Questão 33964

(IME - 2018/2019 - 2ª FASE )

Texto 2

O ELEFANTE

1 Fabrico um elefante
  de meus poucos recursos.
  Um tanto de madeira
  tirado a velhos móveis
5 talvez lhe dê apoio.
  E o encho de algodão,
  de paina, de doçura.
  A cola vai fixar
  suas orelhas pensas.
10 A tromba se enovela,
  é a parte mais feliz
  de sua arquitetura.
   
  Mas há também as presas,
  dessa matéria pura
15 que não sei figurar.
  Tão alva essa riqueza
  a espojar-se nos circos
  sem perda ou corrupção.
  E há por fim os olhos,
20 onde se deposita
  a parte do elefante
  mais fluida e permanente,
  alheia a toda fraude.
   
  Eis o meu pobre elefante
25 pronto para sair
  à procura de amigos
  num mundo enfastiado
  que já não crê em bichos
  e duvida das coisas.
30 Ei-lo, massa imponente
  e frágil, que se abana
  e move lentamente
  a pele costurada
  onde há flores de pano
35 e nuvens, alusões
  a um mundo mais poético
  onde o amor reagrupa
  as formas naturais.
   
  Vai o meu elefante
40 pela rua povoada,
  mas não o querem ver
  nem mesmo para rir
  da cauda que ameaça
  deixá-lo ir sozinho.
   
45 É todo graça, embora
  as pernas não ajudem
  e seu ventre balofo
  se arrisque a desabar
  ao mais leve empurrão.
50 Mostra com elegância
  sua mínima vida,
  e não há cidade
  alma que se disponha
  a recolher em si
55 desse corpo sensível
  a fugitiva imagem,
  o passo desastrado
  mas faminto e tocante.
  Mas faminto de seres
60 e situações patéticas,
  de encontros ao luar
  no mais profundo oceano,
  sob a raiz das árvores
  ou no seio das conchas,
65 de luzes que não cegam
  e brilham através
  dos troncos mais espessos.
  Esse passo que vai
  sem esmagar as plantas
70 no campo de batalha,
  à procura de sítios,
  segredos, episódios
  não contados em livro,
  de que apenas o vento,
75 as folhas, a formiga
  reconhecem o talhe,
  mas que os homens ignoram,
  pois só ousam mostrar-se
  sob a paz das cortinas
80 à pálpebra cerrada.
   
  E já tarde da noite
  volta meu elefante,
  mas volta fatigado,
  as patas vacilantes
85 se desmancham no pó.
  Ele não encontrou
  o de que carecia,
  o de que carecemos,
  eu e meu elefante,
90 em que amo disfarçar-me.
  Exausto de pesquisa,
  caiu-lhe o vasto engenho
  como simples papel.
  A cola se dissolve
95 e todo o seu conteúdo
  de perdão, de carícia,
  de pluma, de algodão,
  jorra sobre o tapete,
  qual mito desmontado.
100 Amanhã recomeço.

ANDRADE, Carlos Drummond de. O Elefante. 9ª ed. - São Paulo: Editora Record, 1983.

Considere os versos 68 a 80 do texto 2, transcritos abaixo:

“Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.”

Acerca de “vento”, “folhas” e “formiga”, pode-se afirmar que

A

significam a procura do poeta por novos “sítios”, ou seja, novo público, futuros leitores do poema.

B

são comparados ao “livro” que o poeta pretende escrever sob a paz das cortinas.

C

não constituem elementos naturais capazes de compreender e espelhar a natureza do “elefante”.

D

estão presentes no poema com o objetivo de exaltar o comportamento humano que só se mostra “sob a paz das cortinas / à pálpebra cerrada”.

E

eles não ignoram o que o homem ignora.

Gabarito:

eles não ignoram o que o homem ignora.



Resolução:

[E]

O poema evoca uma sociedade em que as relações são opacas e vazias, as relações humanas (histórico-sociais) são reificadas e a essência da vida não é percebida pelos homens. No entanto, como mostram os versos, há coisas que não ignoram "sítios", "segredos" e "episódios" os quais o homem já não observa. Essas coisas são o “vento”, “as folhas” e a “formiga”, cuja percepção (marcada pela condição de pequenez e/ou onipresença) é diferente e capta coisas além da dos homens. 

Sobre as demais afirmativas: 

a) o poeta não se identifica com esses "objetos" numa busca por novos "sítios". O que ele ressalta é que há sítios imperceptíveis à humanidade capturados por coisas menores, que servem de contraste para pensar a opacidade da visão humana sobre a existência; 

b) não há a ideia de que o poeta deseja escrever um livro "sob a paz das cortinas" — esse é o lugar em que se escondem os homens, alheios aos sítios e episódios que não estão registrados em livro algum. É necessário ir além de livros, cortinas e pálpebras para enxergar certas coisas, numa sensibilidade que, alegorizada no elefante, se confunde com a própria experiência poética; 

c) os elementos citados são naturais e, em certa medida, funcionam como espalhamento da sensibilidade contida no elefante. Como o vento, as folhas e as formigas, o animal inventado é uma exceção à visão opaca e vazia da sociedade, que ignora a natureza sensível de episódios e lugares cuja representação depende de elementos mínimos (folhas, formigas) ou infinitos (vento, folhas) para ser percebida — é o que busca o elefante, irmanado a essas formas mais elementares; 

d) o comportamento humano não é exaltado pelo eu lírico, e as imagens do vento, das folhas e das formigas são, justamente, o contraponto às limitações e prepotências da visão humana sobre uma existência mais sutil e sublime. 



Questão 992

(IME 2007) 

O gráfico acima apresenta a velocidade de um objeto em função do tempo. A aceleração média do objeto no intervalo de tempo de 0 a 4t é:   

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Questão 993

(IME 2007) Um cubo de material homogêneo, de lado L = 0,4 m e massa M = 40 kg, está preso  à extremidade superior de uma mola, cuja outra extremidade está fixada no fundo de um recipiente vazio. O peso do cubo provoca na mola uma deformação de 20 cm. Coloca-se água no recipiente até que o cubo fique com a metade de seu volume submerso. Se a massa específica da água é , a deformação da mola passa a ser: 

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Questão 994

(IME 2007)  Uma nave em órbita circular em torno da Terra usa seus motores para assumir uma nova órbita circular a uma distância menor da superfície do planeta. Considerando desprezível a variação da massa do foguete, na nova órbita: 

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Questão 995

(IME 2007) Um gás ideal sofre uma expansão isotérmica, seguida de uma compressão adiabática. A variação total da energia interna do gás poderá ser nula se, dentre as opções abaixo, a transformação seguinte for uma:

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