(UNICAMP - 2024 - 2ª FASE)
A rotina do trabalho diário e a falta de tempo para dormir e sonhar, que acometem a maioria dos trabalhadores, são cruciais para o mal-estar da civilização contemporânea. É gritante o contraste entre a relevância do sonho, que marcou o passado da humanidade, e sua total banalização no mundo industrial globalizado. No século XXI, a busca pelo sono perdido envolve rastreadores de sono, colchões high-tech e uma variedade de remédios. Mesmo assim, a insônia impera. Com a falta do sono e dos sonhos, perdemos mais do que nossa saúde. O sono e o sonho possuem papéis culturais de compatibilização do passado, presente e futuro. Simplificando muito, é como se os sonhos fossem geradores de cenários e soluções com base na experiência passada e nas velhas estruturas vividas: sonhar com um futuro melhor está na essência do sonhar. A dificuldade humana de imaginar futuros alternativos se deve ao abandono do sonho. Não prestamos atenção aos sonhos, seja em casa, na escola ou no trabalho. E mesmo quando conseguimos lembrar nossos sonhos, muitas vezes eles retratam apenas desejos e medos individuais, ao invés de uma visão coletiva de um futuro melhor. Com nossa introspecção amortecida e nossa empatia sufocada, obstinadamente continuamos a avançar em direção ao momento mais perigoso da aventura humana.
(Adaptado de: RIBEIRO. S. O oráculo da noite: A história e a ciência do sonho. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. Marcelo Leite. “Para neurocientista Sidarta Ribeiro, sonhos são antídoto para extinção da espécie”. Folha de São Paulo. mai. 2022. Rebouças J. P. “Sonhar é preciso”. Agência de comunicação. UFRN, nov. 2022.)
Após a leitura do trecho acima, produzido a partir de livros e entrevistas do neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro,
a) explique a importância cultural do sono e do sonho para a história da humanidade, remetendo a quatro argumentos explorados no texto.
b) explique se é possível afirmar que Sidarta Ribeiro constrói uma utopia para o tempo presente. Na sua resposta, defina o conceito de utopia e dê um exemplo de utopia produzida no mundo contemporâneo.
Gabarito:
Resolução:
a) O autor considera o sono e o sonho como fatores extremamente importantes para explicar os desafios coletivos que assolam a sociedade. A insônia e o estresse, por exemplo, mostram como a sociedade atual não garante qualidade de vida às pessoas, apesar do desenvolvimento tecnológico. Mais do que isso, o sono e o sonho também são fundamentais para a construção de experiências coletivas, afetando a forma com que a sociedade enxerga o mundo e constrói suas culturas. Dessa forma, para o autor, uma sociedade que não sonha torna-se abatida e perde a vontade de buscar um mundo diferente no futuro.
b) Para o autor, o sonho é uma parte extremamente importante para que se pense no futuro com esperança. Dessa forma, Sidarta Ribeiro entende que a criação de uma utopia, isto é, a imaginação de um futuro perfeito em sociedade, só é possível caso exista uma sociedade em condições de pensar sobre o fututo, o que não é o caso. No mundo contemporâneo é possível pensar nas utopias enquanto um mundo sem todos os problemas causados pelas mudanças climáticas, por exemplo, ou com a diminuição da desigualdade social.
(Unicamp 2016)
Em sua versão benigna, a valorização da malandragem corresponde ao elogio da criatividade adaptativa e da predominância da especificidade das circunstâncias e das relações pessoais sobre a frieza reducionista e generalizante da lei. Em sua versão maximalista e maligna, porém, a valorização da malandragem equivale à negação dos princípios elementares de justiça, como a igualdade perante a lei, e ao descrédito das instituições democráticas.
(Adaptado de Luiz Eduardo Soares, Uma interpretação do Brasil para contextualizar a violência, em C. A. Messeder Pereira, Linguagens da violência. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 23-46.)
Considerando as posições expressas no texto em relação à valorização da malandragem, é correto afirmar que:
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(UNICAMP - 2016 - 1ª fase)
É possível fazer educação de qualidade sem escola
É possível fazer educação embaixo de um pé de manga? Não só é, como já acontece em 20 cidades brasileiras e em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Decepcionado com o processo de “ensinagem”, o antropólogo Tião Rocha pediu demissão do cargo de professor da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e criou em 1984 o CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento).
Curvelo, no Sertão mineiro, foi o laboratório da “escola” que abandonou mesa, cadeira, lousa e giz, fez das ruas a sala de aula e envolveu crianças e familiares na pedagogia da roda. “A roda é um lugar da ação e da reflexão, do ouvir e do aprender com o outro. Todos são educadores, porque estão preocupados com a aprendizagem. É uma construção coletiva”, explica.
O educador diz que a roda constrói consensos. “Porque todo processo eletivo é um processo de exclusão, e tudo que exclui não é educativo. Uma escola que seleciona não educa, porque excluiu alguns. A melhor pedagogia é aquela que leva todos os meninos a aprenderem. E todos podem aprender, só que cada um no seu ritmo, não podemos uniformizar.”
Nesses 30 anos, o educador foi engrossando seu dicionário de terminologias educacionais, todas calcadas no saber popular: surgiu a pedagogia do abraço, a pedagogia do brinquedo, a pedagogia do sabão e até oficinas de cafuné. Esta última foi provocada depois que um garoto perguntou: “Tião, como faço para conquistar uma moleca?” Foi a deixa para ele colocar questões de sexualidade na roda.
Para resolver a falência da educação, Tião inventou uma UTI educacional, em que “mães cuidadoras” fazem “biscoito escrevido” e “folia do livro” biblioteca em forma de festa) para ajudar na alfabetização. E ainda colocou em uso termos como “empodimento”, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: “Pode [fazer tal coisa], Tião?” Seguida da resposta certeira: “Pode, pode tudo”.
Aos 66 anos, Tião diz estar convicto de que a escola do futuro não existirá e que ela será substituída por espaços de aprendizagem com todas as erramentas possíveis e necessárias para os estudantes aprenderem.
"Educação se faz com bons educadores, e o modelo escolar arcaico aprisiona e há décadas dá sinais de falência. Não precisamos de sala, recisamos de gente. Não precisamos de prédio, precisamos de espaços de aprendizado. Não precisamos de livros, precisamos ter todos os nstrumentos possíveis que levem o menino a aprender.”
Sem pressa, seguindo a Carta da Terra e citando Ariano Suassuna para dizer que “terceira idade é para fruta: verde, madura e podre”, Tião diz se entir “privilegiado” de viver o que já viveu e acreditar na utopia de não haver mais nenhuma criança analfabeta no Brasil. “Isso não é uma política e governo, nem de terceiro setor, é uma questão ética”, pontua.
(Qsocial, 09/12/2014. Disponível em http://www.cpcd.org.br/portfolio/e_possivel_fazer_educacao_de_qualidade_100_escola/.)
A partir da identificação de várias expressões nominais ao longo do texto, é correto afirmar que:
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(Unicamp 2016)
Em relação ao trecho “E ainda colocou em uso termos como ‘empodimento’, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: ‘Pode [fazer tal coisa], Tião?’ Seguida da resposta certeira: ‘Pode, pode tudo’”, é correto afirmar
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(Unicamp 2015)
Dados numéricos e recursos linguísticos colaboram para a construção dos sentidos de um texto.
Leia os títulos de notícias a seguir sobre as vendas do comércio no último Dia dos Pais.
Venda para o Dia dos Pais cresceu 2% em relação ao ano passado.
Adaptado de O Diário Online, 15/08/2014. Disponível em http://www.odiarioonline.com.br/noticia/26953/. Acessado em 20/08/2014.
Só 4 em cada 10 brasileiros compraram presentes no Dia dos Pais.
Época São Paulo, 17/08/2014. Disponível em http://epoca.globo.com/regional/sp/Consumo. Acessado em 20/08/2014.
Podemos afirmar que:
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