Questão 77672

(UFU - 2022)

 

A) Ao se falar sobre a esfera socioeconômica brasileira, Sérgio Buarque de Hollanda identifica um padrão em que o favoritismo, o conluio e o privilégio se sobrepõem à justiça por oportunidades no país.

 

[...] Assim, raramente se tem podido chegar, na esfera dos negócios, a uma adequada racionalização; o freguês ou o cliente há de assumir de preferência a posição do amigo. Não há dúvida de que, desse comportamento social, em que o sistema de relações se edifica essencialmente sobre laços diretos, de pessoa a pessoa, procedam os principais obstáculos que [...] se erigem contra a rígida aplicação das normas de justiça e de quaisquer prescrições legais.

HOLLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. 26.ed. São Paulo: Cia das Letras, 1995. p. 136

 

Considerando-se a explanação de Sérgio Buarque de Hollanda, discorra sobre como as culturas do favoritismo e da fraude são expostas no conto “O homem que sabia javanês”, de Lima Barreto, citando elementos do enredo.

B) Considerando-se a cultura do favoritismo e da fraude na conjuntura brasileira, redija um texto, comparando os personagens Castelo (do conto “O homem que sabia javanês”) e Hildegardo Brandão, o Cazuza (do conto “O único assassinato de Cazuza”), ambos criados por Lima Barreto, a partir do contraste entre o “vencedor” e o “perdedor” aos olhos da sociedade, refletindo sobre o contexto de suas trajetórias e suas escolhas morais. Considere a alegoria que cada um representa na realidade nacional, citando elementos dos enredos dos contos.

Gabarito:

Resolução:

A) O candidato deve associar o enredo do conto ao pensamento exposto no excerto citado. No texto de Lima Barreto, o narrador-protagonista, Castelo, logo no início afirma burlar respeitabilidades para poder viver, o que já significou até trabalhar como adivinho e feiticeiro. Ao longo do conto, descreve como ascendeu socialmente a partir da resposta fraudulenta a uma oportunidade de emprego: ser professor de javanês. Acabou sendo empregado por um barão já idoso, primeiramente para lecionar a língua que não dominava, e posteriormente para traduzir um livro que supostamente possuiria poderes mágicos. Já nesse ponto é possível notar a ironia do autor: motivado a seguir com a mentira após notar a admiração das pessoas pelo seu suposto conhecimento, Castelo ignora qualquer senso ético e aceita o emprego, mantendo o embuste até o fim. Trata-se de uma alegoria aos vícios disseminados na sociedade brasileira, constantemente atacados por Lima Barreto. A partir do bom relacionamento com o Barão, Castelo segue obtendo oportunidades, chegando à diplomacia. Aqui, nota-se a cultura do favoritismo: como ressalta Sergio Buarque de Hollanda, o Brasil possui uma cultura de negócios pouco racionalizada e nada justa, em que a amizade e o relacionamento com pessoas influentes acaba sendo mais importante profissionalmente que a própria capacidade técnica, o que acaba confinando o poder ao mesmo grupo de pessoas.

O candidato pode ainda acrescentar o peso satírico do conto ao expor crítica e ironicamente a cultura do favor na sociedade brasileira. Castelo não apresenta sinais de remorso ao contar sua história a seu amigo.

O candidato deve argumentar de maneira clara e coesa, de acordo com a norma culta da língua portuguesa, dominando os mecanismos linguísticos necessários ou indispensáveis para a construção da argumentatividade do texto.

 

B) O candidato deve estabelecer uma comparação argumentada entre Castelo e Cazuza. O primeiro, um cônsul que atingiu status na sociedade após uma escalada social baseada em golpes e mentiras: mesmo sem falar javanês, lecionou e traduziu a língua, além de publicar colunas no jornal sobre literatura javanesa; sem nada saber de linguística, representou o Brasil em um Congresso da disciplina; ao final do conto, como que zombando dos próprios escrúpulos, afirma que, se quisesse, poderia ser bacteriologista. Castelo narra, ao longo do conto, diversos episódios em que era admirado, o que retrata o fato de que era visto como um vencedor pela sociedade, de alto cargo e respeitado. Já Cazuza é o retrato dos que são vistos como derrotados: jamais obteve oportunidades acadêmicas, profissionais ou literárias, fosse por não ter os contatos certos, fosse por sua aparência não impressionar. Ao final do conto, relata um inusitado caso de sua infância pobre, em um morro carioca: acidentalmente mata um pintinho, fato que chama de “assassinato” e que claramente marca um trauma de arrependimento. O contraste entre os dois personagens fica, então, explícito: enquanto Castelo não demonstra nenhum remorso de sua trajetória fraudulenta, Cazuza opta por escolhas morais de justiça e correção, como sustentar e pagar o casal de negros que vivia com ele (prática não comum na época). No contexto da problemática sociedade brasileira retratada por Lima Barreto, é Castelo quem alegoriza o vencedor, e Cazuza, o perdedor.

O candidato deve argumentar de maneira clara e coesa, de acordo com a norma culta da língua portuguesa, dominando os mecanismos linguísticos necessários ou indispensáveis para a construção da argumentatividade do texto.



Questão 2399

(UFU/MG)

Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado [...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
− Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.

Em relação aos versos citados do poema “Poética” e à obra Libertinagem, de Manuel Bandeira, marque a assertiva INCORRETA.

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Questão 2545

 (UFU-2006) Leia o trecho seguinte, de Triste fim de Policarpo Quaresma, que reproduz um diálogo de Ricardo Coração dos Outros com Quaresma e D. Adelaide.

“Oh! Não tenho nada novo, uma composição minha. O Bilac conhecem? (...)quis fazer-me uma modinha, eu não aceitei; você não entende de violão, Seu Bilac.

A questão não está em escrever uns versos certos que digam coisas bonitas; o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja. (...)

(...) vou cantar a Promessa, conhecem? Não disseram os dois irmãos. (...)h! Anda por aí como as ‘Pombas’ do Raimundo.”

 

Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma.

 

Parta do trecho lido para marcar a alternativa INCORRETA.

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Questão 3019

(Ufu 2016)  O jardim já vai se desmanchando na escuridão, mas Cristina ainda vê uma gravata (cinzenta?) saindo do bolso vermelho. Quer gritar de novo, mas a gravata cala a boca do grito, e já não adianta o pé querer se fincar no chão nem a mão querer fugir: o Homem domina Cristina e a mão dele vai puxando, o joelho vai empurrando, o pé vai castigando, o corpo todinho dele vai pressionando Cristina pra mata. Derruba ela no chão. Monta nela. O escuro toma conta de tudo.

O Homem aperta a gravata na mão feito uma rédea. Com a outra mão vai arrancando, vai rasgando, se livrando de tudo que é pano no caminho.

Agora o Homem é todo músculo. Crescendo.

Só afrouxa a rédea depois do gozo.

Cristina mal consegue tomar fôlego: já sente a gravata solavancando pro pescoço e se enroscando num nó. Que aperta. Aperta mais. Mais.

 

BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014. p. 82

 

 

Instantes derradeiros de O abraço, a passagem narra encontro de Cristina com o ‘Homem’. Levando-se em conta o enredo da obra até seu desenrolar nesses momentos finais, Cristina

 

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Questão 3021

(UFU - 2016 - 1ª FASE)

 

DIONISOS DENDRITES

Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas

Ramos nascem de seu peito

Pés percutem a pedra enegrecida

Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.

 

Acorre o vento ao círculo demente

O vinho espuma nas taças incendiadas.

Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços

Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas

E o vaticínio do tumulto à Noite –

Chegada do inverno aos lares

Fim de guerra em campos estrangeiros.

 

As bocas mordem colos e flancos desnudados:

À sombra mergulham faces convulsivas

Corpos se avizinham à vida fria dos valados

Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.

Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos

Mergulham no vórtice da festa consagrada.

 

E quando o Sol o ingênuo olhar acende

Um secreto murmúrio ata num só feixe

O louro trigo nascido das encostas.

 

SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.

 

Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse resgate do mito do deus Dionisos, o verso  

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