Questão 3467

(PUC Camp - 2005)

De volta à Grécia

1. Os gregos não perderam a oportunidade de lembrar ao mundo que, neste ano, os jogos olímpicos estavam "voltando para casa". De fato, a tecnologia de hoje e os deuses mitológicos se encontraram num longo arco do tempo, num espetáculo de abertura em que os elementos essenciais (a água, a terra, o ar, o fogo) e os recursos eletrônicos se deram as mãos. Um Ulisses menino acenava de um barquinho nada épico, que parecia de papel; por meio de telões, um atleta em Olímpia e outro em Atenas comunicavam-se com tambores, num rito ao mesmo tempo primitivo e sofisticado. O deus Eros pairava em suaves acrobacias sobre o estádio, sugerindo que o Amor presidiria todos os eventos.

2. O fuso horário fez muita gente tresnoitar, no Brasil. Às três da madrugada, aqui, os barcos de lá já enfunavam as velas ao sol, quando os ventos muito fortes ou uma calmaria não suspendiam a largada. O telespectador brasileiro chegava estropiado ao fim de cada tarde, depois de realizar sua maratona particular. Cada modalidade esportiva traz duros desafios para corpos e mentes levados aos limites da resistência e da concentração. A lei da gravidade é desafiada nos saltos; a força das pernas e dos braços, nos arremessos e levantamentos; os reflexos e as iniciativas, nas lutas corporais; a explosão e a resistência muscular, nas provas de corrida; a disciplina e a técnica dos movimentos, nas artes ginásticas; o controle de uma bola, com as mãos ou com os pés, em tantos outros jogos.

3. Qual o sentido disso tudo? Em primeiro lugar, a expressão do instinto batalhador do homem, devidamente convertido em jogo; em segundo, o encontro dos povos e das raças, representados não por agentes da destruição, mas por mestres da competição; e por fim a certeza de que, enquanto brincam, os homens esquecem o despotismo e a tirania. Uma olimpíada não deixa de canalizar energias que poderiam se manifestar sob a forma de terrorismo, de genocídio, de lutas étnicas, de embates religiosos, de suicídios assassinos. Uma festa de encerramento, em que todos os atletas brincam livremente e o mundo se comove, não realiza de fato a harmonia universal, mas nos lembra a todos que ela é um forte desejo de muitos, ainda que utopia inatingível. Com todas as suas contradições, o legado da democracia da Grécia antiga ressurge um pouco, e talvez continue inspirador.

4. Como atleta olímpico de poltrona, sinto-me hipnotizado por cada um dos esportes. Torço pela parábola do dardo, do disco, do peso arremessados. Parece que a indumentária sintética vestida pelos nadadores ajudará no novo recorde, assim como a nova fibra de que são feitos os barcos, ou as bicicletas, ou as varas do salto em altura possibilitará novos índices. Que não falhem os trajes de proteção desses esgrimistas, que evocam combates medievais e filmes de capa e espada hollywoodianos. E é bom lembrar que em nenhuma das modalidades o perdedor é punido com a guilhotina revolucionária, a expatriação ou a perda dos direitos políticos: quem não ganhou sabe que participou e foi essencialmente necessário para a celebração do vencedor. Não se pergunta a um atleta da Irlanda se é católico ou protestante (talvez se deva perguntar se não é algum ex-padre com ambições de profeta...) nem a um sul-americano se prefere a ALCA ou o MERCOSUL, ou a um cubano se gostaria de substituir o socialismo por uma cadeia de supermercados: as ideologias e as diferenças culturais quase sempre conseguem atingir, nas olimpíadas, um ponto de sublimação. O fortíssimo esquema de segurança dos jogos de Atenas lembrava sempre, infelizmente, o estado do mundo em que vivemos. Por outro lado, a cor do mar e do céu gregos faz esquecer por algum tempo a imagem dos ares tomados pelo petróleo em chamas, da chuva ácida, da desertificação e dos desastres ecológicos.

5. Não deixam de impressionar as vocações de certas etnias e culturas para determinadas competições: o biotipo de alguns povos africanos é um trunfo em corridas de resistência; moças nórdicas, longilíneas, saltam sobre a vara como gazelas; a concentração e o reflexo dos orientais favorece-os no tênis de mesa e na peteca; russos, poloneses e búlgaros maciços dominam nos halteres. A decantada "malícia" dos brasileiros não poderia faltar: transparece no surpreendente (e desassistido) futebol feminino e no vôlei alegre e criativo.

6. A televisão fica menos chata: em vez das análises de modelos econômicos, da queda da bolsa e do superavit comercial, há mais espaço para singelas informações sobre a oliveira e o azeite. Em vez da globalização, fala-se de Sócrates e Platão; em vez dos saturados cenários metropolitanos, veem-se as ruínas em mármore branco em contraste com o mar turquesa. Mesmo alguns conceitos mais técnicos, como atrito e energia cinética, metabolismo e doping, quando ocorrem na boca de algum especialista, é para explicar fenômenos ligados às competições. Ao descrever o tipo de salto de uma ginasta, um entendido parecia estar dando uma aula de exótica geometria.

7. Findos os jogos, a impressão que se tem é de que também terminou um período de relativo armistício. Será preciso esperar mais quatro anos para que boa parte da humanidade possa de novo acessar, via satélite, imagens de disputas internacionais em que as regras do jogo e o talento humano triunfam sobre a irracionalidade e a violência.

(Danilo Assunção)

 

O significado do trecho "Não se pergunta a um atleta da Irlanda se é...", no parágrafo 4 do texto corresponde, em inglês, a 

A

It is not asked an Irish athlete if he is...

B
An Irish athlete is not asked if he is...
C
Do not ask an Irish athlete if he is...
D
One should not ask an Irish athlete if he is...
E
No asking an Irish athlete if he is...

Gabarito: An Irish athlete is not asked if he is...

Resolução:



Questão 1817

(PUC-SP-2001)

A QUESTÃO É COMEÇAR

Coçar e comer é só começar. Conversar e escrever também. Na fala, antes de iniciar, mesmo numa livre conversação, é necessário quebrar o gelo. Em nossa civilização apressada, o “bom dia”, o “boa tarde, como vai?” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol.

No escrever também poderia ser assim, e deveria haver para a escrita algo como conversa vadia, com que se divaga até encontrar assunto para um discurso encadeado. Mas, à diferença da conversa falada, nos ensinaram a escrever e na lamentável forma mecânica que supunha texto prévio, mensagem já elaborada. Escrevia-se o que antes se pensara. Agora entendo o contrário: escrever para pensar, uma outra forma de conversar. Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a certos rituais.

Fomos induzidos a, desde o início, escrever bonito e certo. Era preciso ter um começo, um desenvolvimento e um fim predeterminados. Isso estragava, porque bitolava, o começo e todo o resto. Tentaremos agora (quem? eu e você, leitor) conversando entender como necessitamos nos reeducar para fazer do escrever um ato inaugural; não apenas transcrição do que tínhamos em mente, do que já foi pensado ou dito, mas inauguração do próprio pensar. “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve antes, o leitor lê depois.” “Não!”, lhe respondo, “Não consigo escrever sem pensar em você por perto, espiando o que escrevo.

Não me deixe falando sozinho.” Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com interlocutores invisíveis, imprevisíveis, virtuais apenas, sequer imaginados de carne e ossos, mas sempre ativamente presentes. Depois é espichar conversas e novos interlocutores surgem, entram na roda, puxam assuntos. Termina-se sabe Deus onde.

 

(MARQUES, M.O. Escrever é Preciso, Ijuí, Ed. UNIJUÍ, 1997, p. 13).

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Observe a seguinte afirmação feita pelo autor:

“Em nossa civilização apressada, o “bom dia”, o “boa tarde” já não funcionam para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol.”

Ela faz referência à função da linguagem cuja meta é “quebrar o gelo”.

Indique a alternativa que explicita essa função.

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Questão 1833

(Pucpr 2004)

"Aula de Português"

 

A linguagem na ponta da língua,

tão fácil de falar e de entender.

A linguagem na superfície estrelada das estrelas,

sabe lá o que ela quer dizer?

 

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boitempo. In: "Poesia e Prosa". Rio: Nova Aguilar,1988.) 

 

 

Em relação às duas estrofes do poema "Aula de Português", de Carlos Drummond de Andrade, assinale a alternativa INCORRETA: 

 

 

 

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Questão 1838

(Puccamp 2016) Comenta-se corretamente sobre o que se tem no trecho.

 

A questão a seguir refere-se ao trecho do capítulo 2 da obra Ginástica doce e yoga para crianças: método La Douce.

 

CAPÍTULO 2 (O CORPO)

Conhecer bem o corpo para fazê-lo trabalhar melhor

Cinco extremidades: a cabeça, as mãos, os pés

Para comunicar-se com tudo que a cerca, a criança usa a cabeça, as duas mãos e os dois pés. A cabeça permite-lhe ter acesso a todas as informações disponíveis. Sede do cérebro, ela fornece os recursos necessários para bem compreender seu ambiente. É igualmente através desta parte do corpo que penetram duas fontes de energia: o ar e o alimento. A cabeça se articula através do pescoço. Corredor estreito entre o cérebro e a parte inferior do corpo, o pescoço deve ser flexível para facilitar a qualidade das trocas. As mãos e os pés são verdadeiras antenas. Sua riqueza em terminações nervosas e vasos sanguíneos, assim como a possibilidade das inúmeras articulações, fazem deles instrumentos de extraordinária precisão.

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Questão 1868

(Puccamp 2016)

Editorial

Na rotina de mãe de quatro filhos, a escritora israelense Ayelet Waldman começou a detectar em si mesma e em outras mães que conhecia uma ansiedade persistente, disparada pela frustração de não corresponder às próprias expectativas em relação à maternidade. Para piorar seu tormento, 1aonde quer que fosse, encontrava mulheres sempre prontas a apontar o dedo para seus defeitos, numa espécie de polícia materna, onipresente e onisciente. Em uma conversa deliciosa com a Revista em Dia, Ayelet discorre sobre as agruras das mães ruins, categoria na qual hoje se encaixa, e com orgulho. 2E ajuda a dissipar, com humor, o minhocário que não raro habita a cabeça das mães. Minhocário que, aliás, se não for bem administrado, pode levar a problemas muito mais sérios. 3É o que você verá na reportagem da página 14, que traz o foco para a depressão durante a gravidez. Poucos sabem, mas a doença pode ser deflagrada nessa fase e é bom que tanto as gestantes como outras pessoas ao redor fiquem atentas para que as mulheres nessa situação possam receber o apoio necessário. A revista também traz temas para quem a maternidade já é assunto menos relevante 4nesse momento da vida. Se você é daquelas que entraram ou consideram entrar na onda da corrida, terá boas dicas na página 18. 5Caso já esteja reduzindo o ritmo, quem sabe encontre inspiração para espantar a monotonia na crônica da página 8. Esperamos, com um grãozinho aqui, outro ali, poder contribuir um pouco para as várias facetas que compõem uma mulher saudável e de bem consigo mesma.

Comenta-se com correção:

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