito de gênero do que no de raça, pois o negro Sinhô inferioriza Celie por ela ser mulher; já Lima Barreto subverte a lenda cristã popular ao sugerir que São Pedro, por trabalhar como porteiro do céu, deveria ser um negro.
Alice Walker e Lima Barreto indicam como o racismo se espraia pela cultura, marcando desde o imaginário identitário até o imaginário do sagrado, convertendo-se em uma forma de maldição estruturada socialmente, que incide sobre os indivíduos e sobre a coletividade.
Alice Walker e Lima Barreto expõem como o racismo derivou-se da estrutura escravocrata, promovida durante a colonização das Américas, o que levou sociedades pós-coloniais, como Estados Unidos e Brasil, a terem como maldição histórica a desigualdade sociorracial
Gabarito:
Alice Walker e Lima Barreto indicam como o racismo se espraia pela cultura, marcando desde o imaginário identitário até o imaginário do sagrado, convertendo-se em uma forma de maldição estruturada socialmente, que incide sobre os indivíduos e sobre a coletividade.
(UFU/MG)
Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado [...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
− Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.
Em relação aos versos citados do poema “Poética” e à obra Libertinagem, de Manuel Bandeira, marque a assertiva INCORRETA.
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(UFU-2006) Leia o trecho seguinte, de Triste fim de Policarpo Quaresma, que reproduz um diálogo de Ricardo Coração dos Outros com Quaresma e D. Adelaide.
“Oh! Não tenho nada novo, uma composição minha. O Bilac conhecem? (...)quis fazer-me uma modinha, eu não aceitei; você não entende de violão, Seu Bilac.
A questão não está em escrever uns versos certos que digam coisas bonitas; o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja. (...)
(...) vou cantar a Promessa, conhecem? Não disseram os dois irmãos. (...)h! Anda por aí como as ‘Pombas’ do Raimundo.”
Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma.
Parta do trecho lido para marcar a alternativa INCORRETA.
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(Ufu 2016) O jardim já vai se desmanchando na escuridão, mas Cristina ainda vê uma gravata (cinzenta?) saindo do bolso vermelho. Quer gritar de novo, mas a gravata cala a boca do grito, e já não adianta o pé querer se fincar no chão nem a mão querer fugir: o Homem domina Cristina e a mão dele vai puxando, o joelho vai empurrando, o pé vai castigando, o corpo todinho dele vai pressionando Cristina pra mata. Derruba ela no chão. Monta nela. O escuro toma conta de tudo.
O Homem aperta a gravata na mão feito uma rédea. Com a outra mão vai arrancando, vai rasgando, se livrando de tudo que é pano no caminho.
Agora o Homem é todo músculo. Crescendo.
Só afrouxa a rédea depois do gozo.
Cristina mal consegue tomar fôlego: já sente a gravata solavancando pro pescoço e se enroscando num nó. Que aperta. Aperta mais. Mais.
BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014. p. 82
Instantes derradeiros de O abraço, a passagem narra encontro de Cristina com o ‘Homem’. Levando-se em conta o enredo da obra até seu desenrolar nesses momentos finais, Cristina
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(UFU - 2016 - 1ª FASE)
DIONISOS DENDRITES
Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas
Ramos nascem de seu peito
Pés percutem a pedra enegrecida
Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.
Acorre o vento ao círculo demente
O vinho espuma nas taças incendiadas.
Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços
Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas
E o vaticínio do tumulto à Noite –
Chegada do inverno aos lares
Fim de guerra em campos estrangeiros.
As bocas mordem colos e flancos desnudados:
À sombra mergulham faces convulsivas
Corpos se avizinham à vida fria dos valados
Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.
Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos
Mergulham no vórtice da festa consagrada.
E quando o Sol o ingênuo olhar acende
Um secreto murmúrio ata num só feixe
O louro trigo nascido das encostas.
SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.
Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse resgate do mito do deus Dionisos, o verso
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