Questão 14639

(ENEM - 2014)

Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano.

EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974.

No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim

A

alcançar o prazer moderado e a felicidade.

B

valorizar os deveres e as obrigações sociais.

C

aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação.

D

refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade.

E

defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber.

Gabarito:

alcançar o prazer moderado e a felicidade.



Resolução:

a) Correta. alcançar o prazer moderado e a felicidade.
Segundo Epicuro, o prazer é o princípio e o fim da vida feliz, sendo a felicidade o objetivo primordial da filosofia, o que permite identificar a ética epicurista como hedonista. A saúde da alma consiste, então, no caminho da felicidade, o qual é trilhado por meio da posse de uma phronesis, isto significa, uma sabedoria prática que indica um cálculo dos prazeres e um proceder equilibrado. A felicidade é um caminho possível, o qual não é difícil de ser atingida, é preciso escolher corretamente os objetos do desejo. Destarte, Epicuro distingue os tipos de desejos, sendo que alguns dos desejos são naturais e outros ilusórios. Quanto aos naturais, alguns são necessários e outros somente naturais; no que se refere aos necessários, alguns importam à felicidade, outros à tranquilidade e outros à própria vida. O prazer epicurista, descrito como a  ataraxia da alma, é um estado de imperturbabilidade da alma, do qual se depreende uma doença da alma, uma perturbação. Esta consiste numa vida dedicada aos falsos prazeres de movimento, os quais envolvem a alma numa felicidade transitória, dissolúvel e inquieta.

 

b) Incorreta. valorizar os deveres e as obrigações sociais.
A ética epicurista não pretende valorizar os deveres e as obrigações pessoais em busca de ordenação dos desejos, e sim, ensinar o indíviduo a ser moderado em seus desejos.

c) Incorreta. aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação.
Esse é um elemento da doutrina estoica, não do epicurismo, que visa, na verdade, uma moderação dos desejos, um meio termo, para que seja atingido a tranquilidade da alma.

d) Incorreta. refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade.
Na carta a Meneceu, Epicuro descreve como um dos elementos do quádruplo remédio — a reflexão do homem sábio — a opinião correta acerca dos deuses, pois a sociedade grega era atormentada por falsas crenças quanto ao caráter dos seres divinos. Nesse sentido, deve-se considerar, acerca dos deuses, a noção impressa no homem pela natureza, cuja ideia expressa imortalidade e felicidade. Os deuses existem, como a maioria crê, mas não do mesmo modo como a maioria crê, pois eles permanecem em uma felicidade imortal, sem se importar com os desígnios humanos. Portanto, a alternativa é falsa, pois o homem não tem como fim refletir sobre essas normas, porém o prazer, e, para isso, deve ter uma noção correta dos deuses, segundo Epicuro.

e) Incorreta. defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber.
Essa é uma posição do ceticismo pirrônico, não do epicurismo.



Questão 1778

(ENEM - 2015)

Exmº Sr. Governador:

Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928.
[...]

ADMINISTRAÇÃO
Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha - um telegrama; porque se deitou pedra na rua - um telegrama; porque o deputado F. esticou a canela - um telegrama.

Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
GRACILlANO RAMOS

RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962.

O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor

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Questão 1781

(ENEM - 2015)

Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.

Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.

Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.

O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.

POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.

Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela

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Questão 1782

Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.

BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

 

A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que

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Questão 1783

(ENEM - 2015)

Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançado em redor olhares complacentes, lamentando os que não faziam parte do nosso clã. [...]

Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. [...]

É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?

TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Representante da ficção contemporânea, a prosa de Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)

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