Questão 43914

(ENEM - 2019 - PROVA AMARELA)

TEXTO 1


Fotografia de Jackson Pollock pintando em seu ateliê, realizada por Hans Namuth em 1951.

CHIPP, H. Teorias da arte moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

TEXTO 2

MUNIZ, V. Action Photo (segundo Hans Namuth em Pictures in Chocolate). Impressão fotográfica, 152,4 cm x 121,92 cm, The Museum of Modern Art, Nova Iorque, 1977.

NEVES, A. História da arte 4. Vitória: Ufes - Nead, 2011.

Utilizando chocolate derretido como matéria-prima, essa obra de Vik Muniz, reproduz a célebre fotografia do processo de criação de Jackson Pollock. A originalidade dessa releitura reside na

A

apropriação parodística das técnicas e materiais utilizados.

B

reflexão acerca dos sistemas de circulação da arte.

C

simplificação dos traços da composição pictórica.

D

contraposição de linguagens artísticas distintas.

E

crítica do advento do abstracionismo.

Gabarito:

apropriação parodística das técnicas e materiais utilizados.



Resolução:

A) CORRETA: “A paródia é a criação de um texto a partir de um bastante conhecido, ou seja, com base em um texto consagrado alguém utiliza sua forma e rima para criar um novo texto cômico, irônico, humorístico, zombeteiro ou contestador, dando um novo sentido ao texto.” Utilizando chocolate derretido como matéria-prima, a obra de Vik Muniz, reproduz a fotografia do processo de criação de Jackson Pollock. A originalidade dessa releitura reside, portanto, na apropriação, em forma de paródia, das técnicas e materiais utilizados.

B) INCORRETA: não está sendo refletido sobre os sistemas de circulação de arte, até porque foram utilizados dois meios indênticos de se veicular a arte, mas observa-se diferentes materiais para compo-la.

C) INCORRETA: uma vez que os traços não foram simplificados por Vik Muniz, eles foram reproduzidos da maneira mais fiel possível considerando o material utilizado pelo artista (chocolate). Perceba que Pollock, seu estúdio e até as linhas feitas com tinta por ele são reproduzidas quase que perfeitamente por Vik Muniz, por isso está incorreto dizer que houve uma simplificação dos traços da fotografia.

D) INCORRETA: o problema está na palavra "contraposição". Não existe um interesse em contraste, oposição, afastamento, mas sim na confluência das linguagens, que geram - de modos distintos - um objeto final semelhante. Vik Muniz aproxima, alinha seu processo criativo, de lançar chocolate derretido à tela, ao de Pollock, que fazia o mesmo com a tinta. Não há intenção de contraposição. 

E) INCORRETA: não podemos dizer que há uma crítica ao abstracionismo, até porque a arte representada por Muniz também faz referência à arte abstrata, mas o que está sendo debatido é sobre os recursos e materiais utilizados para compor as obras de arte.



Questão 1778

(ENEM - 2015)

Exmº Sr. Governador:

Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928.
[...]

ADMINISTRAÇÃO
Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha - um telegrama; porque se deitou pedra na rua - um telegrama; porque o deputado F. esticou a canela - um telegrama.

Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
GRACILlANO RAMOS

RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962.

O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor

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Questão 1781

(ENEM - 2015)

Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti.

Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.

Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.

O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.

POMPEIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.

Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela

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Questão 1782

Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.

BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

 

A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que

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Questão 1783

(ENEM - 2015)

Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançado em redor olhares complacentes, lamentando os que não faziam parte do nosso clã. [...]

Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. [...]

É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?

TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Representante da ficção contemporânea, a prosa de Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)

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