(UFU - 2022)
A grande beleza
Em uma época de notícias que correm o globo de modo quase instantâneo, é uma honra poder desfrutar de reportagens angariadas à custa de tanto preparo, espera, maturação – feito com um bom queijo, um azeite ou um vinho, iguarias que remetem à “Alegria de comer”, título da reportagem de capa desta edição.
Foram longas e cheias de privações as jornadas de nossos repórteres. Alexandra Fuller cavalgou durante semanas para descrever, com tocante sensibilidade, a rudeza dos vaqueiros da Patagônia, que não hesitam em derramar o próprio sangue para preservar o apego à terra e a tradição da lida com o gado. Os jovens Kevin Damasio e Giulio Paletta conquistaram a confiança de haitianos que deixaram seu país para tentar a sorte no Brasil e, assim, viajaram com eles desde o Acre até o Centro de São Paulo.
O escritor Paul Salopek, por sua vez, segue sendo o ícone do que ele próprio chama de “jornalismo lento”. Se Paul não tem pressa, sobram-lhe fé, coração e coragem para levar adiante o projeto “Para Longe do Éden. Seu périplo de sete anos e 33.000 quilômetros refaz a rota percorrida há 60 mil anos pelos primeiros Homo sapiens, que partiram do que é hoje a Etiópia e chegaram até a Terra do Fogo, na extremidade da América do Sul, a derradeira paragem ocupada por esses ancestrais. Pelo caminho, Paul interage com refugiados de conflitos, peregrinos em busca de salvação, mercadores, nômades e deserdados de todo tipo, em encontros que lhe permitem revisitar a condição humana. Seu relato do último Natal em meio aos fiéis da Terra Santa tem, não por acaso, contornos bíblicos – um memorável experimento narrativo para os nossos tempos tão corrompidos pela ansiedade. “Durante a árdua e improvável caminhada, sempre me lembro”, conta ele, “do arrebatamento de Santo Agostinho ao exclamar: ‘Como demorei para te amar, ó beleza, tão antiga e tão nova’”.
Que essas belas histórias despertem a imaginação e o paladar dos leitores e possam ser debatidas alegremente ao redor de boa comida e bebida nas festas que se aproximam para celebrar o final de mais um ano.
RIBEIRO, Ronaldo. A grande beleza. National Geographic Brasil, dez. 2014. São Paulo: Editora Abril. p. 7. (Adaptado).
A) O texto acima cumpre a função de um editorial, que abre a edição de dezembro de 2014 da revista National Geographic Brasil. Explique a função do gênero do discurso editorial, justificando sua resposta com base na leitura do texto como um todo e/ou com base em trechos desse mesmo texto.
B) Relacione o texto acima a seu título (“A grande beleza”).
Gabarito:
Resolução:
A) O candidato deve explicitar a(s) função(ões) do gênero editorial (representa o posicionamento da revista ou jornal; comenta os assuntos que serão abordados em cada seção do jornal ou da revista; instiga o leitor a ler as reportagens, por meio de comentários de caráter argumentativo, salientando pontos que corroborem o posicionamento daquele suporte) e citar trechos do texto ou uma análise global para ilustrar essa(s) função(ões).
B) O candidato deve relacionar efetivamente o título ao conteúdo do texto, recuperando tópicos que expressem a intencionalidade do autor.
(UFU/MG)
Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado [...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
− Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem.
Em relação aos versos citados do poema “Poética” e à obra Libertinagem, de Manuel Bandeira, marque a assertiva INCORRETA.
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(UFU-2006) Leia o trecho seguinte, de Triste fim de Policarpo Quaresma, que reproduz um diálogo de Ricardo Coração dos Outros com Quaresma e D. Adelaide.
“Oh! Não tenho nada novo, uma composição minha. O Bilac conhecem? (...)quis fazer-me uma modinha, eu não aceitei; você não entende de violão, Seu Bilac.
A questão não está em escrever uns versos certos que digam coisas bonitas; o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja. (...)
(...) vou cantar a Promessa, conhecem? Não disseram os dois irmãos. (...)h! Anda por aí como as ‘Pombas’ do Raimundo.”
Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma.
Parta do trecho lido para marcar a alternativa INCORRETA.
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(Ufu 2016) O jardim já vai se desmanchando na escuridão, mas Cristina ainda vê uma gravata (cinzenta?) saindo do bolso vermelho. Quer gritar de novo, mas a gravata cala a boca do grito, e já não adianta o pé querer se fincar no chão nem a mão querer fugir: o Homem domina Cristina e a mão dele vai puxando, o joelho vai empurrando, o pé vai castigando, o corpo todinho dele vai pressionando Cristina pra mata. Derruba ela no chão. Monta nela. O escuro toma conta de tudo.
O Homem aperta a gravata na mão feito uma rédea. Com a outra mão vai arrancando, vai rasgando, se livrando de tudo que é pano no caminho.
Agora o Homem é todo músculo. Crescendo.
Só afrouxa a rédea depois do gozo.
Cristina mal consegue tomar fôlego: já sente a gravata solavancando pro pescoço e se enroscando num nó. Que aperta. Aperta mais. Mais.
BOJUNGA, Lygia. O abraço. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2014. p. 82
Instantes derradeiros de O abraço, a passagem narra encontro de Cristina com o ‘Homem’. Levando-se em conta o enredo da obra até seu desenrolar nesses momentos finais, Cristina
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(UFU - 2016 - 1ª FASE)
DIONISOS DENDRITES
Seu olhar verde penetra a Noite entre tochas acesas
Ramos nascem de seu peito
Pés percutem a pedra enegrecida
Cantos ecoam tambores gritos mantos desatados.
Acorre o vento ao círculo demente
O vinho espuma nas taças incendiadas.
Acena o deus ao bando: Mar de alvos braços
Seios rompendo as túnicas gargantas dilatadas
E o vaticínio do tumulto à Noite –
Chegada do inverno aos lares
Fim de guerra em campos estrangeiros.
As bocas mordem colos e flancos desnudados:
À sombra mergulham faces convulsivas
Corpos se avizinham à vida fria dos valados
Trêmulas tíades presas ao peito de Dionisos trácio.
Sussurra a Noite e os risos de ébrios dançarinos
Mergulham no vórtice da festa consagrada.
E quando o Sol o ingênuo olhar acende
Um secreto murmúrio ata num só feixe
O louro trigo nascido das encostas.
SILVA, Dora Ferreira da. Hídrias. São Paulo: Odysseus, 2004. p. 42-43.
Ao evocar a mitologia, Dora Ferreira reativa em seu poema o mito de Dionisos. Nesse resgate do mito do deus Dionisos, o verso
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