(UFU - 2020)
“Em análise do sistema carcerário do estado de São Paulo entre os anos de 2007 e 2014, a pesquisadora Dina Alves aponta que: ‘no período analisado, enquanto a taxa de encarceramento masculino aumentou em 48%, a taxa de mulheres encarceradas teve um aumento de 127%, evidenciando o crescimento proporcional das mulheres no sistema prisional. Ao traçar o perfil das 14.810 mulheres encarceradas, é possível visualizar uma linha de cor e de gênero nas prisões paulistanas: as negras compõem 67% do total; as jovens entre 18 e 29 anos representam 50%; as mulheres que não concluíram o ensino fundamental, 50%; e as que foram condenadas com penas de até oito anos de reclusão compõem o universo de 63%.’”
Alves, Dina. Rés negras, juízes brancos: uma análise da interseccionalidade de gênero, raça e classe na produção da punição em uma prisão paulistana. Revista CS, 21. Cali, Colombia: Facultad de Derecho y Ciencias Sociales, Universidad Icesi. 2017, pp. 97-120.
A) De que maneira a presença desproporcional de mulheres negras no sistema carcerário pode evidenciar a existência do racismo estrutural no Brasil?
B) Cite e explique duas políticas públicas ou ações de combate à desigualdade racial no contexto brasileiro atual.
Gabarito:
Resolução:
a) O termo “racismo estrutural”, conceituado a partir de Sílvio Almeida e Djamila Ribeiro, demonstra como o racismo é parte fundamental da estrutura social brasileira, pois o racismo pode moldar costumes, percepções, práticas sociais e demais aspectos cotidianos das relações interpessoais, bem como a orientação política e econômica de uma sociedade, a partir da naturalização do racismo. Historicamente, a população negra sofreu e sofre com a desigualdade econômica e social, e com o preconceito racial, o que colocava tal grupo em situação de vulnerabilidade econômica, política e cultural. Isso proporcionou que o povo negro fosse direcionado para as periferias, para o subemprego e a desvalorização da beleza negra a partir da mídia. Nesse contexto, vê-se um encaminhamento dos homens e das mulheres negras e pretas para a criminalidade, pela necessidade de sobrevivência. Logo, existe uma complexa relação entre raça e gênero para criar um estabelecimento para os dados estatísticos presentes no texto, demonstrando a preocupante dissonância numérica entre mulheres brancas e pretas cumprindo penas.
b) Uma das políticas de ações afirmativas em combate à desigualdade racial são as cotas para as Universidades Federais e reserva de vagas em concursos públicos, as quais buscam inserir a população negra no mercado e no Estado, em posições de destaque, para reparação histórica da exclusão racial.
Além das cotas, existe o Estatuto da igualdade racial, um documento legal que exige e corrobora para o papel do Estado na fundação e edificação de uma sociedade que não proporciona apenas inserção econômica da população negra, mas busca também valorizar e respeitar a cultura negra, as suas formas de religiosidade, as suas formas de manifestações culturais e artísticas.
(UFU/MG)
Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado [...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
− Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.
Em relação aos versos citados do poema “Poética” e à obra Libertinagem, de Manuel Bandeira, marque a assertiva INCORRETA.
Ver questão
(UFU-2006) Leia o trecho seguinte, de Triste fim de Policarpo Quaresma, que reproduz um diálogo de Ricardo Coração dos Outros com Quaresma e D. Adelaide.
“Oh! Não tenho nada novo, uma composição minha. O Bilac conhecem? (...)quis fazer-me uma modinha, eu não aceitei; você não entende de violão, Seu Bilac.
A questão não está em escrever uns versos certos que digam coisas bonitas; o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja. (...)
(...) vou cantar a Promessa, conhecem? Não disseram os dois irmãos. (...)h! Anda por aí como as ‘Pombas’ do Raimundo.”
Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma.
Parta do trecho lido para marcar a alternativa INCORRETA.
Ver questão
(Ufu 2016) O jardim já vai se desmanchando na escuridão, mas Cristina ainda vê uma gravata (cinzenta?) saindo do bolso vermelho. Quer gritar de novo, mas a gravata cala a boca do grito, e já não adianta o pé querer se fincar no chão nem a mão querer fugir: o Homem domina Cristina e a mão dele vai puxando, o joelho vai empurrando, o pé vai castigando, o corpo todinho dele vai pressionando Cristina pra mata. Derruba ela no chão. Monta nela. O escuro toma conta de tudo.
O Homem aperta a gravata na mão feito uma rédea. Com a outra mão vai arrancando, vai rasgando, se livrando de tudo que é pano no caminho.
Agora o Homem é todo músculo. Crescendo.
Só afrouxa a rédea depois do gozo.
Cristina mal consegue tomar fôlego: já sente a gravata solavancando pro pescoço e se enroscando num nó. Que aperta. Aperta mais. Mais.
BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014. p. 82
Instantes derradeiros de O abraço, a passagem narra encontro de Cristina com o ‘Homem’. Levando-se em conta o enredo da obra até seu desenrolar nesses momentos finais, Cristina
Ver questão
(UFU - 2016 - 1ª FASE)
DIONISOS DENDRITES
Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas
Ramos nascem de seu peito
Pés percutem a pedra enegrecida
Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.
Acorre o vento ao círculo demente
O vinho espuma nas taças incendiadas.
Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços
Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas
E o vaticínio do tumulto à Noite –
Chegada do inverno aos lares
Fim de guerra em campos estrangeiros.
As bocas mordem colos e flancos desnudados:
À sombra mergulham faces convulsivas
Corpos se avizinham à vida fria dos valados
Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.
Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos
Mergulham no vórtice da festa consagrada.
E quando o Sol o ingênuo olhar acende
Um secreto murmúrio ata num só feixe
O louro trigo nascido das encostas.
SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.
Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse resgate do mito do deus Dionisos, o verso
Ver questão