Questão 53075

(UFU - 2018 - 2ª FASE)

De acordo com Kant, filósofo alemão que viveu entre 1724 e 1804,

“Nenhum conhecimento em nós precede a experiência e todo conhecimento começa com ela. Mas, embora todo o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele se origina da experiência. Pois, poderia bem acontecer que, mesmo o nosso conhecimento de experiência seja um composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo que nossa própria faculdade de conhecimento fornece de si mesma. (...) Tais conhecimentos denominam-se a priori e distinguem-se dos empíricos, que possuem suas fontes a posteriori, ou seja, na experiência.”
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Introdução, São Paulo, Abril Cultural, 1980, coleção Os Pensadores (adaptado).

Já Hume, filósofo escocês que viveu entre 1713 e 1784, cuja obra despertara o maior interesse em Kant, por sua vez escrevera

“O hábito é, pois, o grande guia da vida humana. É aquele princípio único que faz com que nossa experiência nos seja útil e nos leve a esperar, no futuro, uma sequência de acontecimentos semelhantes aos que se verificaram no passado. Sem a ação do hábito, ignoraríamos completamente toda questão de fato além do que está imediatamente presente à memória ou aos sentidos”
HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano, Seção IV, Parte II, 36. São Paulo, Abril Cultural, coleção Os Pensadores.

Comparando-se os trechos dos escritos desses dois pensadores, explique

A) o que é o ceticismo de Hume.

B) de que maneira cada um desses filósofos considera a experiência dos sentidos.

Gabarito:

Resolução:

a) David Hume não acredita que haja conceitos inatos na mente, isto é, nenhuma ideia a priori, pois todas as nossas ideias, para Hume, são adquiridas por meio da experiência sensorial. O ceticismo deriva-se da problemática da causa e efeito, na qual ele critica o racionalismo — oposto ao empirismo; o racionalismo, por sua vez, defende a existência de ideias inatas e necessárias, como a matemática.
O conceito de causa e efeito é construído a partir de uma noção apriorística da experiência: julgamos as nossas experiências, que algo causa outro algo, e que aquilo é causado por isto, por meio de uma noção racional que é anterior à experiência. Toda noção, por sua vez, é uma abstração, ou seja, é algo que é sempre necessário e universal.
O que o Hume quer fazer é questionar justamente essa ideia, afirmando que a noção adquirida de causa e efeito não foi da razão pura, mas de uma experiência da realidade. Porém, ele entende que, pela experiência, não podemos determinar se um conceito é universal e necessário. Deriva-se daí o ceticismo do Hume ao situar os conceitos como meros hábitos mentais construídos  a partir da experiência, sem a possibilidade de determinar conceitos universais.

b) David Hume, como empirista, compreende que todas as nossas ideias, para Hume, são adquiridas por meio da experiência sensorial. A razão opera de modo instrumental segundo as sensações, percepções e impressões recebidas pelos órgãos dos sentidos e retidas na memória. Os pensamentos possui menos expressividade do que as sensações. Ao se pensar sobre tais experiências e sensações, compreende-se que o pensamento ocorre como uma cópia imperfeita dos objetos. Portanto, existem dois tipos de percepções na mente: o primeiro, os pensamentos ou ideias, menos vivazes e não diretas; o segundo, as impressões, são as experiências imediatas dos objetos e as sensações, mais vivazes e diretas.

Kant, por sua vez, supõe que o que temos é a faculdade racional, as noções de espaço, tempo e as categorias (um inatismo que se opõe ao empirismo), que são uma condição de possibilidade da experiência. Porém, não há conhecimento sem experiência; temos apenas as condições inatas para a experiência, mas o conhecimento do que é possível conhecer só se dá por meio da experiência (vinculando o empirismo). Ou seja, também a experiência não produz a ideia, mas é a ocasião para que a ideia seja formulada pela razão, dando forma à matéria. As noções de espaço e tempo são duas categorias universais intuídas puramente pela razão, como formas puras, e não pela experiência, pois são condições para o entendimento da experiência.



Questão 2399

(UFU/MG)

Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado [...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
− Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.

Em relação aos versos citados do poema “Poética” e à obra Libertinagem, de Manuel Bandeira, marque a assertiva INCORRETA.

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Questão 2545

 (UFU-2006) Leia o trecho seguinte, de Triste fim de Policarpo Quaresma, que reproduz um diálogo de Ricardo Coração dos Outros com Quaresma e D. Adelaide.

“Oh! Não tenho nada novo, uma composição minha. O Bilac conhecem? (...)quis fazer-me uma modinha, eu não aceitei; você não entende de violão, Seu Bilac.

A questão não está em escrever uns versos certos que digam coisas bonitas; o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja. (...)

(...) vou cantar a Promessa, conhecem? Não disseram os dois irmãos. (...)h! Anda por aí como as ‘Pombas’ do Raimundo.”

 

Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma.

 

Parta do trecho lido para marcar a alternativa INCORRETA.

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Questão 3019

(Ufu 2016)  O jardim já vai se desmanchando na escuridão, mas Cristina ainda vê uma gravata (cinzenta?) saindo do bolso vermelho. Quer gritar de novo, mas a gravata cala a boca do grito, e já não adianta o pé querer se fincar no chão nem a mão querer fugir: o Homem domina Cristina e a mão dele vai puxando, o joelho vai empurrando, o pé vai castigando, o corpo todinho dele vai pressionando Cristina pra mata. Derruba ela no chão. Monta nela. O escuro toma conta de tudo.

O Homem aperta a gravata na mão feito uma rédea. Com a outra mão vai arrancando, vai rasgando, se livrando de tudo que é pano no caminho.

Agora o Homem é todo músculo. Crescendo.

Só afrouxa a rédea depois do gozo.

Cristina mal consegue tomar fôlego: já sente a gravata solavancando pro pescoço e se enroscando num nó. Que aperta. Aperta mais. Mais.

 

BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014. p. 82

 

 

Instantes derradeiros de O abraço, a passagem narra encontro de Cristina com o ‘Homem’. Levando-se em conta o enredo da obra até seu desenrolar nesses momentos finais, Cristina

 

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Questão 3021

(UFU - 2016 - 1ª FASE)

 

DIONISOS DENDRITES

Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas

Ramos nascem de seu peito

Pés percutem a pedra enegrecida

Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.

 

Acorre o vento ao círculo demente

O vinho espuma nas taças incendiadas.

Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços

Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas

E o vaticínio do tumulto à Noite –

Chegada do inverno aos lares

Fim de guerra em campos estrangeiros.

 

As bocas mordem colos e flancos desnudados:

À sombra mergulham faces convulsivas

Corpos se avizinham à vida fria dos valados

Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.

Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos

Mergulham no vórtice da festa consagrada.

 

E quando o Sol o ingênuo olhar acende

Um secreto murmúrio ata num só feixe

O louro trigo nascido das encostas.

 

SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.

 

Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse resgate do mito do deus Dionisos, o verso  

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