(FGV - 2015)
Pela tarde apareceu o Capitão Vitorino. Vinha numa burra velha, de chapéu de palha muito alvo, com a fita verde- amarela na lapela do paletó. O mestre José Amaro estava sentado na tenda, sem trabalhar. E quando viu o compadre alegrou-se. Agora as visitas de Vitorino faziam-lhe bem. Desde aquele dia em que vira o compadre sair com a filha para o Recife, fazendo tudo com tão boa vontade, que Vitorino não lhe era mais o homem infeliz, o pobre bobo, o sem-vergonha, o vagabundo que tanto lhe desagradava. Vitorino apeou-se para falar do ataque ao Pilar. Não era amigo de Quinca Napoleão, achava que aquele bicho vivia de roubar o povo, mas não aprovava o que o capitão fizera com a D. Inês.
– Meu compadre, uma mulher como a D. Inês é para ser respeitada.
– E o capitão desrespeitou a velha, compadre?
– Eu não estava lá. Mas me disseram que botou o rifle em cima dela, para fazer medo, para ver se D. Inês lhe dava a chave do cofre. Ela não deu. José Medeiros, que é homem, borrou-se todo quando lhe entrou um cangaceiro no estabelecimento. Me disseram que o safado chorava como bezerro desmamado. Este cachorro anda agora com o fogo da força da polícia fazendo o diabo com o povo.
(José Lins do Rego, Fogo Morto)
A colocação do pronome está adequada à situação comunicativa da narrativa literária, mas está em desacordo com a norma-padrão, na seguinte passagem do texto
E quando viu o compadre alegrou-se.
Agora as visitas de Vitorino faziam-lhe bem.
... Vitorino não lhe era mais o homem infeliz, o pobre bobo...
... para ver se D. Inês lhe dava a chave do cofre.
Me disseram que o safado chorava como bezerro desmamado.
Gabarito:
Me disseram que o safado chorava como bezerro desmamado.
A questão pede para analisar em qual caso a colocação pronominal está em desacordo com a norma-padrão. Assim, temos que:
A) INCORRETA: a colocação de "alegrou-se" está correta, uma vez que é perceptível uma pausa entre os sentidos de "quando viu o compadre" e "alegrou-se". Logo, como há essa pausa, mesmo que não esteja evidente por vírgula, utilizar-se-á a ênclise.
B) INCORRETA: a colocação de "faziam-lhe" está correta, uma vez que não há nenhum termo que atrai o pronome oblíquo "lhe" para que ele esteja antes do verbo, mas, na verdade, segue a ordem comum (as visitas faziam bemobj. direto a Vitorino [lhe]obj. indireto). Logo, ocorre corretamente a ênclise.
C) INCORRETA: a colocação de "não lhe era" está correta, uma vez que a partícula de negação "não" é um termo que atrai o pronome oblíquo átono para que ele apareça antes do verbo. Logo, vemos a correta aplicação da próclise.
D) INCORRETA: a colocação de "lhe dava" está correta, uma vez que a conjunção "para" é uma espécie de artator de pronomes oblíquos para que eles ocorram antes do verbo. Como "lhe dava" completa diretamente o sentido de "para ver", utilizou-se a próclise corretamente nesse caso.
E) CORRETA: a colocação de "me disseram" está incorreta, uma vez que, em início de sentenças ou orações, deve-se utilizar obrigatoriamente a ênclise, ou seja, o pronome oblíquo átono logo após o verbo, unido a ele com um hífen. Dessa forma, o correto seria "Disseram-me que o safado chorava como bezerro desmamado".
(FGV - 2005)
Assinale a alternativa correta a respeito da frase "Toninho não era muito caprichoso. Vestiu a camisa de trás para a frente e saiu".
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(FGV - 2008)
No plural, a frase - Imposto direto sobre o contracheque era coisa, salvo engano, inexistente. - assume a seguinte forma:
Com a sociedade de consumo nasce a figura do contribuinte. Tanto quanto a palavra consumo ou consumidor, a palavra contribuinte está sendo usada aqui numa acepção particular. No capitalismo clássico, os impostos que recaíam sobre os salários o faziam de uma forma sempre indireta. Geralmente, o Estado taxava os gêneros de primeira necessidade, encarecendo-os. Imposto direto sobre o contra-cheque era coisa, salvo engano, inexistente. Com o advento da sociedade de consumo, contudo, criaram-se as condições políticas para que o imposto de renda afetasse uma parcela significativa da classe trabalhadora. Quem pode se dar ao luxo de consumir supérfluos ou mesmo poupar, pode igualmente pagar impostos.
Fernando Haddad, Trabalho e classes sociais. Em: Tempo Social, outubro de 1997.
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(FGV - 2008)
Assinale a alternativa em que a mudança da posição do adjetivo no texto altera o sentido da frase.
ESTAMOS CRESCENDO DEMAIS?
O nosso "complexo de vira-lata" tem múltiplas facetas. Uma delas é o medo de crescer. Sempre que a economia brasileira mostra um pouco mais de vigor, ergue-se, sinistro, um coro de vozes falando em "excesso de demanda" "retorno da inflação" e pedindo medidas de contenção.
O IBGE divulgou as Contas Nacionais do segundo trimestre de 2007. Não há dúvidas de que a economia está pegando ritmo. O crescimento foi significativo, embora tenha ficado um pouco abaixo do esperado. O PIB cresceu 5,4% em relação ao segundo trimestre do ano passado. A expansão do primeiro semestre foi de 4,9% em comparação com igual período de 2006.(...)
A turma da bufunfa não pode se queixar. Entre os subsetores do setor serviços, o segmento que está "bombando" é o de intermediação financeira e seguros - crescimento de 9,6%. O Brasil continua sendo o paraíso dos bancos e das instituições financeiras.
Não obstante, os porta-vozes da bufunfa financeira, pelo menos alguns deles, parecem razoavelmente inquietos. Há razões para esse medo? É muito duvidoso. Ressalva trivial: é claro que o governo e o Banco Central nunca podem descuidar da inflação. Se eu fosse cunhar uma frase digna de um porta-voz da bufunfa, eu diria (parafraseando uma outra máxima trivializada pela repetição): "O preço da estabilidade é a eterna vigilância".
Entretanto, a estabilidade não deve se converter em estagnação. Ou seja, o que queremos é a estabilidade da moeda nacional, mas não a estabilidade dos níveis de produção e de emprego.
A aceleração do crescimento não parece trazer grande risco para o controle da inflação. Ela não tem nada de excepcional.
O Brasil está se recuperando de um longo período de crescimento econômico quase sempre medíocre, inferior à média mundial e bastante inferior ao de quase todos os principais emergentes. O Brasil apenas começou a tomar um certo impulso. Não vamos abortá-lo por medo da inflação.
(Folha de S.Paulo, 13.09.2007. Adaptado)
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