(UNICAMP - 2023 - 2ª fase)
É sobre isso e (não) está tudo bem
De tanto que o bordão se espalhou, os brasileiros querem saber: o tão falado “é sobre isso” é sobre o quê? A frase está por todo lado e em qualquer contexto – e sua principal função parece ser confirmar o que foi dito anteriormente. Há quem não suporte mais ouvi-lo. Como que prevendo essa discordância entre adeptos e detratores, os usuários da expressão passaram a acrescentar “e tá tudo bem” ao final da frase.
Segundo Luana de Conto, professora de Linguística na UFPR, a peculiaridade do bordão é o uso do “isso” como termo coringa, que remete a entidades abstratas. Essa abstração permite que se encaixe em basicamente qualquer assunto.
– O “isso” pode às vezes retomar um fato, uma afirmação, e todo um contexto comunicativo, explica de Conto.
O bordão pode também ser associado a uma cultura de positividade.
– Para mim, a frase remete a algo positivo, sim – diz a influenciadora Larissa Tomásia, que participou do BBB22. – Ela conforta. Uso em todos os meus vídeos nas redes sociais.
Tanta positividade pode não ser muito... positivo. Frases feitas repetidas à exaustão podem acabar escondendo sentimentos como a tristeza e a dor.
– Hoje, com as redes sociais, há uma necessidade de mostrar que estamos sempre bem o tempo todo – diz Larissa Polejack Brambatti, professora da UnB e especialista em saúde mental. - Só que ninguém está sempre bem. É preciso tomar cuidado com uma cultura de não entrar em contato com os sentimentos.
(Adaptado de TORRES, Bolívar. O Globo, Segundo Caderno, p. A1-A2, 24/04/2022.)
a) A partir do exemplo mencionado no texto e dos seus conhecimentos, defina o que é um “bordão”. O que teria facilitado, de acordo com o texto, o uso de “é sobre isso” como um bordão?
b) O texto menciona visões distintas sobre os usos de “é sobre isso”. Quais são essas visões? Como o texto remete implicitamente a tais visões antes de explicitá-las?
Gabarito:
Resolução:
a) Os "bordões" são, como mostra o texto, frases feitas, sem uma função morfossintática, que se repetem incessantemente, quase de forma viciosa e automática. Segundo a linguista Luana de Conto, o que facilitou o uso do "é sobre isso" foi o emprego do pronome "isso", que é abstrato o suficiente para se encaixar numa grandiosíssima variedade de assuntos.
b) No texto, existem duas visões sobre os usos de "é sobre isso". A primeira é representada no discurso de Larissa Tomásia, uma visão que reforça a "cultura de positividade"; a segunda, por sua vez, é representada no discurso da professora Larissa Polejack Brambatti, uma visão negativa que diz que a expressão ajuda a esconder os sentimentos verdadeiros. Essas visões são antecipadas no título do texto, com a palavra "não" entre parênteses, possibilitando duas leituras diferentes.
(Unicamp 2016)
Em sua versão benigna, a valorização da malandragem corresponde ao elogio da criatividade adaptativa e da predominância da especificidade das circunstâncias e das relações pessoais sobre a frieza reducionista e generalizante da lei. Em sua versão maximalista e maligna, porém, a valorização da malandragem equivale à negação dos princípios elementares de justiça, como a igualdade perante a lei, e ao descrédito das instituições democráticas.
(Adaptado de Luiz Eduardo Soares, Uma interpretação do Brasil para contextualizar a violência, em C. A. Messeder Pereira, Linguagens da violência. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 23-46.)
Considerando as posições expressas no texto em relação à valorização da malandragem, é correto afirmar que:
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(UNICAMP - 2016 - 1ª fase)
É possível fazer educação de qualidade sem escola
É possível fazer educação embaixo de um pé de manga? Não só é, como já acontece em 20 cidades brasileiras e em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Decepcionado com o processo de “ensinagem”, o antropólogo Tião Rocha pediu demissão do cargo de professor da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e criou em 1984 o CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento).
Curvelo, no Sertão mineiro, foi o laboratório da “escola” que abandonou mesa, cadeira, lousa e giz, fez das ruas a sala de aula e envolveu crianças e familiares na pedagogia da roda. “A roda é um lugar da ação e da reflexão, do ouvir e do aprender com o outro. Todos são educadores, porque estão preocupados com a aprendizagem. É uma construção coletiva”, explica.
O educador diz que a roda constrói consensos. “Porque todo processo eletivo é um processo de exclusão, e tudo que exclui não é educativo. Uma escola que seleciona não educa, porque excluiu alguns. A melhor pedagogia é aquela que leva todos os meninos a aprenderem. E todos podem aprender, só que cada um no seu ritmo, não podemos uniformizar.”
Nesses 30 anos, o educador foi engrossando seu dicionário de terminologias educacionais, todas calcadas no saber popular: surgiu a pedagogia do abraço, a pedagogia do brinquedo, a pedagogia do sabão e até oficinas de cafuné. Esta última foi provocada depois que um garoto perguntou: “Tião, como faço para conquistar uma moleca?” Foi a deixa para ele colocar questões de sexualidade na roda.
Para resolver a falência da educação, Tião inventou uma UTI educacional, em que “mães cuidadoras” fazem “biscoito escrevido” e “folia do livro” biblioteca em forma de festa) para ajudar na alfabetização. E ainda colocou em uso termos como “empodimento”, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: “Pode [fazer tal coisa], Tião?” Seguida da resposta certeira: “Pode, pode tudo”.
Aos 66 anos, Tião diz estar convicto de que a escola do futuro não existirá e que ela será substituída por espaços de aprendizagem com todas as erramentas possíveis e necessárias para os estudantes aprenderem.
"Educação se faz com bons educadores, e o modelo escolar arcaico aprisiona e há décadas dá sinais de falência. Não precisamos de sala, recisamos de gente. Não precisamos de prédio, precisamos de espaços de aprendizado. Não precisamos de livros, precisamos ter todos os nstrumentos possíveis que levem o menino a aprender.”
Sem pressa, seguindo a Carta da Terra e citando Ariano Suassuna para dizer que “terceira idade é para fruta: verde, madura e podre”, Tião diz se entir “privilegiado” de viver o que já viveu e acreditar na utopia de não haver mais nenhuma criança analfabeta no Brasil. “Isso não é uma política e governo, nem de terceiro setor, é uma questão ética”, pontua.
(Qsocial, 09/12/2014. Disponível em http://www.cpcd.org.br/portfolio/e_possivel_fazer_educacao_de_qualidade_100_escola/.)
A partir da identificação de várias expressões nominais ao longo do texto, é correto afirmar que:
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(Unicamp 2016)
Em relação ao trecho “E ainda colocou em uso termos como ‘empodimento’, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: ‘Pode [fazer tal coisa], Tião?’ Seguida da resposta certeira: ‘Pode, pode tudo’”, é correto afirmar
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(Unicamp 2015)
Dados numéricos e recursos linguísticos colaboram para a construção dos sentidos de um texto.
Leia os títulos de notícias a seguir sobre as vendas do comércio no último Dia dos Pais.
Venda para o Dia dos Pais cresceu 2% em relação ao ano passado.
Adaptado de O Diário Online, 15/08/2014. Disponível em http://www.odiarioonline.com.br/noticia/26953/. Acessado em 20/08/2014.
Só 4 em cada 10 brasileiros compraram presentes no Dia dos Pais.
Época São Paulo, 17/08/2014. Disponível em http://epoca.globo.com/regional/sp/Consumo. Acessado em 20/08/2014.
Podemos afirmar que:
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