(UNICAMP - 2022 - 2ª fase)
O excerto a seguir é da música Ismália, do artista Emicida, e é cantada no documentário AmarElo – é tudo pra ontem. O trecho remete à chacina de Costa Barros, no Rio de Janeiro, em 2016. Em participação especial, Fernanda Montenegro declama o poema Ismália, de Alphonsus de Guimaraens (1870-1894), inserido na música do rapper.
Emicida:
Cinco vida interrompida
Moleques de ouro e bronze
Tiros e tiros e tiros
O menino levou 111
Quem disparou usava farda (Ismália)
Quem te acusou nem lá num tava (Ismália)
É a desunião dos preto junto à visão sagaz (Ismália)
De quem tem tudo, menos cor, onde a cor importa demais
Fernanda Montenegro:
“Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, num desvario seu,
Na torre, pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E, como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar..."
Emicida:
Olhei no espelho, Ícaro* me encarou:
"Cuidado, não voa tão perto do sol
Eles num guenta te ver livre, imagina te ver rei"
O abutre quer te ver no lixo pra dizer:
"Ó, num falei?!"
No fim das conta é tudo Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ter pele escura é ser Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
(Terminou no chão)
*No mito grego, Ícaro e Dédalo ficaram presos num labirinto, então construíram asas artificiais com cera e penas para fugirem voando. Dédalo alertou o filho para não voar perto do Sol, pois a cera poderia derreter; nem perto do mar, o que deixaria suas asas pesadas, fazendo-o cair. Ícaro não ouviu o conselho do pai e morreu no mar. |
a) Quem são as “Ismálias” na música de Emicida? Transcreva dois versos desse rap que justifiquem a sua resposta.
b) O excerto traz imagens simbólicas do voo. Explique o conselho de Ícaro na música, considerando o poema declamado e a denúncia de Emicida nesse rap.
Gabarito:
Resolução:
a) As “Ismálias” na música de Emicida são as imagens representativas da loucura e da falta de sentido, imagens essas que fazem alusão à musa enlouquecida de Alphonsus de Guimaraens, autor do poema que leva o mesmo nome. É possível deduzir isso, porque o cantor aponta as situações de modo que leve o seu ouvinte a pensar no quão absurdas elas são, como podemos ver em: “quem disparou usava farda (Ismália)” (ou seja, quem deveria proteger a população, acabando matando-a) e “Quem te acusou nem lá num tava (Ismália)” (representando a incoerência de algumas pessoas da sociedade - brancos - acusarem os cidadãos pretos, sendo que essas pessoas nem sabem da história inteiramente).
b) Pode-se entender o conselho de Ícaro como o modo do cantor de advertir seus companheiros negros a tomarem cuidado com o que eles fazem e com quem estiver por perto ao realizarem essas atitudes. Isso porque ele alude à musa Ismália, que enlouqueceu e quis alcançar o céu (ou seja, o auge da sua vida), mas acabou caindo e morrendo ao chão (isto é, sendo humilhado e desprezado pela sociedade). Emicida tenta advertir aos seus ouvintes que qualquer coisa que os negros fizerem, seja para alcançar grandes posições na sociedade, seja para agirem com boas atitudes e outros objetivos vai acabar provocando uma revolta na classe social tradicional: os brancos e os ricos. Essa informação é construída de tamanha certitude, porque ao longo da canção o cantor vai ressaltando o que aconteceu a pessoas negras que nada de errado fizeram: meninos jovens mortos por homens fardados, pessoas inocentes sendo indevidamente acusados, desunião entre pessoas de uma mesma raça, etc. Logo, a crítica é justamente de que as pessoas negras, mesmo conquistando ou visando conquistar grandes objetivos, vão ser prejudicadas pelo olhar de uma parte da sociedade.
(Unicamp 2016)
Em sua versão benigna, a valorização da malandragem corresponde ao elogio da criatividade adaptativa e da predominância da especificidade das circunstâncias e das relações pessoais sobre a frieza reducionista e generalizante da lei. Em sua versão maximalista e maligna, porém, a valorização da malandragem equivale à negação dos princípios elementares de justiça, como a igualdade perante a lei, e ao descrédito das instituições democráticas.
(Adaptado de Luiz Eduardo Soares, Uma interpretação do Brasil para contextualizar a violência, em C. A. Messeder Pereira, Linguagens da violência. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 23-46.)
Considerando as posições expressas no texto em relação à valorização da malandragem, é correto afirmar que:
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(UNICAMP - 2016 - 1ª fase)
É possível fazer educação de qualidade sem escola
É possível fazer educação embaixo de um pé de manga? Não só é, como já acontece em 20 cidades brasileiras e em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Decepcionado com o processo de “ensinagem”, o antropólogo Tião Rocha pediu demissão do cargo de professor da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e criou em 1984 o CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento).
Curvelo, no Sertão mineiro, foi o laboratório da “escola” que abandonou mesa, cadeira, lousa e giz, fez das ruas a sala de aula e envolveu crianças e familiares na pedagogia da roda. “A roda é um lugar da ação e da reflexão, do ouvir e do aprender com o outro. Todos são educadores, porque estão preocupados com a aprendizagem. É uma construção coletiva”, explica.
O educador diz que a roda constrói consensos. “Porque todo processo eletivo é um processo de exclusão, e tudo que exclui não é educativo. Uma escola que seleciona não educa, porque excluiu alguns. A melhor pedagogia é aquela que leva todos os meninos a aprenderem. E todos podem aprender, só que cada um no seu ritmo, não podemos uniformizar.”
Nesses 30 anos, o educador foi engrossando seu dicionário de terminologias educacionais, todas calcadas no saber popular: surgiu a pedagogia do abraço, a pedagogia do brinquedo, a pedagogia do sabão e até oficinas de cafuné. Esta última foi provocada depois que um garoto perguntou: “Tião, como faço para conquistar uma moleca?” Foi a deixa para ele colocar questões de sexualidade na roda.
Para resolver a falência da educação, Tião inventou uma UTI educacional, em que “mães cuidadoras” fazem “biscoito escrevido” e “folia do livro” biblioteca em forma de festa) para ajudar na alfabetização. E ainda colocou em uso termos como “empodimento”, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: “Pode [fazer tal coisa], Tião?” Seguida da resposta certeira: “Pode, pode tudo”.
Aos 66 anos, Tião diz estar convicto de que a escola do futuro não existirá e que ela será substituída por espaços de aprendizagem com todas as erramentas possíveis e necessárias para os estudantes aprenderem.
"Educação se faz com bons educadores, e o modelo escolar arcaico aprisiona e há décadas dá sinais de falência. Não precisamos de sala, recisamos de gente. Não precisamos de prédio, precisamos de espaços de aprendizado. Não precisamos de livros, precisamos ter todos os nstrumentos possíveis que levem o menino a aprender.”
Sem pressa, seguindo a Carta da Terra e citando Ariano Suassuna para dizer que “terceira idade é para fruta: verde, madura e podre”, Tião diz se entir “privilegiado” de viver o que já viveu e acreditar na utopia de não haver mais nenhuma criança analfabeta no Brasil. “Isso não é uma política e governo, nem de terceiro setor, é uma questão ética”, pontua.
(Qsocial, 09/12/2014. Disponível em http://www.cpcd.org.br/portfolio/e_possivel_fazer_educacao_de_qualidade_100_escola/.)
A partir da identificação de várias expressões nominais ao longo do texto, é correto afirmar que:
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(Unicamp 2016)
Em relação ao trecho “E ainda colocou em uso termos como ‘empodimento’, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: ‘Pode [fazer tal coisa], Tião?’ Seguida da resposta certeira: ‘Pode, pode tudo’”, é correto afirmar
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(Unicamp 2015)
Dados numéricos e recursos linguísticos colaboram para a construção dos sentidos de um texto.
Leia os títulos de notícias a seguir sobre as vendas do comércio no último Dia dos Pais.
Venda para o Dia dos Pais cresceu 2% em relação ao ano passado.
Adaptado de O Diário Online, 15/08/2014. Disponível em http://www.odiarioonline.com.br/noticia/26953/. Acessado em 20/08/2014.
Só 4 em cada 10 brasileiros compraram presentes no Dia dos Pais.
Época São Paulo, 17/08/2014. Disponível em http://epoca.globo.com/regional/sp/Consumo. Acessado em 20/08/2014.
Podemos afirmar que:
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