Questão 77657

(UFU - 2022)

 

Talvez chegue o dia em que os animais não humanos venham a adquirir os direitos que jamais poderiam ter-lhe sido negados, a não ser pela mão da tirania. Já descobrimos que o escuro da pele não é razão para que um ser humano seja irremediavelmente abandonado aos caprichos de um torturador. É possível que um dia se reconheça que o número de pernas, a vilosidade da pele ou a terminação do osso sacro sejam motivos igualmente insuficientes para abandonar um ser senciente ao mesmo destino [...]. A questão não é: “eles são capazes de raciocinar?” ou “são capazes de falar?” e sim: “eles são capazes de sofrer?”

SINGER, Peter. Libertação animal. São Paulo: Martins Fontes, p. 12, 2010.

 

A) Considerando-se o trecho acima, bem como as postulações de Peter Singer, qual o critério que pode conduzir a sociedade humana a observar os direitos dos animais, e quais seriam esses direitos?

B) Explique o argumento usado nesse texto de Peter Singer a favor dos direitos dos animais.

Gabarito:

Resolução:

A) O critério que pode conduzir a sociedade humana a observar os direitos dos animais é o critério da senciência, isto é, a capacidade de sofrer e/ou sentir prazer (ter experiências positivas e/ou negativas). Essa mesma capacidade é o critério que confere a um indivíduo o direito a igual consideração de seus interesses, sendo o principal o interesse de não sofrer, independentemente da espécie a que pertence. Os direitos, para Singer, são um modo abreviado para falar de proteções morais que animais devem possuir, a saber, não serem abandonados aos caprichos de um torturador: o direito de não serem explorados em experimentos científicos, na alimentação, vestuário etc. Em resumo, os animais têm o direito de terem seu bem-estar considerado igualmente aos demais indivíduos sencientes.

 

B) No texto, Singer argumenta pela necessidade de apresentar motivos suficientes para justificar a negação de direitos aos animais, uma vez que, inversamente, há um motivo (o fato de que os animais são sencientes) para afirmar tais direitos. Mas os motivos comumente alegados (número de pernas, viscosidade da pele, ausência de razão ou fala, etc.) para negar direitos aos animais não são suficientes diante da senciência. Uma vez que não há motivo de negar que baste para contrabalançar a razão de afirmar, devemos reconhecer os direitos para os animais. De modo análogo, já reconhecemos os direitos de seres humanos de pele escura, ao admitirmos que a cor da pele é insuficiente para negar direitos a essas pessoas.

Vale evidenciar que, com esta última analogia, Singer equipara o racismo ao especismo, ou seja, a discriminação moral com base apenas na espécie biológica. Tanto o especismo quanto o racismo seriam discriminações morais arbitrárias, porque motivadas pela presença de características que, do ponto de vista moral, seriam irrelevantes (cor ou viscosidade da pele, por exemplo).



Questão 2399

(UFU/MG)

Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado [...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
− Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.

Em relação aos versos citados do poema “Poética” e à obra Libertinagem, de Manuel Bandeira, marque a assertiva INCORRETA.

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Questão 2545

 (UFU-2006) Leia o trecho seguinte, de Triste fim de Policarpo Quaresma, que reproduz um diálogo de Ricardo Coração dos Outros com Quaresma e D. Adelaide.

“Oh! Não tenho nada novo, uma composição minha. O Bilac conhecem? (...)quis fazer-me uma modinha, eu não aceitei; você não entende de violão, Seu Bilac.

A questão não está em escrever uns versos certos que digam coisas bonitas; o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja. (...)

(...) vou cantar a Promessa, conhecem? Não disseram os dois irmãos. (...)h! Anda por aí como as ‘Pombas’ do Raimundo.”

 

Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma.

 

Parta do trecho lido para marcar a alternativa INCORRETA.

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Questão 3019

(Ufu 2016)  O jardim já vai se desmanchando na escuridão, mas Cristina ainda vê uma gravata (cinzenta?) saindo do bolso vermelho. Quer gritar de novo, mas a gravata cala a boca do grito, e já não adianta o pé querer se fincar no chão nem a mão querer fugir: o Homem domina Cristina e a mão dele vai puxando, o joelho vai empurrando, o pé vai castigando, o corpo todinho dele vai pressionando Cristina pra mata. Derruba ela no chão. Monta nela. O escuro toma conta de tudo.

O Homem aperta a gravata na mão feito uma rédea. Com a outra mão vai arrancando, vai rasgando, se livrando de tudo que é pano no caminho.

Agora o Homem é todo músculo. Crescendo.

Só afrouxa a rédea depois do gozo.

Cristina mal consegue tomar fôlego: já sente a gravata solavancando pro pescoço e se enroscando num nó. Que aperta. Aperta mais. Mais.

 

BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014. p. 82

 

 

Instantes derradeiros de O abraço, a passagem narra encontro de Cristina com o ‘Homem’. Levando-se em conta o enredo da obra até seu desenrolar nesses momentos finais, Cristina

 

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Questão 3021

(UFU - 2016 - 1ª FASE)

 

DIONISOS DENDRITES

Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas

Ramos nascem de seu peito

Pés percutem a pedra enegrecida

Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.

 

Acorre o vento ao círculo demente

O vinho espuma nas taças incendiadas.

Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços

Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas

E o vaticínio do tumulto à Noite –

Chegada do inverno aos lares

Fim de guerra em campos estrangeiros.

 

As bocas mordem colos e flancos desnudados:

À sombra mergulham faces convulsivas

Corpos se avizinham à vida fria dos valados

Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.

Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos

Mergulham no vórtice da festa consagrada.

 

E quando o Sol o ingênuo olhar acende

Um secreto murmúrio ata num só feixe

O louro trigo nascido das encostas.

 

SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.

 

Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse resgate do mito do deus Dionisos, o verso  

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