Questão 11907

(FUVEST 2014)

Revelação do subúrbio

Quando vou para Minas, gosto de ficar de pé, contra a vidraça do carro*,
vendo o subúrbio passar.
O subúrbio todo se condensa para ser visto depressa,
com medo de não repararmos suficientemente
em suas luzes que mal têm tempo de brilhar.
A noite come o subúrbio e logo o devolve,
ele reage, luta, se esforça,
até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais
e à noite só existe a tristeza do Brasil.

Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo, 1940.

(*) carro: vagão ferroviário para passageiros.

Segundo o crítico e historiador da literatura Antonio Candido de Mello e Souza, justamente na década que presumivelmente corresponde ao período de elaboração do livro a que pertence o poema, o modo de se conceber o Brasil havia sofrido “alteração marcada de perspectivas”. A leitura do poema de Drummond permite concluir corretamente que, nele, o Brasil não mais era visto como país

A

agrícola (fornecedor de matéria-prima), mas como industrial (produtor de manufaturados).

B

arcaico (retardatário social e economicamente) mas, sim, percebido como moderno (equiparado aos países mais avançados).

C

provinciano (caipira, localista) mas, sim, cosmopolita (aberto aos intercâmbios globais).

D

novo (em potência, por realizar-se), mas como subdesenvolvido (marcado por pobreza e atrofia).

E

rural (sobretudo camponês), mas como suburbano (ainda desprovido de processos de urbanização).

Gabarito:

novo (em potência, por realizar-se), mas como subdesenvolvido (marcado por pobreza e atrofia).



Resolução:

a) Alternativa incorreta. Não há uma exaltação do progresso industrial brasileiro nos versos de Drummond, corroborando com o viés mais crítico ao progresso desumano revelado em Sentimento do mundo.

b) Alternativa incorreta. Há uma percepção de avanço técnico e urbano no Brasil, mas a referência a elementos "degradados" da paisagem humana do país impedem sua equiparação aos países "mais desenvolvidos", que foram, inclusive, veementemente criticados pelo poeta nessa fase.

c) Alternativa incorreta. Os versos de Drummond levam, no contexto dessa obra, à percepção da impossibilidade de um progresso verdadeiro. Ainda há traços provincianos no Brasil "emergente", e a questão dos intercâmbios não é tematizada nesse caso.

d) Alternativa correta. A literatura brasileira, com o abandono do positivismo oitocentista e sob a égide crítica da escrita modernista passa a apontar as contradições, e não os avanços da nação brasileira que, apesar de aparenetemente renovada, revela constantemente suas mazelas. Essa é uma temática marcante em Sentimento de mundo, e portanto a afirmativa está correta.

e) Alternativa incorreta. A poesia drummondiana, nessa fase, coloca-se já diante das mazelas do processo de urbanização, entre as quais a formação dos subúrbios, como é tematizado nos versos. Não é, portanto, um país desprovido de urbanização, e sim atingido socialmente por uma nova realidade.



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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