Questão 43863

(ENEM - 2019)

Tratava-se agora de construir um ritmo novo. Para tanto, era necessário convocar todas as forças vivas da Nação, todos os homens que, com vontade de trabalhar e confiança no futuro, pudessem erguer, num tempo novo, um novo Tempo. E, à grande convocação que conclamava o povo para a gigantesca tarefa, começaram a chegar de todos os cantos da imensa pátria os trabalhadores: os homens simples e quietos, com pés de raiz, rostos de couro e mãos de pedra, e no calcanho, em carro de boi, em lobo de burro, em paus-de-arara, por todas as fomas possíveis e imagináveis, em sua mudez cheia de esperança, muitas vezes deixando para trás mulheres e filho a aguarda suas promessas de melhores dias; foram chegando de tantos povoados, tantas cidades cujos nomes pareciam cantar saudades ais seus ouvidos, dentro dos antigos ritmos da imensa pátria... Terra de sol, Terra de Luz... Brasil! Brasil! Brasília! 

MORAES, V.; JOBIM, A.C. Brasília, sinfonia da alvorada. III - A chegada dos candangos. Disponível em www.viniciusdemoraes.com.br. Acesso em : 14 ago. 2012 (Adaptado).

No texto, a narrativa produzida sobe a construção de Brasília articula os elementos políticos e socioeconômicos indicados, respectivamente, em: 

A

Apelo simbólico e migração inter-regional

B

Organização sindical e expansão do capital

C

Segurança territorial e estabilidade financeira

D

Consenso partidário e modernização rodoviária

E

Perspectiva democrática e eficácia dos transportes

Gabarito:

Apelo simbólico e migração inter-regional



Resolução:

a) Apelo simbólico e migração inter-regional.

Correta. É possível reconhecer no apelo simbólico e na migração inter-regional os elementos políticos e socioeconômicos articulados no texto sobre a construção de Brasília. O apelo simbólico se mostra nas expressões que enaltecem a pátria e os trabalhadores, tal como o empenho destes em construir a nova capital, símbolo de renovação, progresso e a promessa de um futuro melhor. "[...] convocar todas as forças vivas da Nação, todos os homens que, com vontade de trabalhar e confiança no futuro, pudessem erguer, num tempo novo, um novo Tempo." "[...] convocação que conclamava o povo para a gigantesca tarefa". A partir daqui, já se identifica a migração inter-regional (sem nunca deixar o apelo simbólico da narrativa):  "[...] chegar de todos os cantos da imensa pátria os trabalhadores: os homens simples e quietos, com pés de raiz, rostos de couro e mãos de pedra [...]" "[...] por todas as fomas possíveis e imagináveis, em sua mudez cheia de esperança" "[...] deixando para trás mulheres e filho a aguarda suas promessas de melhores dias" "[...] foram chegando de tantos povoados, tantas cidades [...]." Assim, a narrativa apela para os símbolos compartilhados pelos indivíduos que saíam das mais diversas regiões do país, deixando suas casas e famílias para buscar melhores condições de vida na construção de uma nova capital. 

b) Organização sindical e expansão do capital.

Incorreto. O aspecto da organização sindical não é mencionado no excerto em questão, e nem mesmo a expansão do capital - o ideal suscitado está mais ligado à esperança da fuga da miséria.

c) Segurança territorial e estabilidade financeira.

Incorreto. Segurança territorial não se constitui como um aspecto político envolvido na questão, uma vez que não haviam garantias sobre o mesmo, bem como sobre estabilidade financeira.

d) Consenso partidário e modernização rodoviária.

Incorreto. Tais aspectos não aparecem no texto.

e) Perspectiva democrática e eficácia dos transportes.

Incorreto. Tais aspectos não aparecem no texto.



Questão 1778

(ENEM - 2015)

Exmº Sr. Governador:

Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928.
[...]

ADMINISTRAÇÃO
Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha - um telegrama; porque se deitou pedra na rua - um telegrama; porque o deputado F. esticou a canela - um telegrama.

Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
GRACILlANO RAMOS

RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962.

O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor

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Questão 1781

(ENEM - 2015)

Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.

Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.

Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.

O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.

POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.

Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela

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Questão 1782

Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.

BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

 

A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que

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Questão 1783

(ENEM - 2015)

Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançado em redor olhares complacentes, lamentando os que não faziam parte do nosso clã. [...]

Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. [...]

É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?

TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Representante da ficção contemporânea, a prosa de Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)

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