Questão 38215

(FGV/RJ - 2016)  
 
[4]

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
que viva de guardar alheio gado,
de tosco trato, de expressões grosseiro,
dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio 1casal e nele 2assisto;
dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
das brancas ovelhinhas tiro o leite,
e mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
graças à minha estrela!
(...)

[5]

Tu não verás, Marília, cem cativos
tirarem o cascalho e a rica terra,
ou dos cercos dos rios caudalosos,
ou da minada serra.
 
Não verás separar ao hábil negro
do pesado esmeril a grossa areia,
e já brilharem os granetes de oiro
no fundo da 3bateia.
(...)
Não verás enrolar negros pacotes
das secas folhas do cheiroso fumo;
nem espremer entre as dentadas rodas
da doce cana o sumo.
 
Verás em cima da espaçosa mesa
4altos volumes de enredados feitos;
ver-me-ás folhear os grandes livros,
e decidir os pleitos.
 
Enquanto revolver os meus consultos,
tu me farás gostosa companhia,
lendo os fastos da sábia, mestra História,
e os cantos da poesia.

Tomás A. Gonzaga, Marília de Dirceu.

Glossário:
1casal: pequena propriedade rural.
2assisto: resido, moro.
3bateia: utensílio empregado no garimpo; espécie de gamela.
4altos volumes: referência a processos judiciais, pois o poeta era magistrado.

 
O excerto contém versos que atestam, de modo enfático, que, no Brasil, o Arcadismo, também chamado de Neoclassicismo,

A

desenvolveu-se em meio rural, ao contrário do caráter citadino que tinha no Velho Mundo.

B

procurou situar na realidade local os temas e formas de sua matriz europeia.

C

tornou-se nacionalista, abandonando o internacionalismo que é inerente a sua filiação classicista.

D

repudiou, em nome do maravilhoso cristão, as referências à mitologia pagã, greco-latina.

E

imiscuiu-se na política, o que lhe prejudicou a integridade estética.

Gabarito:

procurou situar na realidade local os temas e formas de sua matriz europeia.



Resolução:

a) Incorreta. Apesar de se desenvolver em meio rural (“Tenho próprio casal e nele assisto; / dá-me vinho, legume, fruta, azeite; / das brancas ovelhinhas tiro o leite, / e mais as finas lãs, de que me visto”), não há distanciamento em relação ao Arcadismo europeu, uma vez que ambos prezam pelo bucolismo.

b) Correta. Os versos “Tu não verás, Marília, cem cativos / tirarem o cascalho e a rica terra, / ou dos cercos dos rios caudalosos, / ou da minada serra” fazem nítida referência ao contexto econômico brasileiro, mantendo a matriz europeia.

c) Incorreta. A recorrência a tópos como carpe diem (“Enquanto revolver os meus consultos, / tu me farás gostosa companhia, / lendo os fastos da sábia, mestra História, / e os cantos da poesia”) indica que não houve abandono de preceitos árcades europeus.

d) Incorreta. Não há versos nos trechos selecionados que indiquem referência ao maravilhoso cristão ou pagão.

e) Incorreta. Há versos que indicam a ocupação de Dirceu, um magistrado (“Verás em cima da espaçosa mesa / altos volumes de enredados feitos; / ver-me-ás folhear os grandes livros, / e decidir os pleitos”), o que não prejudica a integridade estética da composição árcade.



Questão 1849

(FGV - 2005)

Assinale a alternativa correta a respeito da frase "Toninho não era muito caprichoso. Vestiu a camisa de trás para a frente e saiu".

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Questão 1850

(FGV)

Assinale a alternativa gramaticalmente correta.

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Questão 1855

(FGV - 2008)

No plural, a frase - Imposto direto sobre o contracheque era coisa, salvo engano, inexistente. - assume a seguinte forma:

Com a sociedade de consumo nasce a figura do contribuinte. Tanto quanto a palavra consumo ou consumidor, a palavra contribuinte está sendo usada aqui numa acepção particular. No capitalismo clássico, os impostos que recaíam sobre os salários o faziam de uma forma sempre indireta. Geralmente, o Estado taxava os gêneros de primeira necessidade, encarecendo-os. Imposto direto sobre o contra-cheque era coisa, salvo engano, inexistente. Com o advento da sociedade de consumo, contudo, criaram-se as condições políticas para que o imposto de renda afetasse uma parcela significativa da classe trabalhadora. Quem pode se dar ao luxo de consumir supérfluos ou mesmo poupar, pode igualmente pagar impostos.

Fernando Haddad, Trabalho e classes sociais. Em: Tempo Social, outubro de 1997.

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Questão 1863

(FGV - 2008)

Assinale a alternativa em que a mudança da posição do adjetivo no texto altera o sentido da frase.

ESTAMOS CRESCENDO DEMAIS?

O nosso "complexo de vira-lata" tem múltiplas facetas. Uma delas é o medo de crescer. Sempre que a economia brasileira mostra um pouco mais de vigor, ergue-se, sinistro, um coro de vozes falando em "excesso de demanda" "retorno da inflação" e pedindo medidas de contenção.

O IBGE divulgou as Contas Nacionais do segundo trimestre de 2007. Não há dúvidas de que a economia está pegando ritmo. O crescimento foi significativo, embora tenha ficado um pouco abaixo do esperado. O PIB cresceu 5,4% em relação ao segundo trimestre do ano passado. A expansão do primeiro semestre foi de 4,9% em comparação com igual período de 2006.(...)

A turma da bufunfa não pode se queixar. Entre os subsetores do setor serviços, o segmento que está "bombando" é o de intermediação financeira e seguros - crescimento de 9,6%. O Brasil continua sendo o paraíso dos bancos e das instituições financeiras.

Não obstante, os porta-vozes da bufunfa financeira, pelo menos alguns deles, parecem razoavelmente inquietos. Há razões para esse medo? É muito duvidoso. Ressalva trivial: é claro que o governo e o Banco Central nunca podem descuidar da inflação. Se eu fosse cunhar uma frase digna de um porta-voz da bufunfa, eu diria (parafraseando uma outra máxima trivializada pela repetição): "O preço da estabilidade é a eterna vigilância".

Entretanto, a estabilidade não deve se converter em estagnação. Ou seja, o que queremos é a estabilidade da moeda nacional, mas não a estabilidade dos níveis de produção e de emprego.

A aceleração do crescimento não parece trazer grande risco para o controle da inflação. Ela não tem nada de excepcional.

O Brasil está se recuperando de um longo período de crescimento econômico quase sempre medíocre, inferior à média mundial e bastante inferior ao de quase todos os principais emergentes. O Brasil apenas começou a tomar um certo impulso. Não vamos abortá-lo por medo da inflação.

(Folha de S.Paulo, 13.09.2007. Adaptado)

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