(PUC Camp - 2003)
Texto I
Globalização: sociedade anônima
Como os efeitos da globalização vêm nos atingindo já há um bom tempo, está mais do que na hora de buscar analisá-los: uma das formas de se conhecer um fenômeno é sofrer suas consequências. Quando Maquiavel dizia, metaforicamente, que é da planície que melhor reconhecemos a montanha, admitia que a posição dos subalternos é estratégica para a análise de quem está por cima. Hoje, os poderosos da globalização proclamam: "Vejam, estamos todos na montanha!" O problema é que a grande maioria da humanidade continua a rastejar no raso da planície.
A dificuldade da análise dos vários aspectos da globalização está em separar o joio do trigo, ou mesmo em tentar reconhecer os elementos que aparecem como em estado de fusão. A princípio, não há como contestar os benefícios dos avanços tecnológicos, da comunicação pela Internet, da derrubada de muros físicos e simbólicos, do escancaramento das fronteiras econômicas, da tentativa de pôr fim a todo e qualquer apartheid. Tudo isso é apresentado e vendido dentro do grande "pacote" da globalização. Mas...
Mas a experiência vem nos dizendo também outras coisas. A concentração de renda é cada vez mais brutal; se as grandes operações econômicas ignoram os limites políticos dos países, defendem muito bem o espaço fechado, reduzidíssimo de seus centros de decisão. No mundo globalizado, o sentimento nacionalista é tido como uma aberração romântica, mas os países mais poderosos não abrem mão dos "legítimos interesses" da "soberania nacional". Desse ponto de vista, só subdesenvolvido não precisa ter pátria, pois se alguém contesta o american way of life imediatamente se levantam os hinos e as bandeiras... Em suma: a globalização é ótima para quem a comanda, lembrando-nos que a melhor posição num stand de tiro continua sendo atrás da espingarda.
O sonho de uma comunidade ampla e harmônica é antigo. Quando Platão imaginou sua República ideal, obviamente não pensava em Césares, Napoleões, ou impérios colonizadores, nem em todo-poderosos diretores de fundos internacionais; pensava em sábios legisladores. Hoje as bolsas de valores, se não geram empregos, geram mais efeitos do que todos os congressos dos países do Terceiro Mundo. E quando um senador primeiro-mundista defende drástica intervenção no Oriente Médio, o que está por trás de seu voto é uma convicção política, a indústria de armamentos ou o olho gordo no petróleo alheio? Não se pode confundir o desejo de uma ampla solidariedade internacional com as práticas de um hipermercado planetário.
O estanho, se dourado, não ganha as propriedades do ouro, assim como o emblema de uma Ferrari no capô de um fusquinha não o transforma num bólido. A ideologia da globalização pretende impor, alegando o "interesse universal", um sistema privado que potencializa o lucro privado. Em outras palavras: otimiza-se a equação de interesses de uns poucos como se essa operação resolvesse a complexa matriz de todos os interesses.
No plano cultural, a situação não é menos contraditória. As informações circulam na velocidade da luz, provocam reações em cadeia, e tanto podem tratar da preservação do ambiente, do desenvolvimento sustentável, da clonagem e dos transgênicos, quanto estimular o consumo desenfreado, a pornografia, a agressividade e a competição. Nesse cadinho miraculoso pretendese apurar uma substância homogênea, na qual se sintetizariam os princípios universais e se eliminariam todas as contradições. No mercado da cultura globalizada, muitos corpos parecem querer ocupar o mesmo espaço, substituindo-se a hierarquia, a escolha e o mérito dos valores pelo vale-tudo da mídia e do interesse do mercado. O aspecto mais assustador da globalização está nisto: ela se apresenta como uma realidade instalada e um planejamento do nosso futuro histórico tão eficaz que, a partir dela, ficamos dispensados de pensar, de hesitar, de duvidar. Na programação desse megacomputador globalizante, somos todos usuários, clientes e assinantes; para ela, a consciência crítica representa um vírus a ser detectado e eliminado. Já os que não estão ao seu alcance, os que sequer ingressaram no mercado como consumidores, esses simplesmente não contam: que façam o favor de não incomodar o ritmo da civilização, da tecnologia e do progresso, morrendo em silêncio, anonimamente, na planície.
(Vitorino de Paula)
Texto II
As thoughtful people concerned about world affairs, our job is to pick up globalization, examine it from all sides, dissect it, figure out what makes it tick, and then nurture and promote the good parts and mitigate or slow down the bad parts. Globalization is much like fire. Fire itself... Used properly, it can cook food, sterilize equipment, form iron, and heat our homes. Used carelessly, fire can destroy lives, towns and forests in an instant.
Globalization can be incredibly empowering and incredibly coercive. It can democratize opportunity and democratize panic. It leaves you behind faster and faster, and it catches up to you faster and faster. While it is homogenizing cultures, it is also enabling people to share their unique individuality farther and wider. Globalization has dangers and an ugly dark side. But it can also bring tremendous opportunities and benefits.
(Adapted from Globalization. Copyright 2002 About, Inc.)
O texto sobre globalização, em inglês,
Gabarito:
apresenta uma argumentação mais favorável à globalização do que o texto em português.
Resolução:
(PUC-SP-2001)
A QUESTÃO É COMEÇAR
Coçar e comer é só começar. Conversar e escrever também. Na fala, antes de iniciar, mesmo numa livre conversação, é necessário quebrar o gelo. Em nossa civilização apressada, o “bom dia”, o “boa tarde, como vai?” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol.
No escrever também poderia ser assim, e deveria haver para a escrita algo como conversa vadia, com que se divaga até encontrar assunto para um discurso encadeado. Mas, à diferença da conversa falada, nos ensinaram a escrever e na lamentável forma mecânica que supunha texto prévio, mensagem já elaborada. Escrevia-se o que antes se pensara. Agora entendo o contrário: escrever para pensar, uma outra forma de conversar. Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a certos rituais.
Fomos induzidos a, desde o início, escrever bonito e certo. Era preciso ter um começo, um desenvolvimento e um fim predeterminados. Isso estragava, porque bitolava, o começo e todo o resto. Tentaremos agora (quem? eu e você, leitor) conversando entender como necessitamos nos reeducar para fazer do escrever um ato inaugural; não apenas transcrição do que tínhamos em mente, do que já foi pensado ou dito, mas inauguração do próprio pensar. “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve antes, o leitor lê depois.” “Não!”, lhe respondo, “Não consigo escrever sem pensar em você por perto, espiando o que escrevo.
Não me deixe falando sozinho.” Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com interlocutores invisíveis, imprevisíveis, virtuais apenas, sequer imaginados de carne e ossos, mas sempre ativamente presentes. Depois é espichar conversas e novos interlocutores surgem, entram na roda, puxam assuntos. Termina-se sabe Deus onde.
(MARQUES, M.O. Escrever é Preciso, Ijuí, Ed. UNIJUÍ, 1997, p. 13).
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Observe a seguinte afirmação feita pelo autor:
“Em nossa civilização apressada, o “bom dia”, o “boa tarde” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol.”
Ela faz referência à função da linguagem cuja meta é “quebrar o gelo”.
Indique a alternativa que explicita essa função.
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(Pucpr 2004)
"Aula de Português"
A linguagem na ponta da língua,
tão fácil de falar e de entender.
A linguagem na superfície estrelada das estrelas,
sabe lá o que ela quer dizer?
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boitempo. In: "Poesia e Prosa". Rio: Nova Aguilar,1988.)
Em relação às duas estrofes do poema "Aula de Português", de Carlos Drummond de Andrade, assinale a alternativa INCORRETA:
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(Puccamp 2016) Comenta-se corretamente sobre o que se tem no trecho.
A questão a seguir refere-se ao trecho do capítulo 2 da obra Ginástica doce e yoga para crianças: método La Douce.
CAPÍTULO 2 (O CORPO)
Conhecer bem o corpo para fazê-lo trabalhar melhor
Cinco extremidades: a cabeça, as mãos, os pés
Para comunicar-se com tudo que a cerca, a criança usa a cabeça, as duas mãos e os dois pés. A cabeça permite-lhe ter acesso a todas as informações disponíveis. Sede do cérebro, ela fornece os recursos necessários para bem compreender seu ambiente. É igualmente através desta parte do corpo que penetram duas fontes de energia: o ar e o alimento. A cabeça se articula através do pescoço. Corredor estreito entre o cérebro e a parte inferior do corpo, o pescoço deve ser flexível para facilitar a qualidade das trocas. As mãos e os pés são verdadeiras antenas. Sua riqueza em terminações nervosas e vasos sanguíneos, assim como a possibilidade das inúmeras articulações, fazem deles instrumentos de extraordinária precisão.
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(Puccamp 2016)
Editorial
Na rotina de mãe de quatro filhos, a escritora israelense Ayelet Waldman começou a detectar em si mesma e em outras mães que conhecia uma ansiedade persistente, disparada pela frustração de não corresponder às próprias expectativas em relação à maternidade. Para piorar seu tormento, 1aonde quer que fosse, encontrava mulheres sempre prontas a apontar o dedo para seus defeitos, numa espécie de polícia materna, onipresente e onisciente. Em uma conversa deliciosa com a Revista em Dia, Ayelet discorre sobre as agruras das mães ruins, categoria na qual hoje se encaixa, e com orgulho. 2E ajuda a dissipar, com humor, o minhocário que não raro habita a cabeça das mães. Minhocário que, aliás, se não for bem administrado, pode levar a problemas muito mais sérios. 3É o que você verá na reportagem da página 14, que traz o foco para a depressão durante a gravidez. Poucos sabem, mas a doença pode ser deflagrada nessa fase e é bom que tanto as gestantes como outras pessoas ao redor fiquem atentas para que as mulheres nessa situação possam receber o apoio necessário. A revista também traz temas para quem a maternidade já é assunto menos relevante 4nesse momento da vida. Se você é daquelas que entraram ou consideram entrar na onda da corrida, terá boas dicas na página 18. 5Caso já esteja reduzindo o ritmo, quem sabe encontre inspiração para espantar a monotonia na crônica da página 8. Esperamos, com um grãozinho aqui, outro ali, poder contribuir um pouco para as várias facetas que compõem uma mulher saudável e de bem consigo mesma.
Comenta-se com correção:
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