(UNICAMP - 2024 - 2ª FASE)
Quando completei dez anos, comecei a adestrar bois. Foi assim que aprendi que adestrar e colonizar são a mesma coisa. Tanto o adestrador quanto o colonizador começam por desterritorializar o ente atacado quebrando-lhe a identidade, tirando-o de sua cosmologia, distanciando-se de seu sagrado, impondo-lhe novos modos de vida e colocando-lhe outro nome. O processo de denominação é uma tentativa de apagamento de uma memória para que outra possa ser composta. Há adestradores que batem e há adestradores que fazem carinho.
(Disponível em: SANTOS, Antônio Bispo dos. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora/PISEAGRAMA, p.11 – 12, 2023.)
Antônio Bispo dos Santos, nascido no Piauí, é escritor, mestre, quilombola e lavrador. A partir de conhecimentos em História que você adquiriu ao longo de sua formação e da reflexão apresentada no texto,
a) explique a comparação entre o “adestrar” e o “colonizar” feita por Antônio Bispo dos Santos. Indique um processo histórico do período colonial em que “adestradores fazem carinho” e justifique sua resposta.
b) mencione um grupo minoritário brasileiro da segunda metade século XX cuja luta possa ser compreendida a partir das reflexões de Antônio Bispo dos Santos. Explique como duas ações citadas pelo autor podem ser identificadas na trajetória desse movimento.
Gabarito:
Resolução:
a) Antônio Bispo considera que o adestramento e a colonização atuam de maneiras parecidas ao transformar o modo de vida de determinado povo a partir dos interesses do adestrador/colonizador. Dessa forma, o indivíduo deixa de viver da sua forma tradicional e passa a ser controlado pelas referências e intenções de quem o domina. Em ambos os casos é utilizada, por exemplo, a desterritorialização, onde se retira o colonizado do seu lugar de origem, afastando-o das suas referências e da sua ancestralidade, e colocando-o num território hostil (no caso dos escravizados, o tráfico atlântico da África para a América). Ao indicar que "alguns adestradores fazem carinho" o autor considera que nem todos os métodos de colonização envolvem a violência direta, existem métodos que também não parecem violentos mas têm fins que atacam, justamente, as práticas culturais e ancestrais do colonizado. É possível citar, nesse caso, a catequização dos indígenas na América, que teve como finalidade acabar com o modo de vida dos povos originários e introduzi-los ao sistema colonial. Além disso, a abolição da escravidão no Brasil, nos moldes em que foi feita, também pode ser considerada uma forma de se "adestrar" sem o uso da violência física pois, ainda que tenha libertado os escravizados, não houve nenhuma preocupação em garantir a eles uma mínima igualdade econômica e social.
b) O movimento quilombola, a partir da redemocratização brasileira, expandiu sua luta contra o apagamento da cultura negra no Brasil, buscando a valorização dos saberes ancestrais africanos e a garantia de territórios que possibilitem suas práticas de vida. Os movimentos indígenas também são um exemplo da luta para garantir a recuperação dos saberes originários que foram atacados pela colonização e, a partir da Constituição de 1988, tiveram um crescimento importante na luta pela sua forma de viver.
(Unicamp 2016)
Em sua versão benigna, a valorização da malandragem corresponde ao elogio da criatividade adaptativa e da predominância da especificidade das circunstâncias e das relações pessoais sobre a frieza reducionista e generalizante da lei. Em sua versão maximalista e maligna, porém, a valorização da malandragem equivale à negação dos princípios elementares de justiça, como a igualdade perante a lei, e ao descrédito das instituições democráticas.
(Adaptado de Luiz Eduardo Soares, Uma interpretação do Brasil para contextualizar a violência, em C. A. Messeder Pereira, Linguagens da violência. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 23-46.)
Considerando as posições expressas no texto em relação à valorização da malandragem, é correto afirmar que:
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(UNICAMP - 2016 - 1ª fase)
É possível fazer educação de qualidade sem escola
É possível fazer educação embaixo de um pé de manga? Não só é, como já acontece em 20 cidades brasileiras e em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Decepcionado com o processo de “ensinagem”, o antropólogo Tião Rocha pediu demissão do cargo de professor da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e criou em 1984 o CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento).
Curvelo, no Sertão mineiro, foi o laboratório da “escola” que abandonou mesa, cadeira, lousa e giz, fez das ruas a sala de aula e envolveu crianças e familiares na pedagogia da roda. “A roda é um lugar da ação e da reflexão, do ouvir e do aprender com o outro. Todos são educadores, porque estão preocupados com a aprendizagem. É uma construção coletiva”, explica.
O educador diz que a roda constrói consensos. “Porque todo processo eletivo é um processo de exclusão, e tudo que exclui não é educativo. Uma escola que seleciona não educa, porque excluiu alguns. A melhor pedagogia é aquela que leva todos os meninos a aprenderem. E todos podem aprender, só que cada um no seu ritmo, não podemos uniformizar.”
Nesses 30 anos, o educador foi engrossando seu dicionário de terminologias educacionais, todas calcadas no saber popular: surgiu a pedagogia do abraço, a pedagogia do brinquedo, a pedagogia do sabão e até oficinas de cafuné. Esta última foi provocada depois que um garoto perguntou: “Tião, como faço para conquistar uma moleca?” Foi a deixa para ele colocar questões de sexualidade na roda.
Para resolver a falência da educação, Tião inventou uma UTI educacional, em que “mães cuidadoras” fazem “biscoito escrevido” e “folia do livro” biblioteca em forma de festa) para ajudar na alfabetização. E ainda colocou em uso termos como “empodimento”, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: “Pode [fazer tal coisa], Tião?” Seguida da resposta certeira: “Pode, pode tudo”.
Aos 66 anos, Tião diz estar convicto de que a escola do futuro não existirá e que ela será substituída por espaços de aprendizagem com todas as erramentas possíveis e necessárias para os estudantes aprenderem.
"Educação se faz com bons educadores, e o modelo escolar arcaico aprisiona e há décadas dá sinais de falência. Não precisamos de sala, recisamos de gente. Não precisamos de prédio, precisamos de espaços de aprendizado. Não precisamos de livros, precisamos ter todos os nstrumentos possíveis que levem o menino a aprender.”
Sem pressa, seguindo a Carta da Terra e citando Ariano Suassuna para dizer que “terceira idade é para fruta: verde, madura e podre”, Tião diz se entir “privilegiado” de viver o que já viveu e acreditar na utopia de não haver mais nenhuma criança analfabeta no Brasil. “Isso não é uma política e governo, nem de terceiro setor, é uma questão ética”, pontua.
(Qsocial, 09/12/2014. Disponível em http://www.cpcd.org.br/portfolio/e_possivel_fazer_educacao_de_qualidade_100_escola/.)
A partir da identificação de várias expressões nominais ao longo do texto, é correto afirmar que:
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(Unicamp 2016)
Em relação ao trecho “E ainda colocou em uso termos como ‘empodimento’, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: ‘Pode [fazer tal coisa], Tião?’ Seguida da resposta certeira: ‘Pode, pode tudo’”, é correto afirmar
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(Unicamp 2015)
Dados numéricos e recursos linguísticos colaboram para a construção dos sentidos de um texto.
Leia os títulos de notícias a seguir sobre as vendas do comércio no último Dia dos Pais.
Venda para o Dia dos Pais cresceu 2% em relação ao ano passado.
Adaptado de O Diário Online, 15/08/2014. Disponível em http://www.odiarioonline.com.br/noticia/26953/. Acessado em 20/08/2014.
Só 4 em cada 10 brasileiros compraram presentes no Dia dos Pais.
Época São Paulo, 17/08/2014. Disponível em http://epoca.globo.com/regional/sp/Consumo. Acessado em 20/08/2014.
Podemos afirmar que:
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