FUVEST 2016

Questão 3023

Para responder à(s) questão(ões) a seguir, considere o texto abaixo, linhas iniciais do conto “Atualidades francesas”.

 

No meio da noite é acordado bruscamente. É o pai que, apavorado, o sacode violentamente.

− Prenderam o Tiago, Leo! Você tem de fugir.

Atarantado, senta na cama e começa a explicar: Tiago é militante, ele não; só tomou parte em manifestações estudantis, coisas inócuas; o pai, porém, não quer saber de nada; já telefonou a um amigo, já falou com o advogado, já decidiu: o filho tem de sair do país. Imediatamente. Leo não discute. Arruma depressa suas coisas. De madrugada embarca no Colossus, com destino à França. Em Paris, aloja-se num precário hotel do Quartier Latin. Espera voltar breve, tão logo se desfaçam os temores e as apreensões. Mas não voltará breve. Seis anos se passarão; o pai morrerá e logo depois a mãe; sem parentes, sem amigos, ele já não terá motivos para retornar.

 

(SCLIAR, Moacyr. Contos reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 50)

 

(Puccamp 2016)  É adequado o seguinte comentário sobre o que se tem no trecho transcrito:

 

Ver questão

Questão 3024

João Gilberto Noll nasceu em Porto Alegre, no ano de 1946. Além de contista e romancista, fez incursões pela literatura infantil. Ganhou cinco prêmios Jaboti. João Gilberto Noll faz uma literatura caracterizada pela dissolução. Seus romances são concisos e apresentam enredos episódicos sustentados pela causalidade. Essa técnica difere da técnica narrativa que estabelece o elo entre o real e o ficcional. Os personagens de Noll são seres não localizados e alijados da experiência; muito embora lançados numa sucessão frenética de acontecimentos e passando por um sem número de lugares, o que vivem não se converte em saber, em consciência de ser e de estar no mundo.

 

Duelo antes da noite

 

1No caminho a menina pegou uma pedra e atirou-a longe, o mais que pôde. 2O menino puxava a sua mão e reclamava da vagareza da menina. 3Deviam chegar até a baixa noite a Encantado, e o menino sabia que ele era responsável pela menina e deveria manter uma disciplina. Que garota chata, ele pensou. Se eu fosse Deus, não teria criado as garotas, seria tudo homem igual a Deus. 4A menina sentia-se puxada, reclamada, e por isso emitia uns sons de ódio: graças a Deus que eu não preciso dormir no mesmo quarto que você, graças a Deus que eu não vou morar nunca mais com você. Vamos e não resmunga, exclamou o menino. 5E o sol já não estava sumindo? Isso nenhum dos dois perguntava porque estavam absortos na raiva de cada um. A estrada era de terra e por ela poucos passavam. Nem o menino nem a menina notavam que o sol começava a se pôr e que os verdes dos matos se enchiam cada vez mais de sombras. Quando chegassem a Encantado o menino poria ela no Opala do prefeito e ela nunca mais apareceria. Ele não gosta de mim, pensou a menina cheia de gana. Ele deve estar pensando: o mundo deveria ser feito só de homens, as meninas são umas chatas. 6O menino cuspiu na areia seca. A menina pisou sobre a saliva dele e fez assim com o pé para apagar cuspe.

7Até que ficou evidente a noite. 8E o menino disse a gente não vai parar até chegar em Encantado, 9agora eu proíbo que você olhe pros lados, que se atrase. 10A menina não queria chorar e prendia-se por dentro porque deixar arrebentar uma lágrima numa hora dessas é mostrar muita fraqueza, é mostrar-se muito menina. E na curva da estrada começaram a aparecer muitos caminhões apinhados de soldados e a menina não se conteve de curiosidade. 11Para onde vão esses soldados? – ela balbuciou. 12O menino respondeu ríspido. Agora é hora apenas de caminhar, de não fazer perguntas, caminha! A menina pensou eu vou parar, fingir que torci o pé, eu vou parar. E parou. O menino sacudiu-a pelos ombros até deixá-la numa vertigem escura. Depois que a sua visão voltou a adquirir o lugar de tudo, ela explodiu chamando-o de covarde. Os soldados continuavam a passar em caminhões paquidérmicos. E ela não chorava, apenas um único soluço seco. 13O menino gritou então que ela era uma chata, que ele a deixaria sozinha na estrada que estava de saco cheio de cuidar de um traste igual a ela, que se ela não soubesse o que significa traste, que pode ter certeza que é um negócio muito ruim. A menina fez uma careta e tremeu de fúria. Você é o culpado de tudo isso, a menina gritou. Você é o único culpado de tudo isso. Os soldados continuavam a passar.

Começou a cair o frio e a menina tiritou balançando os cabelos molhados, mas o menino dizia se você parar eu te deixo na beira da estrada, no meio do caminho, você não é nada minha, não é minha irmã, não é minha vizinha, não é nada.

E Encantado era ainda a alguns lerdos quilômetros. A menina sentiu que seria bom se o encantado chegasse logo para se ver livre do menino. Entraria no Opala e não olharia uma única vez pra trás para se despedir daquele chato.

Encantado apareceu e tudo foi como o combinado. Doze e meia da noite e o Opala esperava a menina parado na frente da igreja. Os dois se aproximaram do Opala tão devagarinho que nem pareciam crianças. O motorista bigodudo abriu a porta traseira e falou: pode entrar, senhorita. Senhorita... o menino repetia para ele mesmo. A menina se sentou no banco traseiro. Quando o carro começou a andar, ela falou bem baixinho: eu acho que vou virar a cabeça e olhar pra ele com uma cara de nojo, vou sim, vou olhar. E olhou. Mas o menino sorria. E a menina não resistiu e sorriu também. E os dois sentiram o mesmo nó no peito.

 

NOLL, João Gilberto. In: Romances e contos reunidos.

São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 690-692. (Texto adaptado).

 

 

Segundo Massaud Moisés, o conto é, do ponto de vista dramático, univalente: contém um só drama, uma só história, um só conflito (oposição, luta entre duas forças ou personagens), uma só ação. As outras características (limitação do espaço e do tempo; quantidade reduzida de personagens; unidade de tom ou de emoção provocada no leitor, concisão de linguagem) decorrem da unidade dramática.

 

Com base nessas informações, resolva a(s) questão(ões) a seguir.

 

 (Uece 2016) Como sabemos pela lição de Massaud Moisés, o conto deve desenvolver um único conflito, entendendo-se por conflito a oposição ou a luta entre duas forças e/ou personagens.

 

Sobre “Duelo antes da noite”, é correto dizer que o conflito se dá entre

 

Ver questão

Questão 3025

(Uece 2016)  Reflita sobre o primeiro enunciado do texto:

 

“No caminho a menina pegou uma pedra e atirou-a longe, o mais que pôde” (ref. 1). Atente ao que se diz sobre as possibilidades de leitura desse excerto autorizadas pelo texto. (Não esqueça que o trecho, por ser extraído de uma obra literária, pode abrir-se para mais de uma leitura.)

 

I. Nível concreto de leitura: Uma criança (no caso, uma menina) apanhou um cascalho provavelmente da estrada e esforçou-se para atirá-lo o mais longe possível.

II. Nível abstrato de leitura (i): O ato de atirar a pedra o mais longe possível metaforiza o desejo da menina de estar longe do menino ou reagir às suas atitudes contra ela.

III. Nível abstrato de leitura (ii): A pedra jogada pela menina representa o cansaço de muito andar por uma estrada difícil sem nunca chegar ao destino almejado.

 

Está correto o que se diz apenas em

 

Ver questão

Questão 3045

(Upf 2016)

 

 

Analise as afirmações a seguir e assinale com V as verdadeiras e com F as falsas.

( ) O emprego do tempo verbal presente, como em ―levam (ref. 3), ―debatem (ref. 4) e ―possuem (ref. 6), é característico do mundo comentado, típico de textos argumentativos.

( ) As ocorrências de expressões em língua inglesa no texto caracterizam-se como estrangeirismos e revelam uma característica cada vez mais frequente na linguagem escrita da contemporaneidade.

( ) As formas nominais ―a atividade (ref. 2) e ―ao evento (ref. 5) constituem-se em um recurso de coesão que, além de retomar o referente ―Serenata Iluminada (ref. 1), contribui para a progressão textual.

( ) O emprego de aspas em ―heróis e ―vilões (ref. 15) revela um ponto de vista que se coaduna com o ponto de vista do policial referido no texto.

( ) O emprego da primeira pessoa do plural no texto, como em ―possuímos (ref. 17) e ―estivéssemos (ref. 20), constrói um efeito de proximidade entre o mundo narrado e o mundo comentado.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:

Ver questão

Questão 3104

(UNICAMP - 2016 - 1ª FASE)

"If you believe in freedom of speech, you believe in freedom of speech for views you don't like. Goebbels was in favor of freedom of speech for views he liked. So was Stalin. If you're in favor of freedom of speech, that means you're in favor of freedom of speech precisely for views you despise.

(Noam Chomsky)

Fonte: http://noam-chomsky.tumblr.com/post/7223808896/if-you-believe-in-freedom-of-speech-you-believe.

O autor do texto 

Ver questão

Questão 3105

(UNICAMP - 2016 - 1ª FASE)

We’ve modified our behavior so we can text and walk

Texting – or checking social media or reading/responding to mail or reading the news or checking the weather or watching a video – while walking is a pretty common phenomenon. It’s so common that most people who own a mobile device have become texting walkers. Research suggests that these texters adopt protective measures to minimize the risk of accidents when walking. They’re less likely to trip because they shorten their step length, reduce step frequency, lengthen the time during which both feet are in contact with the ground, and increase obstacle clearance height. Taken together this creates an exaggerated image of walking, but it apparently slows the walker enough so that he registers some of what is happening around him and can compensate for it. 

Adaptado de http://blogs.scientificamerican.com/anthropology-inpractice/we-ve-modified-our-behavior-so-we-can-text-and-walk/.

Segundo o texto, "Texting walkers" são pessoas que

Ver questão

Questão 3106

(UNICAMP - 2016 - 1ª FASE)

We’ve modified our behavior so we can text and walk

Texting – or checking social media or reading/responding to mail or reading the news or checking the weather or watching a video – while walking is a pretty common phenomenon. It’s so common that most people who own a mobile device have become texting walkers. Research suggests that these texters adopt protective measures to minimize the risk of accidents when walking. They’re less likely to trip because they shorten their step length, reduce step frequency, lengthen the time during which both feet are in contact with the ground, and increase obstacle clearance height. Taken together this creates an exaggerated image of walking, but it apparently slows the walker enough so that he registers some of what is happening around him and can compensate for it. 

Adaptado de http://blogs.scientificamerican.com/anthropology-inpractice/we-ve-modified-our-behavior-so-we-can-text-and-walk/.

Que mudanças no comportamento dessas pessoas são decorrentes da adaptação à tecnologia apresentada no texto?

Ver questão

Questão 3125

(UNIFESP - 2016)

“They don’t see us as a powerful economic force, which is an incredible ignorance.” – Salma Hayek, actor, denouncing sexism in Hollywood at the Cannes Film Festival; until recently, she added, studio heads believed women were interested only in seeing romantic comedies.

(Time, 01.06.2015)

O termo “they” refere-se a

Ver questão

Questão 3184

(UNESP - 2016 - 1ª fase)

Genetically modified foods

Genetically modified (GM) foods are foods derived from organisms whose genetic material (DNA) has been modified in a way that does not occur naturally, e.g. through the introduction of a gene from a different organism. Currently available GM foods stem mostly from plants, but in the future foods derived from GM microorganisms or GM animals are likely to be introduced on the market. Most existing genetically modified crops have been developed to improve yield, through the introduction of resistance to plant diseases or of increased tolerance of herbicides.
In the future, genetic modification could be aimed at altering the nutrient content of food, reducing its allergenic potential, or improving the efficiency of food production systems. All GM foods should be assessed before being allowed on the market. FAO/WHO Codex guidelines exist for risk analysis of GM food.

(www.who.int)

 

No trecho do segundo parágrafo “All GM foods should be assessed before being allowed on the market.”, o termo em destaque pode ser corretamente substituído, sem alteração de sentido, por:

Ver questão

Questão 3250

(PUC Camp - 2016)

O tempo e suas medidas

1O homem vive dentro do tempo, o tempo que ele preenche, mede, avalia, ama e teme. Para marcar a passagem e as medidas do tempo, inventou o relógio. A palavra vem do latim horologium, e 2se refere a um quadrante do céu que os antigos aprenderam a observar para se orientarem no tempo e no espaço. 3Os artefatos construídos para medir a passagem do tempo sofreram ao longo dos séculos uma grande evolução. No início 4o Sol era a referência natural para a separação entre o dia e a noite, mas depois os relógios solares foram seguidos de outros que vieram a utilizar o escoamento de líquidos, de areia, ou a queima de fluidos, até chegar aos dispositivos mecânicos que originaram as pêndulas. 5Com a eletrônica, surgiram os relógios de quartzo e de césio, aposentando os chamados “relógios de corda”. O mostrador digital que está no seu pulso ou no seu celular tem muita história: tudo teria começado com a haste vertical ao sol, que projetava sua sombra num plano horizontal demarcado. 6A ampulheta e a clepsidra são as simpáticas bisavós das atuais engenhocas eletrônicas, e até hoje intrigam e divertem crianças de todas as idades.

7Mas a evolução dos maquinismos humanos 8que dividem e medem as horas não suprimiu nem diminuiu a preocupação dos homens com o Tempo, 9essa entidade implacável, sempre a lembrar a condição da nossa mortalidade. Na mitologia grega, o deus Chronos era o senhor do tempo que se podia medir, por isso chamado “cronológico”, 10a fluir incessantemente. No entanto, 11a memória e a imaginação humanas criam tempos outros: uma autobiografia recupera o passado, a ficção científica pretende vislumbrar o futuro. No Brasil, muito da força de um 12José Lins do Rego, de um Manuel Bandeira ou de um Pedro Nava vem do memorialismo artisticamente trabalhado. A própria história nacional 13sofre os efeitos de uma intervenção no passado: escritores românticos, logo depois da Independência, sentiram necessidade de emprestar ao país um passado glorioso, e recorreram às idealizações do Indianismo.

No cinema, uma das homenagens mais bonitas ao tempo passado é a do filme Amarcord (“eu me recordo”, em dialeto italiano), do cineasta Federico Fellini. São lembranças pessoais de uma época dura, quando o fascismo crescia e dominava a Itália. Já um tempo futuro terrivelmente sombrio é projetado no filme “Blade Runner, o caçador de androides”, do diretor Ridley Scott, no cenário futurista de uma metrópole caótica.

Se o relógio da História marca tempos sinistros, o tempo construído pela arte abre-se para a poesia: o tempo do sonho e da fantasia arrebatou multidões no filme O mágico de Oz estrelado por Judy Garland e eternizado pelo tema da canção Além do arco-íris. Aliás, a arte da música é, sempre, uma habitação especial do tempo: as notas combinam-se, ritmam e produzem melodias, adensando as horas com seu envolvimento.

São diferentes as qualidades do tempo e as circunstâncias de seus respectivos relógios: há o “relógio biológico”, que regula o ritmo do nosso corpo; há o “relógio de ponto”, que controla a presença do trabalhador numa empresa; e há a necessidade de “acertar os relógios”, para combinar uma ação em grupo; há o desafio de “correr contra o relógio”, obrigando-nos à pressa; e há quem “seja como um relógio”, quando extremamente pontual.

14Por vezes barateamos o sentido do tempo, 15tornando-o uma espécie de vazio a preencher: é quando fazemos algo para “passar o tempo”, e apelamos para um jogo, uma brincadeira, um “passatempo” como as palavras cruzadas. Em compensação, nas horas de grande expectativa, queixamo-nos de que “o tempo não passa”. “Tempo é dinheiro” é o lema dos capitalistas e investidores e dos operadores da Bolsa; e é uma obsessão para os atletas olímpicos em busca de recordes.

Nos relógios primitivos, nos cronômetros sofisticados, nos sinos das velhas igrejas, no pulsar do coração e da pressão das artérias, a expressão do tempo se confunde com a evidência mesma do que é vivo. No tic-tac da pêndula de um relógio de sala, na casa da avó, os netinhos ouvem inconscientemente o tempo passar. O Big Ben londrino marcou horas terríveis sob o bombardeio nazista. Na passagem de um ano para outro, contamos os últimos dez segundos cantando e festejando, na esperança de um novo tempo, de um ano melhor.

(Péricles Alcântara, inédito)

 

A parte sublinhada em tudo teria começado com a haste vertical ao sol, conforme aparece no texto principal, é traduzida por: 

Ver questão