Questão 13628

(ENEM - 2012)

Elaborado pelos partidários da Revolução Constitucionalista de 1932, o cartaz apresentado pretendia mobilizar a população paulista contra o governo federal.

Essa mobilização utilizou-se de uma referência histórica, associando o processo revolucionário

A

à experiência francesa, expressa no chamado à luta contra a ditadura. 

B

aos ideais republicanos, indicados no destaque à bandeira paulista. 

C

ao protagonismo das Forças Armadas, representadas pelo militar que empunha a bandeira. 

D

ao bandeirantismo, símbolo paulista apresentado em primeiro plano. 

E

ao papel figurativo de Vargas na política, enfatizado pela pequenez de sua figura no cartaz. 

Gabarito:

ao bandeirantismo, símbolo paulista apresentado em primeiro plano. 



Resolução:

A forma como aconteceu a Revolução de 1930, contestando o processo eleitoral, deixou profundas cicatrizes na política brasileira. A oposição foi ganhando munição conforme o Governo Provisório estabelecia suas medidas centralizadoras. Minas Gerais e o Rio Grande do Sul possuíam dissidências políticas que começaram a pressionar a convocação de novas eleições. Queriam que acabasse logo o teor provisório do governo. Outro ponto crítico era o controle exercido sobre os tenentes, com a inserção deles em cargos que atendiam a apenas uma parcela da categoria. O Movimento Tenentista foi um dos grandes apoiadores dos rebeldes em 1930.

Ao mesmo tempo que os políticos de vários estados questionavam a situação, São Paulo se articulava. É importante ressaltar que o Partido Democrático de São Paulo, o PD, que rivalizava com o Partido Republicano Paulista, o PRP, apoiou a causa da Aliança Liberal.

No período da Junta Militar, o PD ocupou a maioria dos cargos políticos, enquanto o governo ficou à cargo do General Hastínfilo de Moura (1865-1956). A situação mudou quando Vargas se tornou presidente e instituiu os Interventores nos estados, nomeando o tenente João Alberto Lins de Barros (1897-1955) para São Paulo. Essa medida desagradou profundamente aqueles que apoiavam a Revolução de 1930. O cargo era tão criticado que, em 1931, quando Lins de Barros deixou o poder, dois nomes foram indicados e, por diversos motivos, abandonaram o cargo. Temos, portanto, uma instabilidade política que acirrava os ânimos gerais.

Além de São Paulo ter se beneficiado politicamente por décadas na República Oligárquica, o café era o produto mais valorizado da economia brasileira. Contudo, quem organizava e coordenava o sistema cafeeiro eram os próprios paulistas. Em 1931, Osvaldo Aranha (1894-1960) foi nomeado o Ministro da Fazenda e mudou o direcionamento econômico do país: o foco residiria na industrialização e não mais na exportação do café, junto do processo de nacionalização das instituições coordenadoras.

Tínhamos, portanto, a insatisfação dos antigos apoiadores do movimento de 1930 e dos opositores. Começaram a surgir alianças contra o governo por todo o país, as chamadas Frentes Únicas. A Frente Única Gaúcha – FUG – rompeu com o governo em 1932 mesmo ano da formação da Frente Única Paulista – FUP – entre PD e PRP. Reivindicavam a convocação da Assembleia Nacional Constituinte e queriam a autonomia paulista. Foi criada a bandeira constitucional e, com ela, crescia o sentimento ufanista no estado.

As ideias de superioridade paulista, com o mito de São Paulo como locomotiva econômica do país, surgiram e ganharam força nessa época. Foi uma combinação de insatisfação política e exaltação regional que alimentou a ideia de um movimento armado. Antes do conflito, o governo federal tentou apaziguar a situação nomeando o paulista e civil Pedro de Toledo (1860-1935) como interventor estadual. Ele inseriu representantes da FUP no governo do estado, e o General Isidoro Dias Lopes (1865-1937), participante da Revolução de 1924 e apoiador do movimento paulista, como comandante militar do estado. Porém, essas prerrogativas não mudaram a situação. Era preciso apenas um estopim para o conflito se instaurar, e ele veio.

No dia 23 de maio de 1932, quatro rapazes: Mario Martins de Almeida – Martins – (1907-1932), Euclides Bueno Miragaia – Miragaia – (1911-1932), Dráusio Marcondes de Sousa – Dráusio – (1917-1932) e Antônio Américo de Camargo Andrade – Camargo – (1901-1932) participavam da passeata contra o governo federal. tentaram invadir a sede do Partido Popular Paulista, antiga Liga Revolucionária formada por militares e políticos que apoiavam a Revolução de 1930. Eles foram recebidos a tiros e não sobreviveram. Contudo, a situação inflamou ainda mais a população que criou um grupo com o intuito de lutar contra Vargas, o MMDC, um acrônimo com os nomes acima.

Em 9 de julho de 1932, iniciava a Revolução Constitucionalista em São Paulo. O apoio popular foi massivo, e o líder dos rebeldes era o mesmo Isidoro Dias Lopes do movimento tenentista. Por terem contato com dissidentes por todo o Brasil, alguns homens foram destacados para articularem o apoio de outros estados. Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso foram contatados e recusaram. O único que conseguiu um pouco de ajuda foi o General Bertoldo Klinger (1884-1969) que convenceu alguns mato-grossenses, mas nada muito significativo para o conflito.

Sem a adesão dos estados, o plano de invadir o Rio de Janeiro não vingou e a revolução não se espalhou pelo país. É interessante destacar que os recursos industriais, agrícolas e financeiros da classe média e alta se destinaram aos revolucionários. A Campanha do Ouro para o Bem de São Paulo ganhou força, dando sobrevida ao movimento. Enquanto isso, os estados que se diziam simpatizantes à causa paulista, enviaram homens para lutar pelo governo federal. As tropas varguistas eram muito superiores tanto em número quanto em armas. Foi a primeira vez que se utilizou aviões em combates no Brasil, um marco tecnológico no país.

Mesmo com a discrepância de quase 10 mil homens a mais para o governo federal, a luta durou quase três meses. Os legalistas tomavam espaço a partir do Vale do Paraíba, se espalhando por Jundiaí e Itu, no interior paulista. O grande passo foi se aproximar da cidade de São Paulo, o que levou os representantes da FUP a aceitarem uma negociação com o General Gois Monteiro (1889-1956) no dia 10 de outubro. Os rebeldes se renderam e acabou a Revolução.

A derrota paulista não significou submissão total ao governo federal. Vargas decidiu nomear um simpatizante do PD, e parente do então diretor do jornal O Estado de São Paulo Júlio de Mesquita Filho (1892-1969), Armando de Salles Oliveira (1887-1945). Além disso, a briga pela Constituição não terminou ali. Em 1933, o presidente convocou a Assembleia Constituinte.

a) à experiência francesa, expressa no chamado à luta contra a ditadura. 

Incorreto. Nada nesse cartaz representa uma experiência francesa.

b) aos ideais republicanos, indicados no destaque à bandeira paulista. 

Incorreto. O movimento privilegiava a condição dos paulistas no cenário nacional. Além disso, a bandeira paulista está em segundo plano, diferentemente do que afirma a alternativa. O cartaz demonstra a definição paulista do movimento com a figura de um Bandeirante, considerado um ícone da liderança e do vanguardismo paulista na vida política e econômica do país.

c) ao protagonismo das Forças Armadas, representadas pelo militar que empunha a bandeira. 

Incorreto. As Forças Armadas ocupam um papel secundário no cartaz, não havendo um protagonismo dessa forma. 

d) ao bandeirantismo, símbolo paulista apresentado em primeiro plano. 

Correta. O grande homem representado na imagem utiliza as roupas de um bandeirante, o característico chapéu e botas. Os bandeirantes foram retomados como os homens fortes e corajosos que desbravaram o Brasil e levaram este para o progresso. Os constitucionalistas paulistas estariam lutando com a mesma força dos bandeirantes.

e) ao papel figurativo de Vargas na política, enfatizado pela pequenez de sua figura no cartaz. 

Incorreto. Não se pode afirmar que Vargas teve um papel pequeno durante a política. Ele teve um enorme papel nesse cenário.



Questão 1778

(ENEM - 2015)

Exmº Sr. Governador:

Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928.
[...]

ADMINISTRAÇÃO
Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha - um telegrama; porque se deitou pedra na rua - um telegrama; porque o deputado F. esticou a canela - um telegrama.

Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
GRACILlANO RAMOS

RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962.

O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor

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Questão 1781

(ENEM - 2015)

Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.

Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.

Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.

O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.

POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.

Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela

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Questão 1782

Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.

BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

 

A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que

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Questão 1783

(ENEM - 2015)

Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançado em redor olhares complacentes, lamentando os que não faziam parte do nosso clã. [...]

Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. [...]

É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?

TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Representante da ficção contemporânea, a prosa de Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)

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