(UNICAMP - 2023 - 2ª fase)
O livro Tarde (1919), de Olavo Bilac, abriga um de seus sonetos mais conhecidos, “Língua Portuguesa”, transcrito a seguir. Décadas depois, Caetano Veloso evocou esse poema na canção “Língua”, da qual citamos, também abaixo, a primeira parte e o refrão:
Língua Portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e amor sem brilho!
* ganga: material sem valor comercial, misturado aos minérios que se buscam no processo de mineração.
** clangor: som forte e agudo de alguns instrumentos de sopro.
*** trom: estrondo
**** procela: forte tempestade marítima
***** arrolo: canto para adormecer crianças
(BILAC, Olavo. Tarde. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1919, p. 16-17.)
Língua
Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala Mangueira! Fala!
Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica Latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
(...) (VELOSO, Caetano. Album Velô, Philips LP, 1984.)
a) Considerando o poema “Língua Portuguesa”, de Bilac, identifique os paradoxos nos versos “És, a um tempo, esplendor e sepultura” e “Amo-te, ó rude e doloroso idioma”. A seguir, explique o conflito que eles expressam.
b) Comparando os textos de Olavo Bilac e de Caetano Veloso, identifique e explique uma das formas pelas quais o segundo autor revisita o primeiro.
Gabarito:
Resolução:
a) No primeiro verso mencionado, o paradoxo está em a língua portuguesa ser caracterizada ao mesmo tempo como esplendor e sepultura, isto é, uma característica positiva e outra negativa. No segundo verso, o paradoxo está em o eu lírico definir a língua portuguesa como rude e dolorosa, mas ainda dizer que ama o idioma. O conflito se na relação do eu lírico com a língua portuguesa, que é ao mesmo tempo aquela em que Camões escreveu, mas possui uma sonoridade ruidosa. Ou seja, esse paradoxo que é mostrado nos versos está na própria impressão da língua portuguesa para o eu lírico.
b) RESPOSTA ESPERADA DA UNICAMP (diversas possibilidades): São vários os pontos de contato entre os dois textos. Em ambos os poemas, um parâmetro máximo de expressão e beleza da língua é a poesia de Camões, embora o soneto associe Camões à expressão lírico-sentimental, enquanto a canção de Caetano se utiliza de imagens mais concretas, como a de uma língua que “roça” a de Camões. O próximo exemplo permite um desenvolvimento mais sofisticado da intertextualidade: a “Flor do Lácio”, em Bilac evocada como “inculta e bela”, remete à ideia de que língua portuguesa foi a última língua neolatina formada a partir do latim vulgar; enquanto isso, em Caetano, ela é uma língua viva e dinâmica, que pode criar “profusão de paródias” e “confusão de prosódia”, ou mesmo palavras como “sambódromo”, de matrizes africana e grega. A própria canção de Caetano cria uma dessas “profusões de paródias” e, “roçando” o RAP, testa sonoridades e duração na prosódia. Em Bilac, a maior parte dos apelos à sonoridade da língua apresenta-se de forma negativa; parodicamente, em Caetano, essa mesma sonoridade (e essa mesma língua) é muito expressiva e criativa.
(Unicamp 2016)
Em sua versão benigna, a valorização da malandragem corresponde ao elogio da criatividade adaptativa e da predominância da especificidade das circunstâncias e das relações pessoais sobre a frieza reducionista e generalizante da lei. Em sua versão maximalista e maligna, porém, a valorização da malandragem equivale à negação dos princípios elementares de justiça, como a igualdade perante a lei, e ao descrédito das instituições democráticas.
(Adaptado de Luiz Eduardo Soares, Uma interpretação do Brasil para contextualizar a violência, em C. A. Messeder Pereira, Linguagens da violência. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 23-46.)
Considerando as posições expressas no texto em relação à valorização da malandragem, é correto afirmar que:
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(UNICAMP - 2016 - 1ª fase)
É possível fazer educação de qualidade sem escola
É possível fazer educação embaixo de um pé de manga? Não só é, como já acontece em 20 cidades brasileiras e em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Decepcionado com o processo de “ensinagem”, o antropólogo Tião Rocha pediu demissão do cargo de professor da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e criou em 1984 o CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento).
Curvelo, no Sertão mineiro, foi o laboratório da “escola” que abandonou mesa, cadeira, lousa e giz, fez das ruas a sala de aula e envolveu crianças e familiares na pedagogia da roda. “A roda é um lugar da ação e da reflexão, do ouvir e do aprender com o outro. Todos são educadores, porque estão preocupados com a aprendizagem. É uma construção coletiva”, explica.
O educador diz que a roda constrói consensos. “Porque todo processo eletivo é um processo de exclusão, e tudo que exclui não é educativo. Uma escola que seleciona não educa, porque excluiu alguns. A melhor pedagogia é aquela que leva todos os meninos a aprenderem. E todos podem aprender, só que cada um no seu ritmo, não podemos uniformizar.”
Nesses 30 anos, o educador foi engrossando seu dicionário de terminologias educacionais, todas calcadas no saber popular: surgiu a pedagogia do abraço, a pedagogia do brinquedo, a pedagogia do sabão e até oficinas de cafuné. Esta última foi provocada depois que um garoto perguntou: “Tião, como faço para conquistar uma moleca?” Foi a deixa para ele colocar questões de sexualidade na roda.
Para resolver a falência da educação, Tião inventou uma UTI educacional, em que “mães cuidadoras” fazem “biscoito escrevido” e “folia do livro” biblioteca em forma de festa) para ajudar na alfabetização. E ainda colocou em uso termos como “empodimento”, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: “Pode [fazer tal coisa], Tião?” Seguida da resposta certeira: “Pode, pode tudo”.
Aos 66 anos, Tião diz estar convicto de que a escola do futuro não existirá e que ela será substituída por espaços de aprendizagem com todas as erramentas possíveis e necessárias para os estudantes aprenderem.
"Educação se faz com bons educadores, e o modelo escolar arcaico aprisiona e há décadas dá sinais de falência. Não precisamos de sala, recisamos de gente. Não precisamos de prédio, precisamos de espaços de aprendizado. Não precisamos de livros, precisamos ter todos os nstrumentos possíveis que levem o menino a aprender.”
Sem pressa, seguindo a Carta da Terra e citando Ariano Suassuna para dizer que “terceira idade é para fruta: verde, madura e podre”, Tião diz se entir “privilegiado” de viver o que já viveu e acreditar na utopia de não haver mais nenhuma criança analfabeta no Brasil. “Isso não é uma política e governo, nem de terceiro setor, é uma questão ética”, pontua.
(Qsocial, 09/12/2014. Disponível em http://www.cpcd.org.br/portfolio/e_possivel_fazer_educacao_de_qualidade_100_escola/.)
A partir da identificação de várias expressões nominais ao longo do texto, é correto afirmar que:
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(Unicamp 2016)
Em relação ao trecho “E ainda colocou em uso termos como ‘empodimento’, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: ‘Pode [fazer tal coisa], Tião?’ Seguida da resposta certeira: ‘Pode, pode tudo’”, é correto afirmar
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(Unicamp 2015)
Dados numéricos e recursos linguísticos colaboram para a construção dos sentidos de um texto.
Leia os títulos de notícias a seguir sobre as vendas do comércio no último Dia dos Pais.
Venda para o Dia dos Pais cresceu 2% em relação ao ano passado.
Adaptado de O Diário Online, 15/08/2014. Disponível em http://www.odiarioonline.com.br/noticia/26953/. Acessado em 20/08/2014.
Só 4 em cada 10 brasileiros compraram presentes no Dia dos Pais.
Época São Paulo, 17/08/2014. Disponível em http://epoca.globo.com/regional/sp/Consumo. Acessado em 20/08/2014.
Podemos afirmar que:
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