(Uenp 2010) Considere as alternativas abaixo e assinale a única que não pode ser considerada como causa do surgimento da filosofia na Grécia Clássica.
A filosofia pode ser considerada um “milagre grego”, sem ter qualquer relação com as circunstâncias históricas específicas da civilização helênica, surgiu como desdobramento espontâneo de suas formas de vida, devendo-se unicamente a genialidade do espírito grego.
Os poemas homéricos embora ricos em imaginação apenas raramente caem na descrição do monstruoso e do disforme, o que é raro entre as manifestações artísticas dos povos antigos, isso indica, que já na literatura homérica há uma preocupação com a harmonia, a proporção, o limite e a medida, categorias fundamentais para o desenvolvimento da filosofia, principalmente da ontologia.
O orfismo, que era uma espécie de religião privada, praticada pelos gregos, acreditava na imortalidade da alma, além disso, a religião órfica rompia com o naturalismo, e era difundida sem dogmas ou de custódios dos dogmas, deixando ampla liberdade para o pensamento filosófico.
O surgimento da polis, principalmente o desenvolvimento da ideia de lei e de justiça como expressão da vontade coletiva publica (democracia), e o consequente rompimento com modelos teocráticos de organização do Estado, privilegiando o espaço publico e o debate coletivo de ideias, é fator fundamental para o surgimento da filosofia entre os gregos.
Os gregos desenvolveram de forma considerável o pensamento cientifico na antiguidade clássica, por exemplo: transformaram em matemática os expedientes práticos para medir, contar e calcular; transformaram em astronomia aquilo que era pratica de adivinhação e previsão do futuro; transformaram em medicina as práticas misteriosas de grupos religiosos relacionadas com o conhecimento das causas e das curas das doenças.
Gabarito:
A filosofia pode ser considerada um “milagre grego”, sem ter qualquer relação com as circunstâncias históricas específicas da civilização helênica, surgiu como desdobramento espontâneo de suas formas de vida, devendo-se unicamente a genialidade do espírito grego.
Desde o final do século XIX, estudos históricos, arqueológicos, artísticos, literários e linguísticos corrigiram o exagero da tese do “milagre grego”, porém, nunca negaram que os gregos, de fato, imprimiram mudanças de qualidade tão profundas no que receberam do Oriente e das culturas precedentes (egípcios, persas, babilônicos, assírios e caldeus), que até pareciam ter criado sua própria cultura a partir de si mesmos. É preferível considerar uma originalidade dos gregos ao invés de um milagre.
(Uenp 2010)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Entrevista com Jean-Pierre Vernant
O francês Jean-Pierre Vernant é considerado o maior helenista vivo. Nome familiar aos estudantes de filosofia, o autor francês tem vários livros publicados em português, entre eles Universo, os Deuses, os Homens (Cia. das Letras), As Origens do Pensamento Grego (Bertrand Brasil), A Morte nos Olhos (Zahar), Mito e Sociedade na Grécia Antiga (José Olympio), Mito e Tragédia na Grécia Antiga (Perspectiva). Sai agora no Brasil outro volume fundamental, Entre Mito & Política, antologia de textos, uma espécie de "suma" de toda uma vida de pesquisador.
Nascido em 1914, Vernant participou ativamente da Resistência francesa e nunca abandonou sua vocação de militante. Fato que contrasta, em aparência, com o clichê do intelectual isolado em sua torre de marfim. Ao contrário, Vernant, que carrega a justa fama de ter colocado os estudos helênicos em outro nível, poderia lembrar que foi na Grécia antiga que o ser humano foi definido como animal político. No novo livro, ele trafega entre mito e política com dupla mão de direção: investigando o que há de político no mito e o que há de mítico na política. Tudo muito atual, embora às vezes ele fale de fatos e gente de 2.500 anos atrás. Na verdade, Vernant olha o passado para melhor entender o presente.
A civilização da Grécia antiga é comumente sintetizada entre nós numa fórmula: o milagre grego. O sr. aceita isso?
Vernant - Absolutamente não! Essa ideia, expressa por Renan e amplamente retomada depois dele, segundo a qual a Grécia, e somente a Grécia, teria inventado a razão, o pensamento científico, a filosofia e todos os grandes valores universais, parece-me inaceitável. É verdade que, por volta do século 7.º antes de nossa era, houve um conjunto de fenômenos complexos. Em primeiro lugar, a passagem de uma civilização oral para uma cultura escrita e de uma palavra poética e profética - a de Homero e Hesíodo - para um discurso lógico e demonstrativo - o de Platão e Aristóteles. Ao mesmo tempo, o antigo sistema de governo, mantido por um rei ou por um grupo aristocrático, dá lugar à organização da cidade (polis), na qual todos os cidadãos podem discutir igualmente e concorrer à decisão coletiva. No seio desse duplo processo cultural e político, é impossível discernir onde está a causa e o efeito. Entretanto, o triunfo do logos na era clássica foi desfavorável aos gregos, cuja civilização não tem, portanto, nada de miraculosa: na realidade, não tentavam compreender o que contradiz a esse princípio lógico de identidade, particularmente os fenômenos exteriores, que não se prestam a demonstrações nem ao cálculo. É por isso que não existiu na realidade uma física grega, por causa da ausência da experimentação e da aplicação do cálculo à realidade.
O surgimento e a afirmação do discurso lógico não deveriam levar ao desaparecimento do mito?
Vernant - Mythos significa apenas relato, narração, embora, entre os gregos, os termos mythos e logos não se oponham entre si. Essa palavra serve hoje para designar, na história do pensamento grego, uma tradição transmitida oralmente e que não se insere na ordem do racional. Observe que os mythoi (mitos) não são um apanágio dos gregos. Nossa ciência atual está repleta de mithos: por acaso o big-bang original de nossos cientistas seria muito diferente do chaos (caos) evocado por Hesíodo, esse camponês da Beócia do século 8.º antes de Cristo? As narrativas da origem transmitidas pelos mitos continuam inteiramente atuais na Grécia clássica, porque respondem a desafios relacionados com a identidade: o grego sabe de onde é porque conhece de cor todas essas histórias. Além disso, essas narrativas transmitem modos de ser e de comportar-se.
Em Homero, aprende-se a trabalhar, a navegar, a fazer a guerra e a morrer - afirmava Platão. A tradição mitológica define assim um estilo exemplar de existência, nos planos moral e estético, que para os gregos se confundem.
A mitologia assim descrita exprime o essencial da religião grega?
Vernant - Não. Apenas em parte. Naturalmente, ela se refere a deuses aos quais devem ser rendidas honras, junto aos quais os humanos se sentem inferiores ao nada e cujo brilho divino não chega até os mortais porque estes não são dignos. Mas a religião está relacionada também com a prática, com rituais que acompanham e ordenam todos os gestos da existência. De fato, a religião está em toda a parte, no modo de comer, de entrar e sair, de se reunir na "agorá". Nada separa a esfera religiosa da esfera civil: o religioso é político, o político é religioso. Na vida coletiva, a irreligião é inconcebível.
O Estado de São Paulo, Caderno 2, 05/08/2001
De acordo com o texto, é correto afirmar:
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(UENP - 2011)
As discussões iniciais sobre Lógica foram organizadas por Aristóteles no texto conhecido como “Organon”, onde o filósofo sistematiza e problematiza algumas das afirmações que tinham sido feitas pelos pré-socráticos (Parmênides, Heráclito) e por Platão. Sobre a lógica aristotélica é incorreto afirmar:
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(Uenp 2010)
Os bens têm sido divididos em três classes: alguns foram descritos como exteriores, e outros como relativos à alma ou ao corpo. Consideramos os bens que se relacionam com a alma como bens no mais próprio e verdadeiro sentido do termo, e como tais classificamos as ações e atividades psíquicas. Nosso parecer deve ser correto, pelo menos segundo essa antiga opinião, com a qual concordam muitos filósofos. Também é correto pelo fato de identificarmos o fim com certas ações e atividades, pois desse modo ele se inclui entre os bens da alma, e não entre os bens exteriores. Outra crença que se harmoniza com a nossa concepção é a de que o homem feliz vive bem e age bem, visto que definimos a felicidade como uma espécie de boa vida e boa ação. Além disso, todas as características que se costuma buscar na felicidade também parecem incluir-se na nossa definição. Com efeito, algumas pessoas identificam a felicidade com a virtude, outras com a sabedoria prática, outras com uma espécie de sabedoria filosófica, e outras, ainda, a identificam com tudo isso, ou uma delas, acompanhadas do prazer, ou sem que lhe falte o prazer, e finalmente outras incluem a prosperidade exterior.
Aristóteles, Ética a Nicômaco. Disponível em: http://filosofiauerj.files.wordpress.com/2007/05/etica-a-nicomaco-aristoteles.pdf, p.10.
Sobre a concepção Aristotélica de felicidade, assinale a alternativa correta.
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