Questão 40604

(UECE - 2019)

Observe a seguinte notícia: “O total de pessoas encarceradas no Brasil chegou a 726.712 em junho de 2016. Em dezembro de 2014, era de 622.202. Houve um crescimento de mais de 104 mil pessoas. Cerca de 40% são presos provisórios, ou seja, ainda não possuem condenação judicial. Mais da metade dessa população é de jovens de 18 a 29 anos e 64% são negros. [...] Os crimes relacionados ao tráfico de drogas são os que mais levam as pessoas às prisões, com 28% da população carcerária total. Somados, roubos e furtos chegam a 37%. [...] Quanto à escolaridade, 75% da população prisional brasileira não chegaram ao Ensino Médio. Menos de 1% dos presos tem graduação”.

Fonte: AGÊNCIA BRASIL, 08/12-2017. Em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-12/populacao-carceraria-do-brasil-sobe-de-622202-para-726712-pessoas

As informações apresentadas na notícia acima podem ser pensadas filosoficamente tomando-se por base

I. Foucault e sua teoria dos dispositivos disciplinares do poder.
II. Marx e sua teoria do Estado como instrumento da classe dominante.
III. Maquiavel e sua teoria do poder do príncipe.
IV. Aristóteles e seu conceito de justiça distributiva.

Estão corretas somente as complementações contidas em

A

I e II.

B

II e III.

C

III e IV.

D

I e IV.

Gabarito:

I e II.



Resolução:

a) I e II.

I. Correta. Foucault e sua teoria dos dispositivos disciplinares do poder.
Na perspectiva disciplinar de Foucault, a prisão funciona como um dispositivo de controle do indivíduo na medida que, em sua organização de exercer o poder, se apossa tanto da força física dos detentos – que são obrigados a trabalhar – quanto do seu tempo – uma vez que este é regulado – e da sua moral – já que visa reformar a moral do indivíduo considerado criminoso. O dispositivo disciplinar da prisão, ao se utilizar desses elementos, exerce controle sobre os corpos dos indivíduos.

II. Correta. Marx e sua teoria do Estado como instrumento da classe dominante.
Já na perspectiva marxista, pode-se analisar as informações a partir das questões de classe: para Marx, a classe que detém os meios de produção material detém também o poder de produção de ideias, por meio de seus produtos ideológicos. Uma vez que, segundo Marx, o aparato jurídico também é um instrumento de perpetuação dos interesses da classe dominante, a aplicação do direito penal serviria aos interesses da classe que detém o poder sobre os processos de criminalização de indivíduos, de modo que a criminalidade seria uma realidade social criada através da atribuição do status de criminoso a determinados indivíduos.  

III. Incorreta. Maquiavel e sua teoria do poder do príncipe.
Maquiavel não traria uma concepção crítica do tema. Ele inaugura a separação entre a ética e a política, fundando a ciência política como análise dos fatos sem o juízo de valor. Essa separação determina a distinção entre o fato e o ideal, isto é, daquilo que é, na realidade histórica e social, e daquilo que deve ser, no plano da normatividade e do ideal; a partir dessa distinção, Maquiavel introduz uma perspectiva política segundo a realidade factual, daquilo que ocorre em detrimento do que é ideal, pois, para ele, a política deve ser norteada pelas contingências históricas e não de ideais metafísicos. Assim, o pensador postula as concepções de fortuna e virtú: o príncipe deve ter a virtú para dominar a fortuna, isto é, a capacidade e a virtude de dominar o acaso e os acontecimentos que ocorrem casualmente para a permanência no poder. Em Maquiavel, é inaugurada a ideia do poder pelo poder.

IV. Incorreta. Aristóteles e seu conceito de justiça distributiva.
Aristóteles não problematiza essa questão. A justiça em Aristóteles é uma virtude prática ou moral, como a coragem e a temperança. Essas virtudes são hábitos que são adquiridos pela experiência, não extraídas de conceitos universais, mas da prática (diferentemente de Platão que foca na busca pela essência e o princípio universal da virtude de modo intelectivo). Segundo Aristóteles, a justiça está vinculada ao cumprimento e respeito à lei e a injustiça é o homem sem lei e ímprobo, cuja vinculação da justiça e do cumprimento da lei é temperada pela equidade. A justiça, para o filósofo, é a maior das virtudes, a virtude completa, pois é uma virtude que é exercida em relação a si mesmo e ao próximo. Por isso, como a justiça é uma virtude relacional, está intimamente ligada à política e a vida em sociedade, na pólis.
Além disso, há as diferenciações entre justiça particular e universal. A justiça geral é a busca de todos pela felicidade, envolvendo a virtude, a justa medida, o bem comum e as normas da cidade; envolve o indivíduo e a prática da virtude, o que Guizão colocou. A justiça particular é individual, que se refere à igualdade, em direção à distruibuição, correção e troca.
Portanto, há sentidos distintos de justiça para o autor, sendo ela uma virtude que rege as relações dos homens na pólis. Retomando, o primeiro sentido de justiça, absoluto e geral, reflete o caráter e a virtude do indivíduo que o inclina a fazer e querer o justo, relacionado com a vontade, isto é, o homem justo. O segundo sentido, particular, volta-se ao agir correto em relação ao outro, em consonância com a igualdade, voltada aos tipos específicos de justiça, a distributiva, corretiva e recíproca.

 



Questão 1860

(UECE - 2014)

Os dois superlativos (ref. 2 e 3) emprestam ao poema um tom de

O portão fica bocejando, aberto
para os alunos retardatários.
Não há pressa em viver
nem nas ladeiras duras de subir,
1quanto mais para estudar a insípida cartilha.
Mas se o pai do menino é da oposição,
à 2ilustríssima autoridade municipal,
prima por sua vez da 3sacratíssima
autoridade nacional,
4ah, isso não: o vagabundo
ficará mofando lá fora
e leva no boletim uma galáxia de zeros.
A gente aprende muito no portão fechado.

ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Poesia e Prosa. Editora Nova Aguilar:1988. p. 506-507.

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Questão 1861

(Uece 2014) Atente para as seguintes afirmações sobre alguns dos elementos do texto.

 

O texto a seguir é um excerto retirado do primeiro parágrafo do artigo de opinião “Com um braço só”, escrito por J. R. Guzzo, que trata da corrupção na política. 1Um dos aspectos menos atraentes da personalidade humana é a tendência de muitas pessoas de só condenar os vícios que não praticam, ou pelos quais não se sentem atraídas. Um caloteiro que não fuma, não bebe e não joga, por exemplo, é frequentemente a voz que mais grita contra o cigarro, a bebida e os cassinos, mas fecha a boca, os ouvidos e os olhos, como 6os três prudentes macaquinhos orientais, quando o assunto é honestidade no pagamento de dívidas pessoais. É a velha história: 2o mal está 4sempre na alma dos outros. Pode até ser verdade, 5infelizmente, quando se trata da política brasileira, em que continua valendo, mais do que nunca, a máxima popular do 3“pega um, pega geral”.

Extraído do artigo ”Com um braço só”, de J.R. Guzzo. VEJA. 21/08/2013.

 

I. Os gramáticos modernos distinguem os advérbios frásicos (aqueles advérbios que modificam um elemento da frase, como em Ele correu muito.) dos advérbios extrafrásicos (aqueles que são exteriores à frase, estão no âmbito da enunciação, como em Ele, naturalmente, passou de primeira, não foi?). Esse segundo grupo congrega os advérbios avaliativos, isto é, que indicam uma avaliação do enunciador acerca do conteúdo enunciado. No texto em estudo, temos um advérbio frásico (ref. 4): “sempre”; e um advérbio extrafrásico (ref. 5): “infelizmente”.

II. Na expressão “os três prudentes macaquinhos orientais” (ref. 6), o artigo definido “os” confere a “três macaquinhos orientais” o status de informação conhecida.

III. O texto, embora constitua apenas um excerto do parágrafo original, apresenta a estrutura paragráfica canônica: tópico frasal ou introdução, desenvolvimento e conclusão.

 

Está correto o que se diz em

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Questão 1862

(UECE - 2008)

Assinale a alternativa em que todas as expressões destacadas têm valor de adjetivo.

A MEMÓRIA E O CAOS DIGITAL

Fernanda Colavitti

2A era digital trouxe inovações e facilidades para o homem que superou de longe o que 16a ficção previa até pouco tempo atrás. 1Se antes precisávamos correr em busca de informações de nosso interesse, hoje, úteis ou não, elas é que nos assediam: resultados de loterias, dicas de cursos, variações da moeda, ofertas de compras, notícias de atentados, ganhadores de gincanas, etc. 11Por outro lado, 6enquanto cresce a capacidade dos discos rígidos e a velocidade das informações, o desempenho da memória humana está ficando cada vez mais comprometido. Cientistas são unânimes ao associar 3a rapidez das informações geradas pelo mundo digital com a restrição de nosso "disco rígido" natural. 10Eles ressaltam, porém, que 7o problema não está propriamente 4nas novas tecnologias, mas 5no uso exagerado delas, o que faz com que deixemos de lado atividades mais estimulantes, como a leitura, que envolvem diversas funções do cérebro. Os mais prejudicados por esse processo têm sido crianças e adolescentes, cujo desenvolvimento neuronal acaba sendo moldado preguiçosamente. Responda sem pensar: qual era a manchete do jornal de ontem? Você lembra o nome da novela que 12antecedeu o Clone? E quem era o técnico da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1994? Não ter uma resposta imediata para essas perguntas não deve ser causa de preocupação para ninguém, mas exemplifica bem o problema constatado pela fonoaudióloga paulista Ana Maria Maaz Alvarez, que há mais de 20 anos estuda a relação entre audição e recordação. A pedido de duas empresas, 8ela realizou uma pesquisa para saber o que estava ocorrendo com os funcionários que reclamavam com frequência de lapsos de memória. Foram entrevistados 71 homens e mulheres, com idade de 18 e 42 anos. 9A maioria dos esquecimentos era de natureza auditiva, como nomes que acabavam de ser ouvidos ou assuntos discutidos. (Por falar nisso, responda sem olhar no parágrafo anterior: você lembra o nome da pesquisadora citada?) Ana Maria 13descobriu que os lapsos de memória resultavam basicamente do excesso de informação em consequência do tipo de trabalho que essas pessoas exerciam nas empresas, e do pouco tempo que 14dispunham para processá-las, somados à angústia de querer saber mais e ao excesso de atribuições. "Elas não se detinham no que estava sendo dito (lido, ouvido ou visto) e, consequentemente, não 15conseguiam gravar os dados na memória", afirma.

(Fonte Internet: Superinteressante, 2001).

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Questão 1974

(UECE-2007)

A PEDREIRA

Daí à pedreira, restavam apenas uns cinqüenta passos e o chão era já todo coberto por uma farinha de pedra moída que sujava como a cal.
Aqui, ali, por toda a parte, encontravam-se trabalhadores, uns ao sol, outros debaixo de pequenas barracas feitas de lona ou de folha de palmeira. De um lado cunhavam pedra cantando; de outro a quebravam a picareta; de outro afeiçoavam lajedos a ponta de picão; mais adiante faziam paralelepípedos a escopro e macete. E todo aquele retintim de ferramentas, e o martelar da forja, e o corpo dos que lá em cima brocavam a rocha para lançar-lhe fogo, e a surda zoada ao longe, que vinha do cortiço, como de uma aldeia alarmada; tudo dava a idéia de uma atividade feroz, de uma luta de vingança e de ódio. Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de calor, desvairados de insolação, a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a pedra, pareciam um punhado de demônios revoltados na sua impotência contra o impassível gigante que os contemplava com desprezo, imperturbável a todos os golpes e a todos os tiros que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido que lhe abrissem as entranhas de granito. O membrudo cavouqueiro havia chegado à fralda do orgulhoso monstro de pedra; tinha-o cara a cara, mediu-o de alto a baixo, arrogante, num desafio surdo.
A pedreira mostrava nesse ponto de vista o seu lado mais imponente. Descomposta, com o escalavrado flanco exposto ao sol, erguia-se altaneira e desassombrada, afrontando o céu, muito íngreme, lisa, escaldante e cheia de cordas que, mesquinhamente, lhe escorriam pela ciclópica nudez com um efeito de teias de aranha. Em certos lugares, muito alto do chão, lhe haviam espetado alfinetes de ferro, amparando, sobre um precipício, miseráveis tábuas que, vistas cá de baixo, pareciam palitos, mas em cima das quais uns atrevidos pigmeus de forma humana equilibravamse, desfechando golpes de picareta contra o gigante.

(AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. 25a ed. São Paulo. Ática, 1992, 48-49)

Marque a alternativa na qual o sufixo eiro/eira está empregado com o mesmo sentido que em “pedreira” (linha 01).

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