Questão 75030

(UFU - 2021 - MEDICINA)

As palavras, como as ideias, são inquietas, transgridem a forma que os cientistas das palavras as encaixam nos dicionários. Não pétreas, mas lapidáveis, as palavras no rolar do uso cotidiano vão dando sentido ao pensamento do homem, ainda que os sentidos se lhes escape por vezes. Um dos méritos de boa parte das palavras está em não significar apenas uma coisa, mas duas, três: tantos outros sentidos plurais quanto o ouvinte/leitor possa delas tirar. Não bastasse esse poder das palavras, o homem não cessa de manipulá-las criativamente. Temos isso no uso das gírias, nas transgressões cotidianas que as fazem saltar do modo formal para o informal e vice-versa. Sem falar no emprego de metáforas, gastas ou novas, muletas verbais e outras, de sentido provisório, como estrangeirismos, que tanto baratinam o sono dos “conservadores” da língua. Guimarães Rosa dizia: “as palavras têm canto e plumagem”, talvez por isso botaram em um de seus livros póstumos o título belíssimo de Ave, palavra. As palavras raramente estão onde o escritor as colocou, voam como pássaros; ou, como em “Procura da poesia”, Drummond pôde constatar: “sob a pele das palavras, há cifras e códigos”.

Este longo preâmbulo é para apresentar a análise de uma letra-canção da cantora e compositora Adriana Calcanhotto.

ARAÚJO, Eduardo. Questão de gosto. Conhecimento prático: Língua Portuguesa e Literatura. Ano 8, Edição 80. São Paulo: Editora Escala, 2020, p. 29.

A) Explique, com base na leitura do trecho apresentado, o sentido do enunciado “As palavras raramente estão onde o escritor as colocou, voam como pássaros”.

B) No trecho “Um dos méritos de boa parte das palavras está em não significar apenas uma coisa, mas duas, três: tantos outros sentidos plurais quanto o ouvinte/leitor possa delas tirar”, os dois pontos objetivam introduzir um enunciado que cumpre que tipo de função semântica em relação ao enunciado que o antecede? Explique.

Gabarito:

Resolução:



Questão 2399

(UFU/MG)

Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado [...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
− Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.

Em relação aos versos citados do poema “Poética” e à obra Libertinagem, de Manuel Bandeira, marque a assertiva INCORRETA.

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Questão 2545

 (UFU-2006) Leia o trecho seguinte, de Triste fim de Policarpo Quaresma, que reproduz um diálogo de Ricardo Coração dos Outros com Quaresma e D. Adelaide.

“Oh! Não tenho nada novo, uma composição minha. O Bilac conhecem? (...)quis fazer-me uma modinha, eu não aceitei; você não entende de violão, Seu Bilac.

A questão não está em escrever uns versos certos que digam coisas bonitas; o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja. (...)

(...) vou cantar a Promessa, conhecem? Não disseram os dois irmãos. (...)h! Anda por aí como as ‘Pombas’ do Raimundo.”

 

Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma.

 

Parta do trecho lido para marcar a alternativa INCORRETA.

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Questão 3019

(Ufu 2016)  O jardim já vai se desmanchando na escuridão, mas Cristina ainda vê uma gravata (cinzenta?) saindo do bolso vermelho. Quer gritar de novo, mas a gravata cala a boca do grito, e já não adianta o pé querer se fincar no chão nem a mão querer fugir: o Homem domina Cristina e a mão dele vai puxando, o joelho vai empurrando, o pé vai castigando, o corpo todinho dele vai pressionando Cristina pra mata. Derruba ela no chão. Monta nela. O escuro toma conta de tudo.

O Homem aperta a gravata na mão feito uma rédea. Com a outra mão vai arrancando, vai rasgando, se livrando de tudo que é pano no caminho.

Agora o Homem é todo músculo. Crescendo.

Só afrouxa a rédea depois do gozo.

Cristina mal consegue tomar fôlego: já sente a gravata solavancando pro pescoço e se enroscando num nó. Que aperta. Aperta mais. Mais.

 

BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014. p. 82

 

 

Instantes derradeiros de O abraço, a passagem narra encontro de Cristina com o ‘Homem’. Levando-se em conta o enredo da obra até seu desenrolar nesses momentos finais, Cristina

 

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Questão 3021

(UFU - 2016 - 1ª FASE)

 

DIONISOS DENDRITES

Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas

Ramos nascem de seu peito

Pés percutem a pedra enegrecida

Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.

 

Acorre o vento ao círculo demente

O vinho espuma nas taças incendiadas.

Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços

Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas

E o vaticínio do tumulto à Noite –

Chegada do inverno aos lares

Fim de guerra em campos estrangeiros.

 

As bocas mordem colos e flancos desnudados:

À sombra mergulham faces convulsivas

Corpos se avizinham à vida fria dos valados

Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.

Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos

Mergulham no vórtice da festa consagrada.

 

E quando o Sol o ingênuo olhar acende

Um secreto murmúrio ata num só feixe

O louro trigo nascido das encostas.

 

SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.

 

Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse resgate do mito do deus Dionisos, o verso  

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