(ENEM - 2020 - PROVA AZUL) Em A morte de Ivan Ilitch, Tolstoi descreve com detalhes repulsivos o terror de encarar a morte iminente. Ilitch adoece depois de um pequeno acidente e logo compreende que se encaminha para o fim de modo impossível de parar. "Nas profundezas de seu coração, ele sabia estar morrendo, mas em vez de se acostumar com a ideia, simplesmente não o fazia e não conseguia compreendê-la".
KAZEZ, J. O peso das coisas: filosofia para o bem-viver. Rio de Janeiro; Tinta Negra, 2004.
O texto descreve a experiência do personagem de Tolstoi diante de um aspecto incontornável de nossas vidas. Esse aspecto foi um tema central na tradição filosófica
marxista, no contexto do materialismo histórico.
logicista, no propósito de entendimento dos fatos.
utilitarista, no sentido da racionalidade das ações.
pós-modernista, na discussão da fluidez das relações.
existencialista, na questão do reconhecimento de si.
Gabarito:
existencialista, na questão do reconhecimento de si.
e) Correta. existencialista, na questão do reconhecimento de si.
O aspecto contornável de que se fala seria a morte, sendo este um tema central do existencialismo. O existencialismo é uma corrente filosófica que teve influências do pensamento do filósofo Søren Kierkegaard, e caracteriza-se pela reflexão sobre a realidade concreta do indivíduo, enquanto um ser existencial — sua mundanidade, angústia, morte, e outros temas) como algo nuclear para a especulação filosófica, contra doutrinas racionalistas que dissolvem a subjetividade individual em sistematizações conceituais abstratas e universalistas. A morte fora um tema trazido por todos os filósofos existencialistas, Sartre, Heidegger, Camus, etc.
a) Incorreta. marxista, no contexto do materialismo histórico.
A filosofia marxista é um método de análise socioeconômica acerca das relações de classe e conflito social, a qual utiliza uma interpretação materialista do desenvolvimento histórico e uma perspectiva dialética de transformação social. Essa proposta, como enfoca as relações de produção materiais, não considera os dilemas existenciais do indíviduo, como o problema da morte, pois desconsidera esses aspectos subjetivos.
b) Incorreta. logicista, no propósito de entendimento dos fatos.
O logicismo é uma teoria que surgiu a partir da esperança de alguns matemáticos reduzirem a matemática à lógica. Ela, por isso, volta-se a questões de ordem racional, em um âmbito sistematizante, não considera problemas existenciais, como a morte, que leva em conta a realidade integral do indíviduo, não apenas o seu aspecto mental.
c) Incorreta. utilitarista, no sentido da racionalidade das ações.
O utilitarismo, fundado por Jeremy Bentham e Mill, é uma doutrina filosófica consequencialista que defende que as consequências de uma ação moral é o princípio de orientação para a ética, não o seu modo. O utilitarismo tem, como única regra e princípio geral, o Princípio de Maior Felicidade, a qual defende, como a base da própria moral, que o critério de juízo para todas as ações humanas é a felicidade geral. Nesse sentido, a morte interrompe, por si própria, as reflexões sobre o utilitarismo e pragmatismo, pois não é útil e, antes, é uma peça que não se encaixa nas proposições utiltaristas, a despeito de representar um dilema que interrompe a experiência da felicidade.
d) Incorreta. pós-modernista, na discussão da fluidez das relações.
O pós-modernismo é um movimento filosófico no âmbito da contemporaneidade, que parte de uma perspectiva fundamentalmente relativista, e, por isso, concebe que não há absolutos morais e nem de conhecimento, porém que estas dependem da individualidade e experiência de cada indivíduo. A morte não é enfocada pela pós-modernidade, quase um tabu, pois representa um fato concreto, que foge à busca fluída pela felicidade na pós-modernidade.
(ENEM - 2015)
Exmº Sr. Governador:
Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928.
[...]
ADMINISTRAÇÃO
Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha - um telegrama; porque se deitou pedra na rua - um telegrama; porque o deputado F. esticou a canela - um telegrama.
Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
GRACILlANO RAMOS
RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962.
O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor
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(ENEM - 2015)
Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.
POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.
Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela
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Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.
BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que
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(ENEM - 2015)
Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançado em redor olhares complacentes, lamentando os que não faziam parte do nosso clã. [...]
Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. [...]
É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?
TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Representante da ficção contemporânea, a prosa de Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)
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