Questão 2588

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai e
é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1 lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Apesar das diferenças notáveis que existem entre estas obras, um aspecto comum ao texto de Capitães da Areia, considerado no contexto do livro, e Vidas secas, de Graciliano Ramos, é

A

a consideração conjunta e integrada de questões culturais e conflitos de classe.

B

a reprodução fiel da variante oral-popular da linguagem, como recurso principal na caracterização das personagens.

C

o engajamento nas correntes literárias nacionalistas, que rejeitavam a opção por temas regionais.

D

o emprego do discurso doutrinário, de caráter panfletário e didatizante, próprio do “realismo socialista”

E

o tratamento enfático e conjugado da mestiçagem racial e da desigualdade social.

Gabarito:

a consideração conjunta e integrada de questões culturais e conflitos de classe.



Resolução:

a) Alternativa correta. Os dois romances abordam questões culturais, vistas nas dificuldades no domínio da linguagem e do raciocínio mais elaborado, que privam radicalmente as personagens de Vidas Secas do convívio social pleno e digno. Em Capitães da Areia, as questões culturais são observadas na repressão que o Estado faz em relação aos terreiros de candomblé. Além disso, os conflitos de classes e as desigualdades sociais são temas bastante presentes em ambas obras.

b) Alternativa incorreta. Como é de se notar pelo fragmento acima, o contexto social, por meio do conflito de classes é perceptível em algumas partes como: "Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas?" sendo equiparado com o embate que Fabiano estabelece em "Vidas Secas" com os que ele chama de ricos (o dono da fazenda, o fiscal da prefeitura). Além disso, os dois romances abordam questões culturais, vistas nas dificuldades no domínio da linguagem e do raciocínio mais elaborado, que aliviam radicalmente as personagens de "Vidas Secas" do convívio social pleno e digno.

c) Alternativa incorreta. Tanto a obra "Vidas Secas" quanto "Capitães de areia" poss uem uma temática regionalista e que valoriza as questões nacionais.

d) Alternativa incorreta. Em nenhuma dessas obras literárias se percebe a presença de um discurso doutrinário a qual defende um possível "realismo socialista".

e) Alternativa incorreta. A questão da mestiçagem racial não é o ponto central presente nessas obras, por mais que seja, em algum nível, perceptível.



Questão 1779

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

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Questão 1780

(FUVEST - 2016 - 1ª FASE)

Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

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Questão 1794

(Fuvest 2016)

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:

Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...

Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:

Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...

E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

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Questão 1804

(Fuvest 2012)

Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo. 

Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra:

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