Questão 11565

(Enem - 2015) No início foram as cidades. O intelectual da Idade Média — no Ocidente — nasceu com elas. Foi com o desenvolvimento urbano ligado às funções comercial e industrial — digamos modestamente artesanal — que ele apareceu, como um desses homens de ofício que se instalavam nas cidades nas quais se impôs a divisão do trabalho. Um homem cujo ofício é escrever ou ensinar, e de preferência as duas coisas a um só tempo, um homem que,  profissionalmente, tem uma atividade de professor e erudito, em resumo, um intelectual - esse homem só aparecerá com as cidades. 

LE GOFF.J. Os intelectuais na Idade Media. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.

O surgimento da categoria mencionada no período em destaque no texto evidencia o(a)

A

apoio dado pela Igreja ao trabalho abstrato.

B

relação entre desenvolvimento urbano e divisão do trabalho

C

importância organizacional das corporações de ofício.

D

progressiva expansão da educação escolar.

E

acúmulo de trabalho dos professores e eruditos

Gabarito:

relação entre desenvolvimento urbano e divisão do trabalho



Resolução:

Neste texto o autor está falando dos ofícios, do surgimento das especialidades, das divisões do trabalho e em mais específico do homem que trabalha apenas com o intelectual. Isto está diretamente ligado com as chamadas Corporações de Ofício. Podemos entender as Corporações de ofício como lugares nos quais alguém poderia aprender e exercer algum trabalho. Havia Corporações de ofício para tudo: pinturas, impressão de livros, produção de sapatos, padarias. Foi dentro dessas corporações que a divisão do trabalho iniciou. Encontrava-se dentro delas pequenas linhas de produção, mesmo que na maioria das vezes as pessoas soubessem o trabalho completo (até mesmo devido a proximidade: enquanto alguém fazia uma tarefa podia observar alguém fazendo outra etapa), a divisão era feita para otimizar o tempo, reduzir os custos e aumentar a produção, mas não confunde com o início da Revolução Industrial, isso aqui é bem antes e de maneira menor. Neste contexto, a alternativa correta é a B.

a) apoio dado pela Igreja ao trabalho abstrato.

Incorreta. A Igreja de certa forma sempre promoveu um incentivo ao trabalho abstrato ao intelectual. Contudo, o momento em que a questão está tratando é o final da Idade Média e das novas atividades que a expansão das cidades promoveram, é um momento de afastamento da Igreja, o início do Renascimento.

b) relação entre desenvolvimento urbano e divisão do trabalho

Correta. Trechos do texto que evidencia este fato: “Foi com o desenvolvimento urbano ligado às funções comercial e industrial — digamos modestamente artesanal que ele apareceu, como um desses homens de ofício que se instalavam nas cidades nas quais se impôs a divisão do trabalho.”  “em resumo, um intelectual-esse homem só aparecerá com as cidades.”

c) importância organizacional das corporações de ofício.

Incorreta. A importância dada a organização nas corporações de ofício era uma destas características. Contudo, não é este fato que permite os surgimentos das especialidades, isto é uma consequência.

d) progressiva expansão da educação escolar.

Incorreta. O texto trata do surgimento de “um homem cujo ofício é escrever ou ensinar, e de preferência as duas coisas a um só tempo, um homem que, profissionalmente, tem uma atividade de professor e erudito, em resumo, um intelectual”. Contudo, o surgimento desta profissão está ligado com a expansão da cidade, do comércio, com a divisão do trabalho, como surgimento das corporações de ofícios. Ainda não podemos falar em expansão da educação escolar esta será uma ideia que nascera com a Reforma Protestante e será reforçada no Iluminismo.

e) acúmulo de trabalho dos professores e eruditos

Incorreta. O surgimento desta categoria de trabalho não evidência um “acúmulo de trabalho dos professores e eruditos”, isto não é tratado no texto.



Questão 1778

(ENEM - 2015)

Exmº Sr. Governador:

Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928.
[...]

ADMINISTRAÇÃO
Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha - um telegrama; porque se deitou pedra na rua - um telegrama; porque o deputado F. esticou a canela - um telegrama.

Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
GRACILlANO RAMOS

RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962.

O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor

Ver questão

Questão 1781

(ENEM - 2015)

Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.

Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.

Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.

O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.

POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.

Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela

Ver questão

Questão 1782

Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.

BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

 

A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que

Ver questão

Questão 1783

(ENEM - 2015)

Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançado em redor olhares complacentes, lamentando os que não faziam parte do nosso clã. [...]

Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. [...]

É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?

TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Representante da ficção contemporânea, a prosa de Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)

Ver questão