Questão 11906

(FUVEST - 2014)

Revelação do subúrbio

Quando vou para Minas, gosto de ficar de pé, contra a vidraça do carro*,
vendo o subúrbio passar.
O subúrbio todo se condensa para ser visto depressa,
com medo de não repararmos suficientemente
em suas luzes que mal têm tempo de brilhar.
A noite come o subúrbio e logo o devolve,
ele reage, luta, se esforça,
até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais
e à noite só existe a tristeza do Brasil.

Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo, 1940.

(*) carro: vagão ferroviário para passageiros.

No poema de Drummond, a presença dos motivos da velocidade, da mecanização, da eletricidade e da metrópole configura-se como

A

uma adesão do poeta ao mito do progresso, que atravessa as letras e as artes desde o surgimento da modernidade.

B

manifestação do entusiasmo do poeta moderno pela industrialização por que, na época, passava o Brasil.

C

marca da influência da estética futurista da Antropofagia na literatura brasileira do período posterior a 1940.

D

uma incorporação, sob nova inflexão política e ideológica, de temas característicos das vanguardas que influenciaram o Modernismo antecedente.

E

uma crítica do poeta pós-modernista às alterações causadas, na percepção humana, pelo avanço indiscriminado da técnica na vida cotidiana.

Gabarito:

uma incorporação, sob nova inflexão política e ideológica, de temas característicos das vanguardas que influenciaram o Modernismo antecedente.



Resolução:

A obra "Sentimento do Mundo" apresenta a ausência do espírito e o trabalho modernista a qual ele teve no início de sua carreira poética, e que com esse texto de referência, assume um caráter retórico. Ainda assim, não abandona ingredientes da fase precedente, como a referência a elementos do progresso, da técnica e da modernidade (o trem e a sua velocidade, a descrição da realidade urbana). Os elementos ligados ao progresso, no entanto, são criticamente reestetizados e - escapando às vanguardas de viés positivista do início do século - lidas sob uma ótica mais humana e social. O trem, as luzes e a cidades são refletidos no poeta como fatores determinados pelo sentimento e pela presença humana. Tendo isso em vista, percebe-se que:

A) INCORRETA: uma vez que "o mito do progresso" não era um objetivo da poesia drumondiana, porque é possível ver que o eu lírico traz à tona a temática da modernidade (o carro, a velocidade, etc.), mas numa perspectiva humanizadora (o vento que o eu lírico sente, o sentimento de ver o subúrbio passar, etc.)

B) INCORRETA: não há um entusiasmo do eu lírico quanto às questões da modernidade, pois isso só seria perceptível se, junto com a descrição das novas tecnologias, o eu lírico colocasse uma alegria além do comum para se referir a essas tenologias. Os sentimentos bons que o eu lírico elenca são relativos à natureza e às sensações que o eu lírico desfruta.

C) INCORRETA: a estética futurista tem uma particularidade a respeito da alta glorificação da tecnologia, saudando com entusiasmo as novas transformações. Diferente disso, o eu lírico elenca as novas tecnologias, mas possui uma predileção pelo que é tradicional e velho (o subúrbio, campo de laranjeiras, etc.).

D) CORRETA: o autor realmente traz situações que eram tendências na época do pré-modernismo, mas trazendo o novo para elaborar questões de "que 'coisa' é o ser humano?", as suas criações, o seu desenvolvimento e suas tendências políticas e ideológicas.

E) INCORRETA: não há teor crítico aos avanços da modernidade neste poema, mas, pelo contrário, o avanço tecnológico foi incorporado pelo eu lírico para que ele expusesse ou seu sentimento em relação ao homem, ao passado, à sua terra e às questões do avanço e da velocidade humana.



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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