(ENEM - 2020 - PROVA AMARELA)
Leandro Aparecido Ferreira, o MC Fioti, compôs em 2017 a música Bum bum tam tam, que gerou, em nove meses, 480 milhões de visualizações do YouTube. É o funk brasileiro mais ouvido na história do site.
A partir de uma gravação da flauta que achou na internet, MC Fioti fez tudo sozinho: compôs, cantou e produziu em uma noite só. "Comecei a pesquisar alguns tipos de flauta, coisas antigas. E nisso eu achei a 'flautinha do Sebastian Bach'", conta. A descoberta foi por acaso: Fioti não sabia quem era o músico alemão e não sabe tocar o instrumento.
A "flauta envolvente" da música é um trecho da Partita em Lá menor, escrita pelo alemão Johann Sebastian Bach por volta de 1723.
Disponível em: https://g1.globo.com. Acesso em: 6 jun. 2018 (adaptado).
A incorporação de um trecho da obra para flauta solo de Johann Sebastian Bach na música de MC Fiotti demonstra a
influência permanente na cultura eurocêntrica nas produções musicais brasileiras.
homenagem aos referenciais estéticos que deram origem às produções da música popular.
necessidade de divulgar a música de concerto nos meios populares nas periferias das grandes cidades.
utilização desintecional de uma música excessivamente distante da realidade cultural dos jovens brasileiros.
inter-relação de elementos culturais vindos de realidades distintas na construção de uma nova proposta musical.
Gabarito:
inter-relação de elementos culturais vindos de realidades distintas na construção de uma nova proposta musical.
A) INCORRETA: pois a música do MC Fioti demonstra exatamente o oposto, isto é, que prevalece a cultura brasileira em detrimento da europeia.
B) INCORRETA: pois o trecho da flauta solo de Johann Sebastian Bach não é uma forma de homenager a origem estética da cultura popular brasileira, até porque essa origem é diferente. Mas sim, trata-se de uma forma de unir o popular ao clássico.
C) INCORRETA: o cantor e compositor de funk não colocou o trecho da flauta para divulgar música de concerto nas regiões mais populares e periféricas da sociedade, até porque nessas áreas já está consolidado o funk como música cultural.
D) INCORRETA: há um erro quando a alternativa aponta que o uso da melodia foi "desintencional", porque o compositor MC Fioti confessa que procurou, intencionalmente, melodias de flauta para compor sua próxima música e, da mesma forma, escolheu especificamente essa melodia para seu funk, mesmo sem conhecer o autor nem saber manusear a flauta. outro grande problema dessa alternativa é o uso da palavra "excessivamente", porque isso abre margem de que se pense que os jovens brasileiros não teriam acesso a esse tipo de música pelo fato de ser distante da sua cultura, o que é inverídico.
E) CORRETA: A proposta de “Bum bum tam tam” é a de mistura de linguagens advindas de meios culturais muito diferentes: a música erudita europeia do século XVIII e as linguagens da favela brasileira contemporânea, que constituem uma inovação no plano musical, com novas e inusitadas sonoridades. A utilização da música distante não é desintencional, pois era o que Mc Fioti buscava, apesar de desconhecer Bach.
(ENEM - 2015)
Exmº Sr. Governador:
Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928.
[...]
ADMINISTRAÇÃO
Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha - um telegrama; porque se deitou pedra na rua - um telegrama; porque o deputado F. esticou a canela - um telegrama.
Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
GRACILlANO RAMOS
RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962.
O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor
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(ENEM - 2015)
Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.
POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.
Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela
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Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.
BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que
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(ENEM - 2015)
Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançado em redor olhares complacentes, lamentando os que não faziam parte do nosso clã. [...]
Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. [...]
É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?
TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Representante da ficção contemporânea, a prosa de Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)
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