Questão 28583

(FATEC/2006)

[...] Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o.

Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto.

[...]

Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos: "Caim, que fizeste de teu irmão?" Vi no pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto; mandei recado ao vigário e ao médico.

A primeira ideia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e, na verdade, recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver, com o auxílio de um preto velho e míope.

(Machado de Assis, O enfermeiro.)

Considere as seguintes afirmações sobre o texto:

 

I. O enfermeiro, mesmo sabendo que seu paciente morrera de aneurisma, teve muito remorso, pois achou que o havia esganado.

II. A consciência de que praticou um crime leva o enfermeiro a procurar esconder as evidências de seu ato.

III. O narrador é um homem religioso e, atendendo às necessidades dos rituais funerários, conta como cuidou ele próprio dos restos mortais do coronel.

IV. A frase - "Caim, que fizeste de teu irmão?" - revela que o enfermeiro considera seu paciente como um irmão, dedicando-se a ele apesar da violência do coronel.

V. O narrador relata os modos pelos quais evitou que se percebesse o assassinato do coronel.

 

São corretas apenas as afirmativas:

A

I, II e III.   

B

I e IV.   

C

II e III.   

D

II e V.   

E

IV e V.   

Gabarito:

II e V.   



Resolução:

Considere as seguintes afirmações sobre o texto:

I. O enfermeiro, mesmo sabendo que seu paciente morrera de aneurisma, teve muito remorso, pois achou que o havia esganado.Comentário: alternativa incorreta.O narrador é consciente em relação à esganação que acabou redundando na morte do coronel.

II. A consciência de que praticou um crime leva o enfermeiro a procurar esconder as evidências de seu ato.Comentário: alternativa correta. De fato ocorre na narrativa, o momento em que o enfermeiro pratica um crime e tenta de todas as maneira possíveis abafar as provas contra ele mesmo.

III. O narrador é um homem religioso e, atendendo às necessidades dos rituais funerários, conta como cuidou ele próprio dos restos mortais do coronel.Comentário: alternativa incorreta. O amortalhamento é a ação de vestir o cadáver, não é propriamente um ritual funerário de natureza religiosa e não é um indicativo exato para referência à religiosidade do narrador.

IV. A frase - "Caim, que fizeste de teu irmão?" - revela que o enfermeiro considera seu paciente como um irmão, dedicando-se a ele apesar da violência do coronel.Comentário: alternativa incorreta.O narrador, apesar de enfermeiro dedicado, não considera como um irmão o coronel. No contexto, "irmão" não indica propriamente "parente", mas sim "ser humano".

V. O narrador relata os modos pelos quais evitou que se percebesse o assassinato do coronel.Comentário: alternativa correta. Pela narrativa percebe-se que foi enfatizado todas as maneiras possíveis de evitar que percebesse o assassinato.

 



Questão 1809

(FATEC)

Identifique a frase em que a função predominante da linguagem é a REFERENCIAL:

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Questão 1835

(FATEC-2006)

 

Na ciência e na tecnologia o progresso é real, mas só faz aumentar o conhecimento e o poder do homem, e esse poder pode ser usado tanto para os mais benignos objetivos quanto para os mais desastrosos.

Quando o conceito de progresso é aplicado à ética e à política, ele é uma ilusão perigosa. Veja-se, por exemplo, o caso dos gregos e dos romanos antigos. É claro que eles acreditavam no desenvolvimento de novas ferramentas.

Mas eles não transferiam essa noção de progresso técnico para a ética ou a política. É óbvio, também, que eles acreditavam no bem e no mal, que as sociedades podiam ser melhores ou piores, e que a prosperidade é preferível à fome e à pobreza. No entanto, para gregos e romanos, os jogos da ética e da política estavam sujeitos a avanços e retrocessos. Ou seja, a história humana era cíclica, com diferentes períodos se alternando, como ocorre na natureza.

A ciência, no geral, chega mais perto da verdade do mundo que outros sistemas de crença, e nós temos testemunhado seu sucesso pragmático em aumentar o poder humano. Mas, do ponto de vista ético, o conhecimento é neutro, desprovido de valor - pode tanto nos levar a realizações maravilhosas quanto atender a propósitos terríveis. (John Gray, em Veja, 23 de novembro de 2005.)


Assinale a alternativa em que os trechos do texto, reescritos, apresentam pontuação, concordância e colocação de pronomes de acordo com a norma culta

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Questão 1836

(FATEC-2006) 

Os bem vizinhos de Naziazeno Barbosa assistem ao “pega” com o leiteiro. Por detrás das cercas, mudos, com a mulher e um que outro filho espantado já de pé àquela hora, ouvem.

Todos aqueles quintais conhecidos têm o mesmo silêncio. Noutras ocasiões, quando era apenas a “briga” com a mulher, esta, como um último desaforo de vítima, dizialhe: “Olha, que os vizinhos estão ouvindo”. Depois, à hora da saída, eram aquelas caras curiosas à janela. com os olhos fitos nele, enquanto ele cumprimentava. O leiteiro diz-lhe aquelas coisas, despenca-se pela escadinha que vai do portão até à rua, toma as rédeas do burro e sai a galope, fustigando o animal, furioso, sem olhar para nada. Naziazeno ainda fica um instante ali sozinho. (A mulher havia entrado.) Um ou outro olhar de criança fuzila através das frestas das cercas.

As sombras têm uma frescura que cheira a ervas úmidas. A luz é doirada e anda ainda por longe, na copa das árvores, no meio da estrada avermelhada. Naziazeno encaminha-se então para dentro de casa. Vai até ao quarto. A mulher ouve-lhe os passos, o barulho de abrir e fechar um que outro móvel. Por fim, ele aparece no pequeno comedouro, o chapéu na mão. Senta-se à mesa, esperando

. Ela lhe traz o alimento. – Ele não aceita mais desculpas... Naziazeno não fala. A mulher havia-se sentado defronte dele, enquanto ele toma o café. – Vai nos deixar ainda sem leite... Ele engole o café, nervoso, com os dedos ossudos e cabeçudos quebrando o pão em pedaços miudinhos, sem olhar a mulher. – É o que tu pensas. Temores... Cortar um fornecimento não é coisa fácil. – Porque tu não viste então o jeito dele quando te declarou: “Lhe dou mais um dia!”

 

(Dyonélio Machado, Os ratos.)

Leia o trecho: A mulher havia-se sentado defronte dele, enquanto ele toma o café. – Vai nos deixar ainda sem leite...

Assinale a alternativa que substitui o discurso direto pelo discurso indireto, sem que ocorram infrações da norma culta. 

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Questão 2093

(FATEC)

"Ela insistiu:
- Me dá esse papel aí."

Na transposição da fala da personagem para o discurso indireto, a alternativa correta é:

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