(Upe-ssa 2 2017) Texto 1
Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era uma criança, com fumos de homem, se um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por compaixão, o transportou para os seus livros.
Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou diante de mim a fronte pensativa, ou levantou para mim os olhos cobiçosos. De todas porém a que me cativou logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se há de dizer tudo ou nada. A que me cativou foi uma dama espanhola, Marcela, a “linda Marcela”, como lhe chamavam os rapazes do tempo. E tinham razão os rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo ela mesma, num dia de sinceridade, porque a opinião aceita é que nascera de um letrado de Madri, vítima da invasão francesa, ferido, encarcerado, espingardeado, quando ela tinha apenas doze anos.
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
Texto 2
Durante dois anos, o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo. Posto que lá na Rua do Hospício os seus negócios não corressem mal, custava-lhe a sofrer a escandalosa fortuna do vendeiro “aquele tipo! um miserável, um sujo, que não pusera nunca um paletó, e que vivia de cama e mesa com uma negra!”
À noite e aos domingos, ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fatigado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa da sala de jantar, e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum de bestas no coito.
E depois, fechado no quarto de dormir, indiferente e habituado às torpezas carnais da mulher, isento já dos primitivos sobressaltos que lhe faziam, a ele, ferver o sangue e perder a tramontana, era ainda a prosperidade do vizinho o que lhe obsedava o espírito, enegrecendo-lhe a alma com um feio ressentimento de despeito.
Tinha inveja do outro, daquele outro português que fizera fortuna, sem precisar roer nenhum chifre; daquele outro que, para ser mais rico três vezes do que ele, não teve de casar com a filha do patrão ou com a bastarda de algum fazendeiro freguês da casa!
Mas então, ele Miranda, que se supunha a última expressão da ladinagem e da esperteza; ele, que, logo depois do seu casamento, respondendo para Portugal a um ex-colega que o felicitava, dissera que o Brasil era uma cavalgadura carregada de dinheiro, cujas rédeas um homem fino empolgava facilmente; ele, que se tinha na conta de invencível matreiro, não passava afinal de um pedaço de asno comparado com o seu vizinho! Pensara fazer-se senhor do Brasil e fizera-se escravo de uma brasileira mal-educada e sem escrúpulos de virtude! Imaginara-se talhado para grandes conquistas, e não passava de uma vítima ridícula e sofredora!... Sim! no fim de contas qual fora a sua África?... Enriquecera um pouco, é verdade, mas como? a que preço? hipotecando-se a um diabo, que lhe trouxera oitenta contos de réis, mas incalculáveis milhões de desgostos e vergonhas! Arranjara a vida, sim, mas teve de aturar eternamente uma mulher que ele odiava! E do que afinal lhe aproveitar tudo isso? Qual era afinal a sua grande existência? Do inferno da casa para o purgatório do trabalho e vice-versa! Invejável sorte, não havia dúvida!
O Cortiço, de Aluízio de Azevedo
Considerando as características temáticas e estilísticas dos textos 1 e 2, analise as proposições a seguir.
I. O Texto 1 é um trecho de um importante romance de Machado de Assis, o qual destaca episódios da vida do próprio autor.
II. No Texto 1, é possível perceber costumes do cotidiano burguês numa cidade do século XIX, levando o leitor a constatar, pela postura individual do protagonista, um segmento social dosado de humor nas suas próprias experiências.
III. No Texto 2, é apresentado o comportamento decadente da sociedade burguesa da segunda metade do século XIX, em que prevalece o interesse individual.
IV. As personagens de Aluísio Azevedo, em O Cortiço, são alicerçadas nas ideias de Taine, presas ao ambiente e à hereditariedade, limitadas pelas questões sociais e pelo meio onde vivem suas experiências.
Estão CORRETAS:
I, II, III e IV.
I, III e IV, apenas.
II e III, apenas.
II, III e IV, apenas.
II e IV, apenas.
Gabarito:
II, III e IV, apenas.
I. O Texto 1 é um trecho de um importante romance de Machado de Assis, o qual destaca episódios da vida do próprio autor.Comentário: alternativa incorreta.O romance é a autobiografia de Brás Cubas, narrador protagonista que se apresenta, no primeiro capítulo, como um "defunto autor". O contexto narrativo criado é, portanto, fora do normal: um morto, cansado da vida eterna, resolve escrever suas memórias "póstumas".
II. No Texto 1, é possível perceber costumes do cotidiano burguês numa cidade do século XIX, levando o leitor a constatar, pela postura individual do protagonista, um segmento social dosado de humor nas suas próprias experiências.Comentário: alternativa correta. O cenário a qual a obra trabalha está inserida no cotidiano da burguesia carioca, em pleno século XIX.
III. No Texto 2, é apresentado o comportamento decadente da sociedade burguesa da segunda metade do século XIX, em que prevalece o interesse individual.Comentário: alternativa correta. O comportamento decadente da sociedade burguesa é o ponto central da discussão da obra e que reforça sobre o prevalecimento dos interesses individuais.
IV. As personagens de Aluísio Azevedo, em O Cortiço, são alicerçadas nas ideias de Taine, presas ao ambiente e à hereditariedade, limitadas pelas questões sociais e pelo meio onde vivem suas experiências.Comentário: alternativa correta. A obra "O cortiço" foi um romace naturalista escrito por Aluíso Azevedo a qual não demonstra tanta preocupaçãocom as próprias personagens. Seu objetivo principal é demonstrar a tese de que o ser humano é fruto do meio em que vive.
(Upe-ssa 2017) O gráfico a seguir traz o perfil de uma curva de titulação da adição de ácido sobre determinada amostra.
O gráfico indica que o titulado é uma
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(UPE SSA - 2016) Durante a Segunda Guerra Mundial, o estilo chamado ready-to-wear (pronto para usar), que é a forma de produzir roupas de qualidade em grande escala, realmente se desenvolveu. Por meio dos catálogos de venda por correspondência, com os últimos modelos, os pedidos podiam ser feitos de qualquer lugar e entregues em 24 horas pelos fabricantes.
CALADO, Selma Copiano. A moda na Segunda Guerra Mundial. Salvador: Unisal, p. 26. (Adaptado).
A principal causa socioeconômica para a proliferação desse estilo foi a
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(UPE/SSA - 2016) Leia o texto a seguir:
Tendo em vista que um dos principais sujeitos da sociedade civil organizada são os movimentos sociais, é importante registrar que os movimentos pela educação têm caráter histórico, são processuais e ocorrem, portanto, dentro e fora de escolas e em outros espaços institucionais. As lutas pela educação envolvem a luta por direitos e são parte da construção da cidadania. Movimentos sociais pela educação abrangem questões tanto de conteúdo escolar quanto de gênero, etnia, nacionalidade, religiões, portadores de necessidades especiais, meio ambiente, qualidade de vida, paz, direitos humanos, direitos culturais etc. Esses movimentos são fontes e agências de produção de saberes.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362006000100003 Acesso em: junho 2015.
A Educação é considerada um aspecto integrador do indivíduo com o grupo social e funciona como um instrumento de transmissão do patrimônio cultural de uma sociedade. No texto, a forma de transmissão da educação é denominada de
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(Upe-ssa 2017) Suponha que, em uma prova olímpica de ciclismo BMX, presente nos Jogos Olímpicos desde a Olimpíada de Pequim 2008, um atleta percorre um trecho de pista de corrida cujo corte lateral é mostrado na figura a seguir.
A partir desse corte, percebe-se que o atleta viaja por segmentos de pista retos e por semicírculos onde RD < RB < RE. Se o atleta pedala e utiliza os freios de forma a ter velocidade constante no trecho mostrado, o ponto de maior intensidade da reação normal da pista sobre a bicicleta é
Dados:
Considere o módulo da aceleração da gravidade como g = 10,0 m/s2 e a constante da gravitação universal como G = 6,7 × 10–11 m3 kg–1 s–2 e utilize π = 3.
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