Questão 59536

(ENEM - 2020 - PROVA AZUL) Em A morte de Ivan Ilitch, Tolstoi descreve com detalhes repulsivos o terror de encarar a morte iminente. Ilitch adoece depois de um pequeno acidente e logo compreende que se encaminha para o fim de modo impossível de parar. "Nas profundezas de seu coração, ele sabia estar morrendo, mas em vez de se acostumar com a ideia, simplesmente não o fazia e não conseguia compreendê-la".

KAZEZ, J. O peso das coisas: filosofia para o bem-viver. Rio de Janeiro; Tinta Negra, 2004.

O texto descreve a experiência do personagem de Tolstoi diante de um aspecto incontornável de nossas vidas. Esse aspecto foi um tema central na tradição filosófica

A

marxista, no contexto do materialismo histórico.

B

logicista, no propósito de entendimento dos fatos.

C

utilitarista, no sentido da racionalidade das ações.

D

pós-modernista, na discussão da fluidez das relações.

E

existencialista, na questão do reconhecimento de si.

Gabarito:

existencialista, na questão do reconhecimento de si.



Resolução:

e) Correta. existencialista, na questão do reconhecimento de si.
O aspecto contornável de que se fala seria a morte, sendo este um tema central do existencialismo. O existencialismo é uma corrente filosófica que teve influências do pensamento do filósofo Søren Kierkegaard, e caracteriza-se pela reflexão sobre a realidade concreta do indivíduo, enquanto um ser existencial — sua mundanidade, angústia, morte, e outros temas) como algo nuclear para a especulação filosófica, contra doutrinas racionalistas que dissolvem a subjetividade individual em sistematizações conceituais abstratas e universalistas. A morte fora um tema trazido por todos os filósofos existencialistas, Sartre, Heidegger, Camus, etc.

 

a) Incorreta. marxista, no contexto do materialismo histórico.
A filosofia marxista é um método de análise socioeconômica acerca das relações de classe e conflito social, a qual utiliza uma interpretação materialista do desenvolvimento histórico e uma perspectiva dialética de transformação social. Essa proposta, como enfoca as relações de produção materiais, não considera os dilemas existenciais do indíviduo, como o problema da morte, pois desconsidera esses aspectos subjetivos.

b) Incorreta. logicista, no propósito de entendimento dos fatos.
O logicismo é uma teoria que surgiu a partir da esperança de alguns matemáticos reduzirem a matemática à lógica. Ela, por isso, volta-se a questões de ordem racional, em um âmbito sistematizante, não considera problemas existenciais, como a morte, que leva em conta a realidade integral do indíviduo, não apenas o seu aspecto mental.

c) Incorreta. utilitarista, no sentido da racionalidade das ações.
O utilitarismo, fundado por Jeremy Bentham e Mill, é uma doutrina filosófica consequencialista que defende que as consequências de uma ação moral é o princípio de orientação para a ética, não o seu modo. O utilitarismo tem, como única regra e princípio geral, o Princípio de Maior Felicidade, a qual defende, como a base da própria moral, que o critério de juízo para todas as ações humanas é a felicidade geral. Nesse sentido, a morte interrompe, por si própria, as reflexões sobre o utilitarismo e pragmatismo, pois não é útil e, antes, é uma peça que não se encaixa nas proposições utiltaristas, a despeito de representar um dilema que interrompe a experiência da felicidade.

d) Incorreta. pós-modernista, na discussão da fluidez das relações.
O pós-modernismo é um movimento filosófico no âmbito da contemporaneidade, que parte de uma perspectiva fundamentalmente relativista, e, por isso, concebe que não há absolutos morais e nem de conhecimento, porém que estas dependem da individualidade e experiência de cada indivíduo. A morte não é enfocada pela pós-modernidade, quase um tabu, pois representa um fato concreto, que foge à busca fluída pela felicidade na pós-modernidade.



Questão 1778

(ENEM - 2015)

Exmº Sr. Governador:

Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928.
[...]

ADMINISTRAÇÃO
Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha - um telegrama; porque se deitou pedra na rua - um telegrama; porque o deputado F. esticou a canela - um telegrama.

Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
GRACILlANO RAMOS

RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962.

O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor

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Questão 1781

(ENEM - 2015)

Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.

Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.

Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.

O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.

POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.

Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela

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Questão 1782

Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.

BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

 

A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que

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Questão 1783

(ENEM - 2015)

Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançado em redor olhares complacentes, lamentando os que não faziam parte do nosso clã. [...]

Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. [...]

É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?

TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Representante da ficção contemporânea, a prosa de Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)

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