(PUC - SP)
APELO
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa da esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite pela primeira vez coalhou. A notícia e sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda.
E comecei a sentir falta das primeiras brigas por causa do tempero na salada - o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.
Dalton Trevisan
(In: BOSI, A. (org.) O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo, Cultrix, 1997, p. 190.)
Sobre a subordinação, relembre: é a construção sintática em que uma oração determinante, e, pois subordinada, se articula com outra, determinada por ela e principal em relação a ela. (Mattoso Câmara Jr - "Dicionário de Filologia e Gramática," Rio de Janeiro, J. Ozon, 1971, p.362).
Em seguida, assinale a alternativa correta:
Em "Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos." - estabelece-se uma relação de meio e fim.
Em "Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa." - a subordinação se dá entre o verbo "faz" e seu complemento verbal "que a Senhora está longe de casa."
Em "Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só,..." - a relação de subordinação expressa a ideia de adição consecutiva.
Em "Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando." - a subordinação se dá entre o verbo "sabe" e seu sujeito representado pela oração reduzida de infinitivo "conversar com os outros."
Em "E comecei a sentir falta das primeiras brigas por causa do tempero na salada - o meu jeito de querer bem." - estabelece-se uma relação de condição-condicionado.
Gabarito:
Em "Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos." - estabelece-se uma relação de meio e fim.
[A]
A) Em "Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos." - estabelece-se uma relação de meio e fim.
Aqui é estabelecida uma relação de meio e fim. Ele bebe com os amigos (meio) para não dar parte de fraco (finalidade da ação de beber).
B) Em "Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa." - a subordinação se dá entre o verbo "faz" e seu complemento verbal "que a Senhora está longe de casa."
Uma relação de subordinação se dá quando uma oração depende de outra oração principal para manter o sentido. A oração "que a Senhora está longe de casa."precisa de uma principal para que seja compreendida. Nessa oração principal o verbo é o fazer, conjugado na 3ª pessoa do singular, e pede um complemento direto. Perceba que se o complemento do trecho "Amanhã faz " fosse "que a Senhora está longe de casa", ainda assim não teríamos um período que fosse passível de compreensão. A pergunta que deve ser feita ao verbo é "o quê?", fazendo esse tipo de indagação fica faço perceber a relação de complementação que o trecho "um mês" tem com "Amanhã faz ". Ele sim permite a relação de subordinação entre as duas orações.
C) Em "Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só,..." - a relação de subordinação expressa a ideia de adição consecutiva.
A ideia consecutiva exprime consequência, que não é o que o trecho propõe. Não há subordinação nessa frase, e sim coordenação. A partícula "e", contudo, pode expressar uma ideia de consequência (as pessoas saem e, por isso, ele fica sozinho) ou de condição (para que ele ficasse sozinho, as pessoas tinham que sair).
D) Em "Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando." - a subordinação se dá entre o verbo "sabe" e seu sujeito representado pela oração reduzida de infinitivo "conversar com os outros."
O sujeito de sabe é "Nenhum de nós".
E) Em "E comecei a sentir falta das primeiras brigas por causa do tempero na salada - o meu jeito de querer bem." - estabelece-se uma relação de condição-condicionado.
Apresenta uma relação de causalidade.
(PUC-SP-2001)
A QUESTÃO É COMEÇAR
Coçar e comer é só começar. Conversar e escrever também. Na fala, antes de iniciar, mesmo numa livre conversação, é necessário quebrar o gelo. Em nossa civilização apressada, o “bom dia”, o “boa tarde, como vai?” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol.
No escrever também poderia ser assim, e deveria haver para a escrita algo como conversa vadia, com que se divaga até encontrar assunto para um discurso encadeado. Mas, à diferença da conversa falada, nos ensinaram a escrever e na lamentável forma mecânica que supunha texto prévio, mensagem já elaborada. Escrevia-se o que antes se pensara. Agora entendo o contrário: escrever para pensar, uma outra forma de conversar. Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a certos rituais.
Fomos induzidos a, desde o início, escrever bonito e certo. Era preciso ter um começo, um desenvolvimento e um fim predeterminados. Isso estragava, porque bitolava, o começo e todo o resto. Tentaremos agora (quem? eu e você, leitor) conversando entender como necessitamos nos reeducar para fazer do escrever um ato inaugural; não apenas transcrição do que tínhamos em mente, do que já foi pensado ou dito, mas inauguração do próprio pensar. “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve antes, o leitor lê depois.” “Não!”, lhe respondo, “Não consigo escrever sem pensar em você por perto, espiando o que escrevo.
Não me deixe falando sozinho.” Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com interlocutores invisíveis, imprevisíveis, virtuais apenas, sequer imaginados de carne e ossos, mas sempre ativamente presentes. Depois é espichar conversas e novos interlocutores surgem, entram na roda, puxam assuntos. Termina-se sabe Deus onde.
(MARQUES, M.O. Escrever é Preciso, Ijuí, Ed. UNIJUÍ, 1997, p. 13).
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Observe a seguinte afirmação feita pelo autor:
“Em nossa civilização apressada, o “bom dia”, o “boa tarde” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol.”
Ela faz referência à função da linguagem cuja meta é “quebrar o gelo”.
Indique a alternativa que explicita essa função.
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(Pucpr 2004)
"Aula de Português"
A linguagem na ponta da língua,
tão fácil de falar e de entender.
A linguagem na superfície estrelada das estrelas,
sabe lá o que ela quer dizer?
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boitempo. In: "Poesia e Prosa". Rio: Nova Aguilar,1988.)
Em relação às duas estrofes do poema "Aula de Português", de Carlos Drummond de Andrade, assinale a alternativa INCORRETA:
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(Puccamp 2016) Comenta-se corretamente sobre o que se tem no trecho.
A questão a seguir refere-se ao trecho do capítulo 2 da obra Ginástica doce e yoga para crianças: método La Douce.
CAPÍTULO 2 (O CORPO)
Conhecer bem o corpo para fazê-lo trabalhar melhor
Cinco extremidades: a cabeça, as mãos, os pés
Para comunicar-se com tudo que a cerca, a criança usa a cabeça, as duas mãos e os dois pés. A cabeça permite-lhe ter acesso a todas as informações disponíveis. Sede do cérebro, ela fornece os recursos necessários para bem compreender seu ambiente. É igualmente através desta parte do corpo que penetram duas fontes de energia: o ar e o alimento. A cabeça se articula através do pescoço. Corredor estreito entre o cérebro e a parte inferior do corpo, o pescoço deve ser flexível para facilitar a qualidade das trocas. As mãos e os pés são verdadeiras antenas. Sua riqueza em terminações nervosas e vasos sanguíneos, assim como a possibilidade das inúmeras articulações, fazem deles instrumentos de extraordinária precisão.
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(Puccamp 2016)
Editorial
Na rotina de mãe de quatro filhos, a escritora israelense Ayelet Waldman começou a detectar em si mesma e em outras mães que conhecia uma ansiedade persistente, disparada pela frustração de não corresponder às próprias expectativas em relação à maternidade. Para piorar seu tormento, 1aonde quer que fosse, encontrava mulheres sempre prontas a apontar o dedo para seus defeitos, numa espécie de polícia materna, onipresente e onisciente. Em uma conversa deliciosa com a Revista em Dia, Ayelet discorre sobre as agruras das mães ruins, categoria na qual hoje se encaixa, e com orgulho. 2E ajuda a dissipar, com humor, o minhocário que não raro habita a cabeça das mães. Minhocário que, aliás, se não for bem administrado, pode levar a problemas muito mais sérios. 3É o que você verá na reportagem da página 14, que traz o foco para a depressão durante a gravidez. Poucos sabem, mas a doença pode ser deflagrada nessa fase e é bom que tanto as gestantes como outras pessoas ao redor fiquem atentas para que as mulheres nessa situação possam receber o apoio necessário. A revista também traz temas para quem a maternidade já é assunto menos relevante 4nesse momento da vida. Se você é daquelas que entraram ou consideram entrar na onda da corrida, terá boas dicas na página 18. 5Caso já esteja reduzindo o ritmo, quem sabe encontre inspiração para espantar a monotonia na crônica da página 8. Esperamos, com um grãozinho aqui, outro ali, poder contribuir um pouco para as várias facetas que compõem uma mulher saudável e de bem consigo mesma.
Comenta-se com correção:
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