FUVEST 2006

Questão 56900

(UERJ - 2006)

O líder

O sono do líder é agitado. A mulher sacode-o até acordá-lo do pesadelo. Estremunhado, ele se levanta, bebe um gole de água. Diante do espelho refaz uma expressão de homem de meia-idade, alisa os cabelos das têmporas, volta a se deitar. Adormece e a agitação recomeça. “Não, não!” debate-se ele com a garganta seca.

O líder se assusta enquanto dorme. O povo ameaça o líder? Não, pois se líder é aquele que guia o povo exatamente porque aderiu ao povo. O povo ameaça o líder? Não, pois se o povo escolheu o líder. O povo ameaça o líder? Não, pois o líder cuida do povo. O povo ameaça o líder?

Sim, o povo ameaça o líder do povo. O líder revolve-se na cama. De noite ele tem medo. Mas o pesadelo é um pesadelo sem história. De noite, de olhos fechados, vê caras quietas, uma cara atrás da outra. E nenhuma expressão nas caras. É só este o pesadelo, apenas isso. Mas cada noite, mal adormece, mais caras quietas vão se reunindo às outras, como na fotografia de uma multidão em silêncio. Por quem é este silêncio? Pelo líder. É uma sucessão de caras iguais como na repetição monótona de um rosto só. Nas caras não há senão a inexpressão. A inexpressão ampliada como em fotografia ampliada. Um painel e cada vez com maior número de caras iguais. É só isso. Mas o líder se cobre de suor diante da visão inócua de milhares de olhos vazios que não pestanejam. Durante o dia o discurso do líder é cada vez mais longo, ele adia cada vez mais o instante da chave de ouro. Ultimamente ataca, denuncia, denuncia, denuncia, esbraveja e quando, em apoteose, termina, vai para o banheiro, fecha a porta e, uma vez sozinho, encosta-se à porta fechada, enxuga a testa molhada com o lenço. Mas tem sido inútil. De noite é sempre maior o número silencioso. Cada noite as caras aproximam-se um pouco mais. Cada noite ainda um pouco mais. Até que ele já lhes sente o calor do hálito. As caras inexpressivas respiram – o líder acorda num grito. Tenta explicar à mulher: sonhei que... sonhei que... Mas não tem o que contar. Sonhou que era um líder de pessoas vivas.

(LISPECTOR, Clarice. Para não esquecer. São Paulo: Siciliano, 1992.)

No segundo parágrafo do texto, há uma pergunta que se repete – O povo ameaça o líder?

Essa pergunta é respondida por uma série de negativas, que culminam, contudo, em uma resposta afirmativa, no início do terceiro parágrafo – Sim, o povo ameaça o líder do povo. Todavia, esse jogo entre opostos não constitui contradição.

A justificativa que valida essa estrutura de argumentação está descrita em:

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Questão 57001

(UFF - 2006) 

El jugador de Quilmes, Leandro Desábato, 1saldrá hoy al mediodía en libertad, 2luego de pasar casi 48 horas en una comisaría y un centro de detención de San Pablo, en Brasil, 3tras haber sido acusado de "injuria calificada" por haber calificado de "negro de mierda" al delantero brasileño Grafite, del San Pablo, durante el encuentro que el San Pablo le ganó 3-1 a Quilmes, el miércoles por la noche en el estadio Morumbí (...). Grafite realizó la denuncia mientras se jugaba el segundo tiempo y, al término del encuentro, la policía detuvo a Desábato en el centro del campo y lo trasladó detenido.

"http://www.diegomanuel.com.ar"

Las expresiones "luego" (ref. 2) y "tras" (ref. 3) encierran una idea de: 

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Questão 57145

(UFRRJ-2006) Tal como acontece com os animais, os vegetais superiores também apresentam células com uma organização estrutural formando tecidos. Existe uma certa analogia entre alguns tecidos vegetais e determinados tecidos animais.
Esta analogia existe entre:

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Questão 57433

(PUC-MG - 2006)

A figura a seguir representa o corte plano de uma pista de skate, cuja equação é y = ax2.

Considerando-se AO = OD = 5 m e AB = DC = 4 m, pode-se afirmar que o valor do parâmetro a é:

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Questão 57570

(Ufpr 2006) 

PASSO NO RUMO CERTO

Na semana passada, a claque convocada para a inauguração de um aeroporto na cidade mineira de Uberlândia ouviu de Lula a seguinte frase: "Quero dizer que a crise é extremamente grave. Em horas de crise é preciso ter muita paciência para não tomar decisão precipitada, não se deixar levar pelo estado emocional, mas, sim, pela razão". Embora o presidente já tenha se manifestado a respeito da difícil situação política em diversas ocasiões (não raro para negar a sua realidade, como se tudo não passasse de uma alucinação coletiva promovida por prestidigitadores da elite, mas deixemos isso de lado), foi a primeira vez que ele uniu à palavra "crise" um advérbio de intensidade, "extremamente", e um adjetivo grandiloquente, "grave". O encadeamento de tais termos permite supor que Lula finalmente (no que pode ser considerado um advérbio de alívio) reconheceu a existência da fissura ética, política e criminosa que há mais de 100 dias se aprofunda mais e mais, levando o governo de cambulhada.

Nessa hipótese, e não se quer aqui evocar o doutor Pangloss, aquele personagem de Voltaire para quem todos vivíamos no melhor dos mundos, é uma ótima notícia o presidente ter admitido que o horizonte anda carregado. Pelo simples motivo de que, para sanar um problema, qualquer que seja ele, é preciso antes de mais nada reconhecer sua existência. Caberia agora a Lula contribuir para que a resolução da crise seja efetiva, não deixando margem à impressão olfativa de que tudo terminará em pizza. O presidente volta e meia afirma que não tem como interferir no andamento das investigações e das punições. Não é verdade. Pelo peso de seu cargo, e sem extrapolar suas atribuições constitucionais, Lula pode, sim, proceder a que corrompidos e corrompedores, no Legislativo e no Executivo, sintam na carne e na biografia que não sairão impunes dos crimes de desvio de dinheiro público, formação de quadrilha e tráfico de influência. Ao empenhar-se com afinco nesse objetivo, movido pela razão e sem emocionalismos, o presidente prestaria ao mesmo tempo um grande serviço ao Brasil e a si próprio.

(VEJA, Editorial, 07 jul. 2005.)

Num texto, podemos manifestar nossa opinião de forma clara, explícita, ou deixá-la nas entrelinhas. Todas as afirmativas a seguir são opiniões do autor que podemos deduzir do texto, EXCETO

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Questão 57704

(Ufu 2006)  Leia o fragmento de Sérgio Sant'anna, extraído da narrativa "Uma carta".

            "E o que realmente importaria, então, não seria o destinatário, nem mesmo a autora, mas a construção utópica, o gozo do corpo na razão, a carta em sua autonomia."

Parta do trecho apresentado para marcar a alternativa INCORRETA.      

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Questão 57965

(MACKENZIE - 2009)

STEELY MAN

By Sean Smith

 

Surely they're not going to kill Superman. Inside a soundstae in Sydney, Australia, Brandon Routh, as the Man of Steel, crawls across a black, wet wasteland, pursued by the evil Lex Luthor (Kevin Spacey) and Luthor's three henchmen. Of the thugs grabs Superman by this hair and shoves his face into a dark puddle, holding the hero's head underwater as he struggles for air. Luthor strides up behind Superman, stabs him in the back with some sort of Kryptonite shiv and whispers a sentence so ___ (I) ___ (and, for now, top secret) into his ear that Superman cries out in agony. 

He staggers to his feet, stumbles and topples backward over a cliff. Luthor walks to the edge, looks down into the abyss and sneers, “So long, Superman.” Playing this scene just once would be rough. Routh will be beaten and ___( II )___ for hours. “He’s very heroic ___( III )___ ,” says director Bryan Singer, sipping an iced vanilla latte. “You just happened to catch him on a bad day.”

By the time “Superman Returns” lands in theaters next summer, it will have taken Warner Bros. 11 torturous years to get the movie off the ground. At one point in the mid-1990s, Tim Burton was going to direct Nicolas Cage as the man in tights. The next big plan was “Superman vs. Batman”, directed by Wolfgang Petersen. Then, a few years ago J. J. Abrams, creator of the shows “Alias” and “Lost”, chipped in a “Superman” script that whipped up a frenzy around the lot. It was teeming with huge action sequences, but altered the Superman myth. (In Abrams’s version, the planet Krypton survived.) Director McG was dying to direct it, but couldn’t because he had committed to make “Charlie’s Angels: Full Throttle.” Brett Ratner signed on, but tussled with the studio over the budget – at one point it was estimated at more than $200 million – and left after six months. McG then stepped back in to direct, but location became a problem. By shooting in Australia, the studio could shave about $30 million off the budget. McG refused to fly, so the studio showed him the door.

(Adapted from Newsweek)

 

The words which properly fill in blanks I, II and III in the text are:

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Questão 58262

(Mackenzie) (...) Parecera-me então que a demagogia tenentista, aquele palavrório chocho, nos meteria no atoleiro. Ali estava o resultado: ladroagens, uma onda de burrice a inundar tudo, confusão, mal-entendidos, charlatanismo, energúmenos microcéfalos vestidos de verde a esgoelar-se em discursos imbecis, a semear delações. O levante do 3º Regimento e a revolução de Natal haviam desencadeado uma perseguição feroz. Tudo se desarticulava, sombrio pessimismo anuviava as almas, tínhamos a impressão de viver numa bárbara colônia alemã. Pior: numa colônia italiana.

Este trecho das Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, se refere a um período dos mais conturbados da vida política brasileira. Trata-se:

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Questão 58845

(UERJ 2006)

NEM A ROSA, NEM O CRAVO

As frases perdem seu sentido, as palavras perdem sua significação costumeira, como dizer das árvores e das flores, dos teus olhos e do mar, das canoas e do cais, das borboletas nas árvores, quando as crianças são assassinadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita beleza dos campos e das cidades, quando as bestas soltas no mundo ainda destroem os campos e as cidades?

Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados destruíram os trigais e os povos morrem de fome. Como falar, então, da beleza, dessa beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do teu rosto na tarde? Não posso falar dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias de todos os instantes. Porque elas estão perigando, todas elas, os trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. (...) 1Sobre toda a beleza paira a sombra da escravidão. É como u'a nuvem inesperada num céu azul e límpido. Como então encontrar palavras inocentes, doces palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido destas palavras, destas frases, elas me soam como uma traição neste momento.

(...)

Mas eu sei todas as palavras de ódio e essas, sim, têm um significado neste momento. 2Houve um dia em que eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as frases mais trabalhadas.

3Hoje só o ódio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo. Só o ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, um ódio sem perdão, um ódio que venha do coração e que nos tome todo, que se faça dono de todas as nossas palavras, que nos impeça de ver qualquer espetáculo - desde o crepúsculo aos olhos da amada - sem que junto a ele vejamos o perigo que os cerca.

4Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança. Jamais os livros diriam coisas belas, nunca mais seria escrito um verso de amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte e sobre o mar, sobre teus olhos também, se debruçaria a desonra que é o nazifascismo, se eles tivessem conseguido dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela de beleza, a mais mínima. Amanhã saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje só sei palavras de ódio, palavras de morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra aqueles que amam as trevas e a desgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos de podridão que sonharam esmagar a poesia, o amor e a liberdade!

(AMADO, Jorge. Folha da Manhã, 22/04/1945.)

O enunciador do texto defende, como modo de reação às crueldades referidas, a utilização das mesmas armas dos agressores.

O trecho em que essa ideia se apresenta mais claramente é:

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Questão 58846

(FUVEST 2006)

Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para conhecer o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.

            Amyr Klink, Mar sem fim.

A repetição de "precisa viajar" acentua, no contexto, o valor daquelas experiências que 

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