Questão 34032

(ENEM - 2018)

A quem não basta pouco, nada basta.

EPICURO. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural,1985.

Remanescente do período helenístico, a máxima apresentada valoriza a seguinte virtude:

A

Esperança, tida como confiança no porvir.

B

Justiça, interpretada como retidão de caráter.

C

Temperança, marcada pelo domínio da vontade.

D

Coragem, definida como fortitude na dificuldade.

E

Prudência, caracterizada pelo correto uso da razão.

Gabarito:

Temperança, marcada pelo domínio da vontade.



Resolução:

c) Correta. Temperança, marcada pelo domínio da vontade.
O epicurismo, corrente filosófica criada por Epicuro na Grécia antiga, apresenta uma concepção moral a partir da qual o prazer é o princípio e o fim da vida feliz, sendo a felicidade o objetivo primordial da filosofia. A saúde da alma consiste, então, no caminho da felicidade, o qual é trilhado por meio da posse de uma sabedoria prática que indica um cálculo dos prazeres e um proceder equilibrado. Nesse sentido, o ateniense prescreve o τετραϕάρμακον, o quádruplo remédio, um conjunto de quatro de quatro preceitos que busca auxiliar os seres humanos a alcançar a ataraxia da alma. No entanto, a busca pelo prazer humano, segundo a moral epicurista, deve se assentar no uso da razão, de modo que o indivíduo não seja escravizado pelo desejo, o que levaria a um estado de sofrimento permanente. Seria, portanto, uma postura temperante – ou seja, moderada – diante dos prazeres que tornaria possível ao indivíduo não sofrer por prazeres que não pode obter.

 

a) Incorreta. Esperança, tida como confiança no porvir.
A esperança, como confiança no porvir, é um ideal que é associado ao cristianismo, em relação ao mundo vindouro, porém não é relacionado nas ideias epicuristas. Ao contrário, entre suas noções entende-se que a morte nada é e, portanto, não deve se guardar expectativas, boas ou más, quanto a um futuro vindouro; qualquer expectativa no porvir é um caminho contrário à felicidade.

b) IncorretaJustiça, interpretada como retidão de caráter.
Este aspecto também não é abordado pelo trecho.

d) Incorreta. Coragem, definida como fortitude na dificuldade.
Apesar de a filosofia epicurista considerar o mal e a dor como "toleráveis", tais aspectos não se relacionam à frase de apoio incluída no debate da questão. 

e) IncorretaPrudência, caracterizada pelo correto uso da razão.
Para Epicuro, há um sentido de prudência nas ações, porém não é o que deve ser interpretado de acordo com o texto de apoio — uma pergunta capciosa. A racionalidade se mostra através da virtude da temperança, da moderação dos prazeres, do equilíbrio das paixões. Assim, uma vida marcada pelo domínio da vontade seria uma vida também fortemente racional, mas o trecho em questão envolve a virtude da temperança.



Questão 1778

(ENEM - 2015)

Exmº Sr. Governador:

Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928.
[...]

ADMINISTRAÇÃO
Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha - um telegrama; porque se deitou pedra na rua - um telegrama; porque o deputado F. esticou a canela - um telegrama.

Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
GRACILlANO RAMOS

RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962.

O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor

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Questão 1781

(ENEM - 2015)

Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.

Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.

Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.

O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.

POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.

Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela

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Questão 1782

Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.

BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

 

A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que

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Questão 1783

(ENEM - 2015)

Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançado em redor olhares complacentes, lamentando os que não faziam parte do nosso clã. [...]

Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. [...]

É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?

TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Representante da ficção contemporânea, a prosa de Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)

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